Penúltimo dia do Tour da Tocha Olímpica em Minas prevê passeio de Maria Fumaça

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O Tour da Tocha Olímpica em Minas Gerais entra em sua reta final. Depois de visitar a capital mineira, o revezamento vai percorrer as cidades históricas de São João del-Rei e Tiradentes. De acordo com a programação, o percurso entre os municípios vai ser feito de Maria Fumaça. De Tiradentes a viagem segue por Barbacena, conhecida como a terra das flores, e termina em Juiz de Fora, um dos principais polos econômicos e esportivos de Minas Gerais.

Viagem no tempo

A vocação turística das cidades coloniais do Campo das Vertentes beira o auge. Investimentos proporcionam mais estrutura, conservação e segurança para o roteiro turístico local, com a revitalização de calçamentos e restauração de monumentos, por exemplo.

Tiradentes está, desde o ano passado, entre as duas únicas cidades brasileiras que liberam, durante finais de semana e feriados, suas ruas de pedra para a contemplação exclusiva de pedestres. O fechamento do trânsito no centro histórico elimina a poluição visual da modernidade, abrindo alas para a apreciação do barroco mineiro.

Entre sinos e vielas

As badaladas e os tradicionais mestres sineiros fazem de São João del-Rei a terra onde os sinos falam, uma herança dos tempos coloniais. A tradicional Batalha dos Sinos, que acontece durante o período da Quaresma, atrai centenas de fiéis e visitantes todos os anos. A Igreja Nossa Senhora do Carmo e a de São Francisco de Assis são as donas dos toques mais fortes.

As ruas estreitas e sinuosas do centro histórico estão repletas de casas tortas. Entre elas, está o Solar da Baronesa de Itaverava, um sobrado do século XIX tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O caminho pelo patrimônio das Vertentes prossegue a bordo da centenária Maria Fumaça. Saindo da estação inaugurada em 1800, um trajeto de 12 quilômetros, com privilegiadas paisagens da Serra de São José, tem seu ponto final em Tiradentes.

A loucura em meio à arte

Por lá, as escadarias da Igreja Matriz de Santo Antônio, o interior rococó da Capela de Nossa Senhora das Mercês e o brasão e imagem de São José de Botas do Chafariz impressionam. O mais novo museu da cidade, o Museu de Sant’Ana, é parada obrigatória. Com um excelente nível de conservação, entre as incríveis 300 esculturas dos séculos XVII e XIX, está exposta a cabeça de Cristo atribuída a Aleijadinho.

O chafariz A Leda e o Cisne é uma das mais antigas obras de Barbacena. Datado de 1887, é feito em mármore de Carrara e faz referência à antiga lenda de mesmo nome. O patrimônio da cidade está ainda na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade, a padroeira de Minas Gerais, e entre as porteiras das fazendas históricas. Outra referência na cidade são os tabus da loucura. Conhecido pelo duro tratamento aplicado aos internos entre as décadas de 1950 e 1990, o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB) é hoje o Museu da Loucura.

O típico e o contemporâneo

Nem só de história vive o Campo das Vertentes. O mesmo percurso reúne a vanguarda das artes e da cozinha. A região soube aproveitar a tradição da culinária mineira – que tem sua origem na mistura de ingredientes das culturas dos índios, negros e portugueses – e tornou-se um verdadeiro point gastronômico, com ótimos restaurantes típicos e contemporâneos.

No Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes, que reúne cerca de 40 mil pessoas, tira-gostos são preparados por grandes chefs de cozinha. Na estrada que liga Congonhas a Tiradentes as referências são as carnes suínas e as diversas formas de preparo, como a carne de lata e o lombo com tutu e couve. Para adoçar o paladar, não podem ficar de fora os famosos rocamboles de Lagoa Dourada.

Um povo que respira arte

Consolidada como uma das maiores plataformas de lançamento do cinema brasileiro independente, a Mostra de Cinema de Tiradentes inaugura o calendário audiovisual brasileiro, apresentando ao público pré-estreias mundiais e nacionais. As praças se tornam agradáveis salas de cinema ao ar livre.

A fotografia também é tema de festival, atraindo para a cidade histórica artistas e curadores a fim de discutir a expressão desta arte. Trabalhos autorais são expostos em projeções noturnas e atividades educativas. A extensa vitrine de festivais não para por aí e exibe ainda a Mostra Tiradentes em Cena. A produção teatral brasileira move o evento em uma combinação da diversidade das artes cênicas e a apropriação dos espaços públicos.

Mãos talentosas

O artesanato, claro, também marca presença. Em Bichinho – distrito de Tiradentes – Lagoa Dourada e Prados (ali viveu Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, considerada a mulher mais atuante no movimento da Inconfidência Mineira) artesãos usam palha, linhagem, folhas de bananeira e madeira para dar vida a interessantes peças rústicas.

Ao entrar em Resende Costa, o visitante depara-se com o bonito colorido do artesanato têxtil nas janelas das casas e nas portas do comércio. A cidade transpira as técnicas de trabalho no tear trazidas pelos portugueses. Em Santa Cruz de Minas, os destaques são os móveis em estilo colonial e objetos artesanais para decoração em ferro forjado, cerâmica e fibra de taboa.

