Nem sempre é possível para o agricultor familiar obter resultados satisfatórios com apenas uma atividade. Em muitos casos é preciso diversificar a produção. É isso que produtores de Leme do Prado, no Vale do Jequitinhonha, fizeram. Incentivados pela Emater-MG, eles decidiram investir em piscicultura. O resultado tem sido o complemento da renda familiar e mais qualidade alimentar.
Tudo começou em 2012, quando extensionistas da Emater-MG sugeriram que os agricultores familiares investissem na criação de peixes em tanques redes. Quinze famílias da Associação dos Produtores Rurais, Agricultores Familiares e Aquicultores de Mandassaia (Apromam) apostaram na ideia.
De acordo com o coordenador técnico regional da Emater-MG, Inácio de Oliveira, a proposta era estimular no município a produção de peixes, visando a geração de emprego e renda extra para as famílias de agricultores. Segundo ele, isso vai possibilitar a melhoria da qualidade de vida dos produtores e da alimentação da população.
“Em virtude da falta de opções agropecuárias viáveis para a região, pelo baixo índice pluviométrico, mercado, recursos financeiros e outras deficiências, parte da população migrava para outras regiões a procura de trabalho no período de corte de cana e colheita de café”, explica o coordenador técnico regional da Emater-MG, Inácio de Oliveira.
A iniciativa conta com a parceria da Prefeitura de Leme do Prado, que ficou responsável pela construção de estradas e apoio logístico. A Emater-MG ofereceu suporte técnico para as famílias interessadas. Desde o projeto técnico até a orientação para que os piscicultores tenham acesso aos recursos financeiros.
A Apromam, além de organizar e mobilizar os agricultores, destinou recursos para investir na atividade. Por meio do programa estadual Minas Sem Fome, a Apromam recebeu 39 tanques e ração para o primeiro ciclo de produção. Com o tempo, a associação adquiriu mais 15 tanques. A Apromam também comprou alevinos para o início da atividade e construiu um depósito de ração.
A produção de tilápias é feita no lago da Hidrelétrica Presidente Juscelino Kubitschek, mais conhecida como Irapé, formado pelas águas do rio Jequitinhonha. Os tanques têm capacidade para engordar até 600 peixes. Entre seis e oito meses, as tilápias podem ser abatidas e comercializadas.
“O lago da Hidrelétrica de Irapé é uma grande fonte geradora de alimentos, ocupação e renda, sem modificar radicalmente os hábitos da população ribeirinha, que sempre pescou, trabalhou e viveu naquele ambiente simples e familiar”, diz Oliveira.
A criação dos peixes, além de ser um complemento da renda familiar, traz mais qualidade alimentar aos agricultores familiares – Foto: Divulgação / Emater de Minas Gerais
Seguindo o exemplo
Com os bons resultados obtidos pela Aproman, outras duas associações voltadas especificamente para a piscicultura foram criadas no município. Uma é a Associação de Piscicultores do Distrito de Posses e a outra é a Associação de Piscicultores do Quilombo Boa Sorte. Nas duas entidades, são 20 famílias que se dedicam à criação de peixes e um total de 41 tanques redes. A produção das três associações de Leme do Prado chega a 400 quilos por tanque.
A produção é comercializada na região. A atividade se transformou em mais uma fonte de renda para as famílias. Em média, cada uma ganha meio salário mínimo com a piscicultura. “Esse dinheiro tem nos ajudado muito nas despesas de casa”, conta o piscicultor, Adão de Sousa Martuchel.
Adão Martuchel é agricultor familiar. Na propriedade dele se produz mandioca, abacaxi, maracujá, feijão e milho. A piscicultura veio como mais uma opção de diversificação. Segundo ele, isso é fundamental para o pequeno produtor. “Se você perder ou tiver algum problema com alguma cultura, você tem outra para substituí-la”, diz Martuchel.
O produtor ainda ressalta que a piscicultura ajudou a melhorar a alimentação de sua família. “Nós sempre temos peixe para comer, isso significa mais qualidade na nossa alimentação”, afirma.