Dois meses após a tragédia de Mariana, Rio Doce permanece turvo

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“No momento que disseram que a lama ia atingir o rio, a gente ainda não tinha noção. Só depois que a gente viu as toneladas de peixes mortos é que a gente viu o tamanho da tragédia”, conta o presidente da colônia de pescadores de Governador Valadares, Rodolfo Zulske. Dois meses após a lama da barragem da Samarco, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton, ter chegado à cidade, o Rio Doce permanece turvo, embora tenha diminuído a presença de sedimentos na água. “Antes a água estava grossa, parecia um mingau”, define Rodolfo.

Os primeiros sinais da lama começaram a chegar a Governador Valadares no dia 08 de novembro, mas a pluma mais densa foi registrada no dia 11, quando a turbidez do rio teve pico de 131 mil uT (unidade tratável). O limite de turbidez para o tratamento é de 1000 uT, mas antes da contaminação do Rio Doce, o nível registrado era de cerca de apenas 515 uT. Atualmente, devido a um produto químico utilizado para decantar a água, o polímero de acácia negra, o tratamento pode ser realizado desde que a turbidez esteja dentro do limite de até 6 mil uT.

Como medida emergencial, pescadores como Rodolfo vêm recebendo um cartão dado pela Samarco, para garantir a sobrevivência das famílias nesse momento. Segundo o presidente, aproximadamente 2/3 dos pescadores da região já receberam o auxílio, cuja duração será de seis meses.

Segundo ele, ainda há lama, mas já é possível que haja vida no rio, como o peixe bagre africano, que não possui valor comercial. No entanto, ele calcula que serão necessários pelo menos cinco anos até que haja peixe em quantidade e tamanho disponível para a pesca. “Hoje estamos completamente parados devido à piracema, que vai até início de março. Mas mesmo depois de março, é inviável pescar por aqui”, garante o pescador.

Já a Associação dos Pescadores e Amigos do Rio Doce (APARD) avalia que será preciso, no mínimo, 10 anos para que o rio seja recuperado. Para o diretor tesoureiro, Márcio Brandão, antes de se pensar nos peixes, é preciso recuperar o rio que já se encontrava degradado, antes mesmo do rompimento da barragem de rejeitos de minério.

“O rio já estava comprometido, o acidente foi só o tiro de misericórdia. Para recuperarmos o rio devidamente, não leva menos que 10 anos. Primeiro é preciso agir de modo a garantir que tenha água, para então ter peixe. E para ter água é preciso recuperar topo de morros, recuperar as nascentes e recuperar a mata ciliar. Só por meio disso vamos ter água, e não falo de água para a pesca, mas mesmo para a nossa sobrevivência. Se não fizermos isso agora, em 15 anos não vamos ter rio mais, vamos ter um córrego”, afirma Márcio.

O diretor afirma ainda que a associação não tem interesse em criar conflitos com ninguém, nem mover processos na justiça, mas quer articular medidas com as autoridades, para que a pesca no Rio Doce seja proibida em toda a sua bacia hidrográfica. Segundo ele, a medida visa garantir que a vida futura que irá repovoar o rio, ou seja, os peixes de rios afluentes possam ir e se reproduzir no Rio Doce.

Para dar fim à atividade extrativista de peixes no local, a associação já havia elaborado e agora quer tirar do papel projeto para o cultivo de peixes em tanques. “Queremos ensinar os pescadores profissionais a cultivar e produzir o seu peixe em tanque-rede. A região do Médio Rio Doce pesca entre três a cinco toneladas por mês, mas consome de 160 a 180 toneladas/mês. Esses peixes do Rio Doce não são encontrados em supermercado, mas sim em feiras e botequins. Então vamos ensinar o pescador profissional a ser um produtor de peixe e deixar de ser extrativista, para trazer vida para o nosso rio novamente”, propõe o diretor da APARD.

Presidente da colônia de pescadores de Governador Valadares, Rodolfo Zulske, acredita que recuperação do Rio Doce deve levar cinco anos (Foto: Zana Ferreira / G1)

(Fonte: Inter TV dos Vales / G1)

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