Denis Augusto saiu de casa aos 10 anos para viajar pelo país como artista de circo. Porém, antes mesmo de realizar plenamente seu sonho, conheceu as drogas e passou a viver nas ruas de Ipatinga, município do Vale do Aço.
Ademilton Gonçalves e Brenda Andrade Gonçalves, hoje casados, deixaram seus lares também muito novos, durante a adolescência, em razão de conflitos familiares. Nas ruas, se envolveram com as drogas. Nesta situação, ele permaneceu por 24 anos, e ela, por quatro anos e meio.
Luiz Bezerra, por sua vez, foi proprietário de um conhecido bar na cidade. Em determinado momento da vida, tornou-se dependente de entorpecentes e, da mesma forma, foi morar nas ruas.
As histórias de vida desses quatro cidadãos são semelhantes em muitos aspectos, mas convergem principalmente em um ponto: com a ajuda de instituições públicas, amigos e entidades sociais, todos eles conseguiram encontrar uma alternativa à vida nas ruas, representando, hoje, exemplos de superação para tantas outras pessoas em situação de rua no município.
Denis, Ademilton, Brenda e Luiz estavam entre as dezenas de participantes do projeto Rua de direitos, realizado nesta terça-feira, 26 de abril, na praça Caratinga, localizada no centro de Ipatinga. A ação busca resgatar a cidadania das pessoas que vivem nas ruas, por meio da prestação de serviços básicos e do envolvimento da sociedade na causa.
É desenvolvida pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio da Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Sociais (Cimos), em parceria com o Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas), Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) e, agora, também com a participação do Tribunal Regional Eleitoral do estado (TRE-MG).
Durante a ação, foram oferecidos diversos serviços ao público nas áreas da justiça, saúde, cidadania, cultura, alimentação e autoestima, como assistência jurídica, limpeza de dentes, exame ginecológico preventivo, atendimento psicológico, campanha de combate ao abuso de álcool e drogas, emissão e regularização de documentos pessoais, cursos profissionalizantes, corte de cabelo, bazar solidário, entre outros.
Projeto atende pessoas em situação de rua em Ipatinga (Foto: Divulgação / MPMG)
Título de eleitor
A adesão do TRE-MG à iniciativa foi oficializada durante o evento. Na oportunidade, o órgão regularizou a situação eleitoral dos participantes e expediu título de eleitor para muitos deles, a fim de promover a inclusão política deste segmento da sociedade. A ação cumpriu também uma das etapas do projeto A voz da rua, de autoria da promotora de Justiça de Ipatinga Graciele de Rezende Almeida, que busca fomentar a participação da população em situação de rua no processo eleitoral de 2016.
Pouco antes da assinatura do termo de parceria com o Rua de direitos, o vice-presidente e corregedor do TRE-MG, desembargador Geraldo Domingos Coelho, elogiou a iniciativa e destacou que a Justiça Eleitoral está feliz em poder colaborar com o projeto. “A população em situação de rua precisa ter voz na sociedade, ter cidadania plena e, com isso, se fortalecer e buscar seus direitos. O TRE-MG está à disposição para avançarmos nesta parceria e alcançarmos os nobres objetivos do projeto”.
Graciele de Rezende Almeida lembrou que o evento é só mais um passo no trabalho de promoção da cidadania desse segmento da sociedade. “Desde janeiro de 2015, tenho acompanhado de perto as questões referentes a essa população. De lá para cá, vi muita coisa mudar, muitas pessoas deixarem as ruas. Pretendemos devolver a essas pessoas o direito de exercer sua cidadania, possibilitando que usem o poder do voto para lutar pelos seus direitos. Ainda há muito a se fazer”, analisou.
Hoje integrante do programa de Políticas para a População em Situação de Rua de Ipatinga (POP Rua), Denis Augusto enalteceu a ação. “Sem documentos e sem acesso aos serviços básicos, não somos cidadãos. Esse projeto é muito importante. Espero que ele continue”.
O evento contou com o apoio de diversas instituições, como empresas, faculdades, órgãos públicos, movimentos sociais e entidades religiosas. Estiveram presentes, ainda, o coordenador da Cimos, Paulo César Vicente de Lima; o diretor do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional do MPMG, Jarbas Soares Júnior; a representante do Movimento Nacional da População em Situação de Rua em Belo Horizonte, Anita Gomes dos Santos; a vice-presidente do Servas, Betânia Lemos; o representante do TJMG no projeto, Sérgio Henrique Fernandes; o procurador regional eleitoral, Patrick Salgado; o diretor geral do TRE-MG, Adriano Denardi; o diretor do Foro de Ipatinga, Otávio Pinheiro da Silva; a prefeita de Ipatinga, Cecília Ferramenta, entre outras autoridades.
Projeto atende pessoas em situação de rua em Ipatinga (Foto: Divulgação / MPMG)
(Fonte: MPMG)
