Mães norte-mineiras superam a dor e transformam suas histórias

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Família reunida, casas cheias, cheirinho de almoço farto, presentes e muito carinho. O Dia das Mães chega repleto de amor à casa dos brasileiros neste domingo (8/5), como manda a tradição. A aura mágica de felicidade e união permanece, alheia às crises econômicas e recessões de comércio. É o amor incondicional destas mulheres, que encontram forças para superar as dores da vida e ajudar o próximo, a pauta principal das homenagens desta data.

Casos de superação de mães que vencem diante das dificuldades estão espalhados por toda parte do mundo, ainda que não registrados. Em Montes Claros, alguns deles, ainda recentes, chamam a atenção e emocionam. Para as norte-mineiras Silvia Rêgo e Nice Souza, a dor de ter os filhos em situação de risco serviu como estímulo para que dois projetos de amparo às mães com crianças especiais fossem criadas: a “Casa de Apoio Miguel Rêgo Alencar” e a associação “Amor Down”.

São histórias diferentes, de amores e dores distintas, mas que compreendem duas palavras de ordem: superação e solidariedade. Para a médica Sílvia Rêgo, o sonho de ser mãe veio com a notícia de uma gravidez muito desejada e aparentemente tranquila, já que nenhum ultrassom indicava irregularidades com o anjo Miguel, que viria para revolucionar a vida dela.

“Tive a gestação toda normal. A única coisa que deu, em um dos exames, é que eu tinha um pouquinho de líquido amniótico a mais, o que não indicava nenhum problema sério. Quando o Miguel nasceu, ele já tinha insuficiência respiratória. Para que se chegasse a um diagnóstico que explicasse que doença ele tinha, demorou mais ou menos uns 15 dias. Ele tinha a parte do tronco cerebral pequena, que comanda as funções do corpo, inclusive o estímulo da respiração. Foi onde começou tudo”, conta Sílvia.

A médica explica que o quadro do filho se agravou muito e que sentia que, apesar das muitas complicações, o Miguel era alvo de milagres. “O quadro de Miguel foi piorando. A insuficiência respiratória se agravou, por conta de uma série de complicações, ele teve paradas cardíacas, precisou ser entubado e só depois que os médicos foram entender que tinha algo de errado no caso dele. O curioso é que ele chegou a ter alta antes do diagnóstico. Ficamos com ele em casa respirando sozinho. Ainda não entendo como ele resistiu”, diz.

Apesar da dor, a vontade de ter o filho nos braços não abandonava Sílvia. Ela conta que, sem perceber direito o tempo passar, acompanhou o Miguel todos os dias, durante oito meses no CTI, onde ela, e a família, praticamente moraram e puderam assistir o sofrimento de outras mães que passavam por ainda mais dificuldades, a ponto de não terem onde dormir ou o que comer.

“No começo, foi muito difícil. Ninguém espera ter um filho para ficar no hospital, principalmente na gravidade em que ele ficou. Depois dos meses internado, montamos o aparato respiratório em casa, para que pudéssemos ter condições de levá-lo. Foi uma das maiores alegrias que tive. A felicidade de poder tê-lo fora do hospital, de pegá-lo no colo, era algo muito especial para mim. Mas antes de ir para casa, eu já pensava que tinha, de alguma maneira, que ajudar aquelas mães que não tinham amparo nenhum”, afirma Sílvia.

O Miguel resistiu bravamente por mais oito meses, mas em junho de 2015 se despediu da Sílvia e deixou uma missão eterna. A “Casa de Miguel” nasceu como uma forma de amor a ele e às mães que lutam pela saúde dos filhos, como conta Sílvia. “No início, eu não entendi. Não achava justo vê-lo daquele jeito. Cheguei a fazer jejum por mais de 60h, para que Deus me ouvisse e deixasse meu filho comigo. Hoje entendo que o Miguel fez parte de uma missão para que eu tivesse a maior demonstração de amor do mundo e transformasse isso na ‘Casa de Miguel’, para amparar as mães e os filhos delas, que também se tornaram meus”, conclui.

