Com a obra “A Queda”, o economista mineiro Antônio Nahas Júnior é um dos finalistas do Prêmio Rio de Literatura na categoria ensaio. Ele disputa junto a outros 20 escritores com nomes de peso, como Ferreira Gullar e Daniel Aarão Reis Filho. Na segunda etapa, uma comissão única de cinco jurados vai analisar as obras indicadas e elegerá a melhor entre cada categoria. O resultado do prêmio será anunciado em maio.
A Queda: Foi em Belo Horizonte, em 1966, que o movimento estudantil brasileiro começou a se recuperar, após o golpe de 1964. Tudo começou com uma inocente calourada, uma espécie de brincadeira para recepcionar os calouros, que terminou em pancadaria e na invasão e depredamento pela polícia da Igreja de São José, no centro de Belo Horizonte.
A brutalidade policial na profanação do templo católico indignou até mesmo o clero conservador, que tinha desfilado dois anos antes pelas ruas de Belo Horizonte em apoio aos militares.
O acontecimento despertou o movimento estudantil em todo o Brasil, apressando sua renovação e o surgimento de novas lideranças.
No seio desses acontecimentos, um grupo político se agitava e se transformava – era a Polop – Política Operária, com forte influência em Minas Gerais, devido à presença de intelectuais como Teotônio dos Santos, Vânia Bambirra e Guido Rocha, todos estudantes da Face-UFMG.
A Polop era dirigida por um austríaco, Erich Sachs, que se abrigara no Brasil logo após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, fugindo dos nazistas – pois era judeu – e de Stalin, já que divergia dos seus propósitos e métodos.
É do interior desse grupo que nasce o Colina, cuja história é contada no livro A queda.
Influenciados pela revolução cubana, seus militantes partem para a briga e tentam articular, a partir de Minas, uma forte organização nacional.
A visão que o grupo construiu sobre o Brasil e sobre a revolução socialista é cuidadosamente analisada. Seus militantes eram animados pelo otimismo com o futuro e com a construção do socialismo. Isso, apesar de terem herdado da Polop uma forte crítica à União Soviética e ao Partido Comunista Brasileiro.
A prática do grupo é narrada juntamente com a explosão de 1968 no Brasil e no mundo. Em Minas, com a particularidade da entrada em cena dos operários urbanos, que realizam duas greves formidáveis, parecendo confirmar as previsões revolucionárias mais sonhadoras.
Sendo um livro de História, A queda baseia-se em pesquisas de documentos, jornais, arquivos públicos e algumas entrevistas. Resgata também livros de memórias de alguns militantes, como Herbert Daniel e Maurício de Paiva. Dissertações acadêmicas importantes também são abundantemente citadas, dando consistência e solidez ao livro.
Ao final, a recuperação do destino e da História dos Inconfidentes insere a narrativa num rico veio da História de Minas, que é cada vez mais valorizado pela ampla divulgação de documentos e livros sobre o período colonial.
É um livro envolvente e emocionante, que recria a BH nos anos 60. Não há heróis, mas seres humanos que viveram com intensidade a sua época. A amizade e o afeto é que prevalecem, apesar da violência que encontraram na sua trajetória de vida.
Sobre o autor: Antonio Nahas é economista e vivenciou intensamente o período narrado no livro. Estudante do Colégio Estadual, filiou-se ao grupo COLINA , mas teve que deixar Belo Horizonte, indo para Salvador, onde passou a militar em outro agrupamento político denominado VAR-PALMARES.
Cumpriu dois anos de prisão naquela cidade e voltou a BH, onde participou ativamente dos movimentos sociais que marcaram a década de 70.
É autor de vários livros e artigos sobre a História de Minas. Hoje trabalha como consultor em projetos sociais.
(Fonte: SEC-MG)