Aumentar o efetivo das Polícias Militar e Civil em Itamarandiba (Vale do Jequitinhonha), transferir a gestão da cadeia pública da cidade para a Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) e transformar o Pelotão de Polícia Militar do município em companhia independente. Essas foram algumas das demandas feitas por autoridades locais, nesta terça-feira (5/4/16), em audiência pública da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A reunião foi solicitada pelo deputado Wander Borges (PSB) para discutir o aumento da criminalidade na cidade.
O prefeito de Itamarandiba, Erildo do Espirito Santo Gomes, salientou que, há mais de 10 anos, o aumento da criminalidade já é debatido na cidade e que, com o passar do tempo, a violência foi aumentando. Ele salientou que os comerciantes estão apreensivos com a situação. “Assalto à mão armada virou rotina em nossa cidade”, acrescentou.
Erildo Gomes destacou que o município, com 34.253 habitantes, segundo dados de 2015 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem suas especificidades. “A cidade é extensa, conta com sete distritos, um deles com cerca de 4 mil habitantes. São cerca de 3 mil quilômetros quadrados de área, o que equivale a quase 15 cidades do Sul de Minas. É preciso que haja uma atenção especial a isso”, salientou. Diante disso, o prefeito reforçou as reivindicações da comunidade.
Além das já citadas, ele ressaltou ainda a relevância de se alterar o plantão regionalizado para a cidade. O prefeito explicou que os policiais da cidade precisam se deslocar para Capelinha, na mesma região, onde há esse plantão. São cerca de 50 quilômetros de estrada de terra, que ligam os dois municípios, o que dificulta o trabalho.
De acordo com o presidente da Câmara Municipal de Itamarandiba, Eduardo César Moreira, a presença dos 13 vereadores que compõem a câmara na audiência desta terça (5) demonstra a preocupação com o aumento da criminalidade no município. “Chegamos a uma situação limite de ter assalto na cidade todos os dias”, enfatizou.
Ele ressaltou ainda a necessidade de que a cadeia pública passe por uma reforma. Moreira questionou a falta de efetivo das polícias em Itamarandiba. “São 1.700 pessoas por policial. Há locais menores com mais policiamento”, acrescentou. Ele pediu também a instalação da 2ª Vara Judicial.
Representantes das polícias reconhecem que município precisa de ações específicas
O comandante da 14ª Região da Polícia Militar, coronel Elton Romualdo de Araújo, reconheceu que Itamarandiba é uma das cidades dessa região que inspira mais cuidados. Ele enfatizou que a criminalidade no município envolve, sobretudo, menores de idade. “Esse aumento da violência em Itamarandiba é reflexo do que ocorre no País. O contexto mostra que o sistema não está funcionando. Precisamos ver onde é o gargalo”, disse. Romualdo garantiu que operações específicas serão feitas na cidade.
Sobre a demanda da elevação do pelotão da cidade à companhia, ele disse que é um processo administrativo e operacional e que a reivindicação está sendo analisada. “A instalação de câmeras do projeto Olho Vivo pode ser uma iniciativa para lidar com a situação, mas é onerosa”, enfatizou. O coronel destacou ainda que, atualmente, há 19 policiais militares no município e há a previsão da chegada de mais um.
Para o delegado regional de Polícia Civil de Capelinha, Thiago Rocha Ferreira, Itamarandiba sofre com índices diferenciados de criminalidade. Ele citou que os casos de roubo consumado, em sua opinião, os mais comuns na cidade, totalizaram 57 em 2015. Em 2016, somente entre janeiro e fevereiro, foram 18 casos. “Realmente, é uma situação preocupante”, afirmou. Ele ressaltou que a maior parte desses crimes ocorre às quartas e sextas-feiras, nos horários de visitas e banhos de sol.
O delegado enfatizou ainda que a cadeia da cidade é muito frágil. “Hoje, ela é administrada pela Polícia Civil com o apoio da Militar. Transferi-la para a Suapi já ajudaria na questão do efetivo. Os policiais poderiam se dedicar a outras atividades”.
Deputados reforçam reivindicações por melhorias na segurança em Itamarandiba
Parlamentares presentes na reunião defenderam as demandas de Itamarandiba. Foram aprovados diversos requerimentos com pedidos de providências em relação a essas reivindicações. Entre eles requerimentos destinados: ao governador e ao comandante-geral da Polícia Militar, para a alteração do pelotão para companhia independente; e ao comando-geral da Polícia Militar e chefia da Polícia Civil, para que sejam realizadas operações conjuntas de repressão qualificada no município. Outro requerimento é para a realização de uma audiência pública sobre o assunto em Itamarandiba. O primeiro requerimento foi solicitado pelos deputados Sargento Rodrigues (PDT), que preside a comissão, Wander Borges, Arlen Santiago (PTB) e Doutor Jean Freire (PT); já os dois últimos foram requeridos por esses deputados, exceto Freire.
Segundo Wander Borges, o aumento da criminalidade não ocorre apenas em Itamarandiba. Ele enfatizou que há uma impotência do conjunto da sociedade para buscar solução aos problemas de segurança pública. Ele citou crimes recentes ocorridos no município como assalto a lotérica, roubos a residências e lojas, pessoas que foram feitas reféns durante assalto. Para o deputado, esse contexto aponta que os diversos atores da sociedade falharam. “A população carcerária já chega a mais de 700 mil pessoas. O gasto mensal por preso chega a R$ 3 mil. Vamos projetar essas cidades para daqui a dez anos. Ninguém sabe o que vai acontecer”, enfatizou.
O vice-prefeito de Belo Horizonte e ex-deputado, Délio Malheiros, que nasceu em Itamarandiba, também ressaltou que a falta de segurança pública tem sido comum a diversos municípios. “Assusta é a proporção da criminalidade em Itamarandiba, dado o tamanho de sua população. A criminalidade no local é pior que em Uberaba, no Triângulo mineiro (cidade que conta com mais de 300 mil habitantes)”, ponderou. Para ele, a situação do município é gravíssima e, se nada for feito, os índices chegarão aos de cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
Já o deputado Sargento Rodrigues reforçou que, em função do plantão regionalizado, as viaturas saem de Itamarandiba para deixar presos em Capelinha, e o município fica desguarnecido. “Uma viatura retirada do município faz uma falta imensa, porque ela não se desloca com um único policial. O policiamento é retirado e Itamarandiba fica entregue à própria sorte”, afirmou.
De acordo com o deputado João Leite (PSDB), vice-presidente da comissão, a busca por melhorias na segurança pública é um direito fundamental. Já o deputado Arlen Santiago destacou que a situação em Itamarandiba é complicada. Ele criticou a falta de recursos para a área da segurança pública e o Governo do Estado.
O deputado Doutor Jean Freire ressaltou que o Vale do Jequitinhonha é historicamente preterido nas iniciativas. “Se a segurança pública não vai bem em uma cidade da região, isso afeta todo o Vale do Jequitinhonha”, enfatizou.
(Fonte: ALMG)