Um fato interessante aconteceu na Argentina recentemente: Uma gigantesca nuvem de gafanhotos surgiu repentinamente na região rural da província de Tucaman. Os insetos atacaram cerca de 700 mil hectares de pasto, milho e soja devorando tudo que viam pela frente. O presidente da Sociedade Rural de Tucaman informou que este evento nunca foi observado na região. Segundo informações climatológicas da Argentina o último inverno foi extremamente quente e seco, fatores que provavelmente intensificaram a reprodução dos insetos. Se realmente a temperatura continuar subindo, mesmo no inverno, promoverá uma grande aceleração no ciclo dos insetos tornando o desequilíbrio na região um fator periódico e permanente, forçando os agricultores e pecuaristas a intensificar o uso de inseticidas para controle da praga.
Estas alterações biológicas que estão ocorrendo na natureza, como a explosão da multiplicação dos gafanhotos na Argentina, não pode passar sem uma analise séria de suas causas e consequências. Eventos nunca antes registrados na natureza em nossa história recente estão ocorrendo e cada vez com mais frequência. Se o aquecimento global e regional for realmente uma realidade, os insetos serão os principais afetados em relação a sua reprodução e desenvolvimento. A temperatura dos insetos oscila de acordo com a do meio ambiente. Se a temperatura corporal destes pequenos seres aumenta, o seu metabolismo acelera e eles se reproduzem cada vem mais rápido e mais vezes. Isto irá demandar uma quantidade cada vez maior de alimentos, principalmente as plantas para os insetos herbívoros ou vegetarianos. Quando estão nas matas e florestas, as próprias plantas se defendem produzindo substancias químicas que controlam o ataque, além da presença dos chamados inimigos naturais, insetos carnívoros que se alimentam de outros insetos. Desta forma a população dos insetos fica controlada. Mas, quando tiramos as matas e florestas totalmente para colocar pastagens e lavouras a coisa muda. As plantas cultivadas não possuem a proteção química natural como as espécies vegetais das matas sendo mais atrativas aos insetos. Estes insetos praga se reproduzem muito rapidamente consumindo as lavouras e pastagens e os insetos carnívoros que se alimentam dos insetos praga não acompanham esta multiplicação. Outro aspecto ruim é que insetos que não eram considerados pragas das lavouras e pastagens podem se adaptar e passar a consumir as plantas das lavouras e as gramíneas das pastagens tornando-se pragas também. Com o aumento da temperatura esta situação tende-se a agravar. Com isto, cada vez mais agrotóxicos são utilizados para controle destes insetos.
Estamos entrando em um ciclo perigoso e, em breve, se nada for feito pelo planeta ou se continuarmos a discutir apenas economia, estaremos diante de uma nova realidade e de um novo equilíbrio que não será muito favorável ao ser humano. Nuvens de gafanhoto é apenas o começo. Outros insetos, principalmente os vetores de doenças também surgirão com maior intensidade e aí…
Quem é Alexandre Sylvio Vieira da Costa?
– Nascido na cidade de Niterói, RJ;
– Engenheiro Agrônomo Formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro;
– Mestre em Produção Vegetal pela Embrapa-Agrobiologia/Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro;
– Doutor em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa;
– Pós doutorado em Geociências pela Universidade Federal de Minas Gerais;
– Foi Coordenador Adjunto da Câmara Especializada de Agronomia e Coordenador da
Comissão Técnica de Meio Ambiente do CREA/Minas;
– Foi Presidente da Câmara Técnica de eventos Críticos do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Doce;
– Atualmente, professor Adjunto dos cursos de Engenharia da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Campus Teófilo Otoni;
– Blog: asylvio.blogspot.com.br
– E-mail: alexandre.costa@ufvjm.edu.br