A Feira Mineira de Artesanato cria, em São João del-Rei, um excelente ambiente para troca de experiências comerciais e culturais entre os mais de 300 produtores locais. A cidade recebe ainda o Inverno Cultural da UFSJ com uma programação na área da música e artes integradas.

Polo de formação artística

Os artistas procuram o charme da região não apenas para mostrar os seus trabalhos, mas em busca de inspiração e formação artística. A Universidade de Música Popular Bituca e a recém-inaugurada Estação Ponto de Partida, ambas em Barbacena, são referências do ensino integral pela construção coletiva.

A universidade leva o apelido do seu padrinho, o músico Milton Nascimento. Em uma década de atividades contínuas já recebeu inscrições de 136 cidades, de 10 estados e quatro países. As paredes da segunda mais antiga fábrica de seda do país, atualmente testemunham o aprendizado musical de jovens. A mesma fábrica é sede do grupo de teatro Ponto de Partida.

Festejos populares

O mastro é fincado em São João del-Rei oito dias antes do início do Encontro Congadeiro nas Vertentes. O povo é chamado para desfilar na festa popular, ao som do Tamborim de Capitão de Congado, com suas cores vistosas, paramentos brilhantes e fitas coloridas.

As crenças populares também encontram seu berço no distrito Rio das Mortes. Nasceu por lá Nhá Chica, a primeira beata mineira, que dedicou a vida aos valores cristãos e à caridade.

A originalidade da cultura de matriz de Barbacena tem suas manifestações vivenciadas pela Comunidade Quilombola dos Candendês, que resgatam ritmos africanos, e pela Comunidade Remanescente de Índios Puris, no distrito de Padre Brito.

Encantos da Estrada Real

Entre São João del-Rei e Tiradentes, labirintos entre cavernas e amplas galerias trazem mistério e mística para a Gruta Casa da Pedra. Cercada pelas abundantes cachoeiras da Serra do Lenheiro, ela já foi visitada até mesmo pelo imperador Dom Pedro II.

Partindo de Tiradentes é possível também fazer a trilha para a Serra de São José, passando pela bela Cachoeira do Carteiro. O roteiro de ecoturismo desta envolvente região é conhecido como o Caminho Velho – entre Ouro Preto e Paraty (RJ) – da Estrada Real, a maior rota turística do país, que conta com 1.630 quilômetros de extensão.

Barbacena, a cidade das rosas, é um refúgio repleto de belas paisagens e guarda uma das pontas da Serra da Mantiqueira, que possui 60% de sua extensão em Minas Gerais. A serra é popular por proporcionar a prática de alpinismo em picos elevados. O rally é o esporte predileto durante o inverno, por ser a estação seca. Em Barbacena, a Copa Mineira de Rally levanta a poeira entre as fazendas de eucalipto da zona rural.

Caminho Novo

A Zona da Mata é rota do Caminho Novo da Estrada Real, criado pelos portugueses para servir como passagem mais rápida e segura ao porto do Rio de Janeiro, principalmente porque as cargas de ouro estavam sujeitas a ataques piratas na rota marítima entre Paraty e a capital fluminense. De Ouro Preto ao Rio de Janeiro, passando por Juiz de Fora e Santos Dumont, são 515 quilômetros de pura história.

O Circuito Turístico Caminho Novo guarda resquícios da passagem dos bandeirantes e dos tropeiros, bem como das várias tribos indígenas que viviam na região, como os puris e os coroados. Quem visitar a rota ainda poderá desfrutar de belas paisagens, histórias do período colonial brasileiro e variadas atrações, a exemplo de artesanatos em fibras naturais, tecidos e madeiras e receitas saborosas de cervejas artesanais.

Em Juiz de Fora, cidade polo da região, ainda destacam-se os inúmeros museus, entre eles o Museu Dinâmico de Ciência e Tecnologia da UFJF, o Museu Ferroviário, o Museu de Arte Moderna Murilo Mendes e a Fundação Museu Mariano Procópio, que abriga acervo composto por esculturas, medalhões e vasos em cerâmica dispostos em meio à natureza.

Cidade olímpica

A Zona da Mata possui dois centros de treinamentos habilitados para receber atletas antes e durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016. Um deles é o Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, inaugurado em 1988, um marco na história esportiva de Juiz de Fora, com capacidade para 32 mil pessoas.

O outro é o Complexo Esportivo da UFJF. O conjunto possui ginásio com arquibancadas, piscina de 25 metros aquecida por energia solar, campos de futebol e área para a prática de modalidades do atletismo, como lançamento de dardos, martelo, disco e peso. O complexo conta ainda com quadras de tênis, badminton, peteca, estúdios de musculação e de pilates.

Com toda essa estrutura disponível, Juiz de Fora atraiu as delegações de atletismo do Canadá e da China, que assinaram acordos para treinarem na cidade. Os chineses devem trazer para a preparação 60 atletas olímpicos e 40 membros de comissão técnica, enquanto os canadenses vêm com os times olímpico e paralímpico, com 100 e 80 integrantes, respectivamente. (Agência Minas)

1 COMENTÁRIO

  1. Na verdade, o distrito Vitoriano Veloso, conhecido como Bichinho, pertence a Prados.
    Outro fato interessante é que Vitoriano Veloso foi um escravo alforriado que também participou da inconfidência mineira.

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