A Alienação Parental ocorre tanto por parte da mãe, quanto do pai. Abordarei aqui quando a mesma ocorre por inciativa da mãe que, na maioria dos casos de separação, fica com a guarda das crianças.
A tendência, no caso da criança, é também sentir-se traída, abandonada e rejeitada. Como se “herdasse” o sentimento da mãe. É um sentimento comum, que deve acabar à medida que o tempo passa e caso a mãe dedique momentos à criança, demonstrando que o fim do relacionamento se refere ao casal e nunca aos filhos.
No entanto, as mães, em sua maioria, não dedicam este momento necessário à criança, que segue sentindo-se culpada, porque sempre ouve seu nome ou menções a seu respeito nos diálogos ríspidos entre os pais agora separados.
Muitos casais recém-separados não percebem que este fato está ocorrendo e muitas mães imprimem ao pai o papel de vilão, dificultando o relacionamento entre pai e filho e, inclusive inconscientemente, contribuem para que a criança cresça com um vazio inexplicável, frustrada e com tendência a comportamentos mais agressivos e intempestivos.
Crescendo assim, longe do pai e acreditando que o mesmo a rejeitou, terá muitas possibilidades de ter dificuldades em relacionar-se na escola, na vida social e, sobretudo, poderá aprender manipular informações que a favoreça; se tornar intolerante; exprimir expressões falsas; acusar levianamente outras pessoas, dentre outras situações que lhe trará muitas dificuldades no futuro.
A criança que passou por esta situação e mais tarde tem a oportunidade de conhecer o outro lado da história, ou seja, descobre que o pai não é o carrasco que sempre acreditou que fora, passará por outros dolorosos sentimentos, como o de ter sido manipulada, culpa de ter compactuado com a situação e então poderá reverter o sentimento e passar odiar a mãe, causando assim, novos sentimentos negativos, só que agora, noutra direção.
Enfim, a criança passa anos odiando o pai e depois outros anos odiando a mãe.
Profissionais que estão lidando com estas situações, quer seja na escola, quer seja nos consultórios, precisam ter muita cautela para conduzir ao entendimento que são sujeitos diferentes – “o pai, a mãe, a criança” – cada um com seus sentimentos, com suas dores e frustrações, que embora pertençam a uma mesma história, cada um escreve uma parte de cada capítulo.
Talvez seja esta a parte mais difícil de compreensão, inclusive pelos adultos envolvidos na história. Porém, é preciso alertá-los que as crianças precisarão construir suas vidas com suas próprias histórias, e estas já trarão suas aprendizagens. Não podemos imprimir nas crianças as dores que elas não são responsáveis por cria-las.
É preciso uma ação multidisciplinar para demonstrar aos pais, sobretudo à mãe quando no referido caso possui a guarda da criança que, sobretudo nos primeiros dez anos da criança, todo o comportamento que ela convive será pauta para sua vida no futuro. Esta é uma questão muito complexa porque, em geral, quem comete o crime de Alienação Parental se coloca na posição de vítima, confundindo a todos e angariando aliados, dificultando no processo de tratamento e na necessária desvinculação da criança do processo de “vingança”.
A Alienação Parental, que me referi aqui por parte da mãe, ocorre também por parte de pai. Embora o amor eterno, que um dia juraram um ao outro, tenha acabado, o amor que cada um nutriu pela criança jamais poderá acabar e, muitos menos, ser alvo das frustrações e dores ocasionadas pelo fim do relacionamento.
No lugar de continuar a história dos pais, “herdando” suas dores, cada criança merece escrever a sua própria história e construir suas próprias memórias da infância. Felizes, desejamos.
Quem é Marli Andrade?
Marli Andrade é Psicanalista e Psicopedagoga, Doutoranda em Psicologia Social pela Universidade Argentina John Kennedy em Buenos Aires, defendendo a tese: “A influência da subjetividade nas interações profissionais”.
Autora de Literatura Infantojuvenil com o propósito de contribuir para que as crianças cresçam com equilíbrio emocional, autoestima e habilidades para interações intra e interpessoal tranquila e eficiente.
Escritora do livro “Primeiro você sonha, depois você dorme”, catalogado pela Câmara Nacional do Livro, sob o catálogo sistemático: Autoconhecimento, Comportamento social, Conduta de vida, Equilíbrio (Psicologia), Inconsciente, Realização pessoal, Relações interpessoais, Sonhos e Sucesso profissional.
Atua com palestras e treinamentos em instituições públicas e privadas, disponibilizando técnicas para que cada participante possa construir suas próprias estratégias para a gestão intra e interpessoal.
Psicanalista e Psicopedagoga
Doutoranda em Psicologia Social
Autora de Literatura Infanto Juvenil
Site: www.marliandrade.com.br