Encontro de gerações na “Casa de Apoio Miguel Rêgo Alencar”, com a fundadora Sílvia Rêgo e a mãe, Leila Rêgo (Foto: Sílvia Rêgo / Arquivo pessoal)

Amor que move barreiras

O amor de mãe também chegou de maneira especial para a funcionária pública Nice Souza. A fundadora da associação “Amor Down” também se viu desamparada, assustada com a notícia de ter uma criança especial em casa, sem apoio ou informação do que era necessário para receber o anjinho dela, a Maria Alice. “Eu tentava engravidar há muito tempo e não conseguia. A notícia de que teria uma filha veio em 2012 e me trouxe uma felicidade inexplicável. Foi uma gestação muito tranquila. Depois do parto, que também transcorreu sem complicações, eu pedi informações sobre a minha filha. Ainda não tinha a visto e ninguém me dizia nada”, lembra Nice.

Segundo ela, mais um dia se passou e ninguém tinha coragem de dizer o que se passava com a filha. “Era como se minha bebê estivesse morta. Já estava desesperada quando uma equipe médica entrou no quarto e com a maior frieza me disse que a Maria Alice tinha síndrome de Down. Cheguei a ouvir de uma médica que ela nunca andaria ou se desenvolveria. Eu não entendi bem, não conhecia ninguém próximo que tinha a alteração cromossômica e não recebi nenhuma orientação sobre como recebê-la em casa. Ainda assim, sentia que precisava provar que ficaria tudo bem com ela”, conta.

A família recebeu alta e foi para casa. Os pais da Maria Alice ainda não sabiam que cuidados ela precisaria ter, até que ela precisou ir ao hospital por conta de uma gripe, já com seis meses. “Minha filha pegou uma gripe. Teve um pouco de febre e a levamos em um hospital. Lá, o médico me fez perguntas do tipo: ‘Que fisioterapeuta a acompanha? Ela já vai ao fonoaudiólogo?’ Eu confesso que não sabia nem para que eram as especialidades direito. Depois disso pesquisei, me informei, encontrei outras famílias que me instruíram e passei a amar cada dia mais a condição que ela tem”, diz Nice.

O amor de mãe, mais uma vez gigante, teve vontade de abraçar outros filhos. A Nice, quando percebeu que os portadores de Down precisavam de apoio em Montes Claros, se associou a outras mães para que o dia 21 de março de 2013, considerado o Dia da Síndrome de Down, fosse celebrado um encontro. “Chamei a Fabiana e Saionara, que têm filhos com Down, para promovermos uma ação. De repente, a coisa foi crescendo. Conseguimos apoio de emissoras de TV e rádio, patrocínios para camisetas, presentes, brinquedos. Quando a data chegou, várias mães que ainda não conhecíamos foram até o local. Lá nos unimos e decidimos que criaríamos o ‘Amor Down’, que hoje compreende e apoia 56 famílias”, afirma.

Hoje, Maria Alice já tem três anos. É graciosa, carinhosa, vai à escola, tem se aprimorado na fala e ensaia os primeiros passos. A Nice celebra com muita emoção cada conquista da filha.

Assim como Maria, a associação “Amor Down” também cresceu. Segundo Nice, os encontros são mensais e, além de conhecimentos, eles compartilham as alegrias de terem filhos especiais. “Cada conquista destas crianças lindas é comemorada com muita alegria por nós. Partilhamos novos conhecimentos para que cuidemos deles cada vez melhor, mas nossa maior missão é acolher mães que ainda estão perdidas e com muito carinho e amor. Costumo dizer que se eu tivesse outro filho e ele viesse com síndrome de Down, teria certeza de que Deus me ama muito”, brinca Nice.

Para mais informações dos projetos, o e-mail de contato do “Amor Down” é grupoamordown2015@hotmail.com. A “Casa de Miguel”, que sobrevive através de doações, tem a página Miguel Rêgo Alencar (www.facebook.com/casadeapoiomiguel) e fica na Rua Cassimiro de Abreu, 256C, Cândida Câmara. O telefone é (38) 3014-8001.

(Fonte: G1 Grande Minas / Repórter: Juliana Gorayeb)

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