Na tentativa de combater o Aedes Aegypti e conter a explosão dos casos suspeitos de zika vírus, além da dengue e febre chikungunya, 80 agentes de saúde foram escalados para vistoriar 130 mil imóveis no município do Leste de Minas. Mas eles precisam de reforço nas buscas pelos focos do mosquito.
Com 270 mil habitantes, Valadares registrou neste ano 2.359 casos notificados e dois confirmados de zika, além de 1.008 notificações de dengue. A quantidade de agentes é considerada insuficiente pelo Ministério da Saúde para um trabalho eficaz na cidade.
Segundo o veterinário José Batista dos Anjos, referência técnica em dengue em Valadares, seria preciso que cada um vistoriasse de 800 a mil imóveis em dois meses. A meta, no entanto, não vem sendo atingida.
De acordo com José Batista, são necessários pelo menos 140 agentes. Novas contratações são previstas a partir deste mês, com recursos do Ministério da Saúde e do governo do Estado, que anunciaram cerca de R$ 1,6 milhão para o combate a dengue em Valadares. A verba também pode ser usada na compra de veículos e uniformes. Do total, R$ 846 mil já estão nos cofres da prefeitura, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Apesar do déficit no quadro de fiscais, José Batista não relaciona a explosão da zika e da dengue à falta de vistorias. Segundo ele, até 22 de fevereiro, Valadares contou com o reforço de cem agentes de endemias contratados pela mineradora Samarco. “O contrato era de 90 dias e já venceu. A secretaria (de Saúde) decidiu recontratar 60, para chegar aos 140 que são necessários”, diz.
Segundo o veterinário, 30 agentes devem voltar para as ruas nos próximos dias, se juntando aos 80 que estão na ativa. “Com 110 já dá para fazer um bom trabalho”, avalia.
Agentes de endemia vistoriam imóveis – Foto: Leonardo Morais / Hoje em Dia
FALTA COLABORAÇÃO
O larvicida Sumilarv está sendo usado no combate ao Aedes e, segundo José Batista, tem sido eficaz. Mesmo assim, outras marcas estão sendo testadas. “O estoque de larvicida está normal”, afirma.
Segundo ele, o combate ao mosquito ainda esbarra na falta de colaboração da população. Pelo menos 80% dos focos estão dentro das casas e a maioria das larvas (60%) é encontrada nos ralos. “Valadares é uma das poucas cidades que constrói ralos de alvenaria com o cano de escoamento mais alto, para a sujeira ficar no fundo. Esse sistema favorece o armazenamento de água, contribuindo para a proliferação do mosquito”.
Reservatórios de água viram alternativa à contaminação do rio Doce e aumentam risco
Além dos ralos, pratos dos vasos de plantas e reservatórios de água destampados são os criadouros do mosquito Aedes aegypti mais encontrados pelos agentes de saúde dentro dos imóveis de Governador Valadares.
Com a contaminação do rio Doce pela lama que vazou da barragem da Samarco, a quantidade desses reservatórios aumentou muito desde novembro do ano passado. “O combate é permanente por aqui, mas falta conscientização”, lamenta o veterinário José Batista dos Anjos, referência técnica em dengue.
Ele nega que haja subnotificação de casos de zika no município. “Até daria para esconder o mosquito, mas esconder um doente é impossível. Ele vai procurar atendimento médico, a farmácia, a imprensa. A zika é uma novidade por aqui”.
PRECAUÇÃO
A dona de casa Laura Neiva Batista, de 74 anos, nunca teve dengue. Mas ela anda preocupada com a quantidade de casos de zika no município e teme ser picada pelo mosquito.
“Mantenho areia nos pratos de vasos de planta e jogo água fervendo nos ralos. Espero que meus vizinhos estejam fazendo o mesmo, porque adoecer nessa idade não será fácil”, disse.
Mas, segundo o agente de endemias Lincohn Barbosa Júnior, o bom exemplo de Laura não é seguido por todos. “Enfrentamos dificuldades para entrar em muitas casas. Muitas vezes, quando voltamos dois meses depois, encontramos tudo do mesmo jeito. Pratos de vasos de planta sem areia e com água parada, ralos sem tela, reservatórios de água destampadas e lixo acumulado nos quintais”, lamenta.
Ralos feitos de alvenaria escondem o perigo dentro dos imóveis
Como a prioridade do poder público tem sido tratar os doentes e fazer vistorias em imóveis, os Levantamentos de Índice Rápido por Infestação de Aedes aegypti (LIRAa) estão suspensos desde o final do ano passado em todo o país. O último, realizado em novembro de 2015, apontou 4,9% de infestação do mosquito em Valadares (risco de surto de dengue).
O que não mudou foram os locais com maior incidência dos focos. Pela quinta vez consecutiva, eles continuavam dentro dos imóveis: nos ralos (42,2%), em tinas, tonéis e tambores (29,7%), pratos de vasos de plantas (18,3%), caixas d’água (3,6%), lixos (2,9%), bromélias (2,9%) e pneus (0,3%).
Entre os bairros com maior índice de infestação do mosquito estavam o Jardim do Trevo, Santa Paula, Planalto, Turmalina, Ceasa, Posto Planalto, Posto Cacique, Sertão do Rio Doce e Retiro dos Lagos. Já a região do Santa Helena, Esperança, Morro do Carapina, Vale Verde, Querosene e Monte Carmelo apresentou o menor índice.
BALANÇO
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Governador Valadares, dos 2.359 casos de zika investigados em neste ano, dois foram confirmados em grávidas pela Secretaria de Estado da Saúde (SES).
Dos 1.008 casos de dengue notificados, cem foram confirmados, 177 descartados e 24 considerados inconclusivos. As demais amostras ainda serão analisadas. Há também 81 notificações de casos suspeitos de febre chikungunya. Não houve morte relacionada a nenhuma das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
ALÉM DISSO
A ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Nilma Lino Gomes, visitou nessa sexta (11) as instalações da Faculdade de Medicina da UFMG, em Belo Horizonte, em mais uma ação do governo federal de combate ao mosquito Aedes Aegypti em prédios públicos. Ela destacou a parceria da pasta que comanda com o Ministério da Saúde, que já apresentou resultados, como a distribuição de repelentes para gestantes beneficiadas pelo programa Bolsa Família. A Faculdade de Medicina da UFMG vem desenvolvendo diversas ações contra o mosquito transmissor da dengue, vírus zika e febre chikungunya. Na área externa do edifício, as luminárias do jardim foram vedadas e também foi realizada a instalação de placas informativas.
(Fonte: Hoje em Dia / Repórter: Ana Lúcia Gonçalves)