Enquanto parte dos moradores de Governador Valadares, maior cidade da bacia hidrográfica do Rio Doce, ainda desconfia da qualidade do abastecimento no município, as contas de água foram reajustadas em 10,71%, percentual correspondente à prévia da inflação de 2015. Desde sexta-feira, 1º de janeiro, o consumo dos cerca de 280 mil habitantes já está sendo medido com base na nova tarifa, definida por decreto da prefeita Elisa Costa (PT). O reajuste recai sobre as ligações residenciais, comerciais, públicas, industriais e residenciais sociais. Além disso, o mesmo percentual se aplica às taxas geridas pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) como aferição de hidrômetro e as mudanças em ligações de água ou esgoto. A administração municipal sustenta que a correção é necessária devido à inflação e não tem ligação com a tragédia de Mariana, que chegou a deixar a cidade por uma semana sem captação de água. O reajuste, porém, gerou reclamações de moradores.
O secretário de Fazenda de Governador Valadares, Leandro Medrado, sustenta que, antes da correção, a tarifa correspondia a um terço do que a maior parte dos mineiros paga para usufruir do serviço de abastecimento da Copasa e afasta qualquer ligação entre a crise de abastecimento causada pela lama da barragem da mineradora Samarco e o reajuste. “O que aconteceu aqui foi uma situação provocada por uma tragédia ambiental. Independentemente disso, todo ano nós fazemos a correção da inflação, já que a nossa despesa também sofre aumento em decorrência da inflação”, completa o secretário. O principal custo extra para garantir o abastecimento da cidade após a tragédia ocorre na compra de um produto orgânico que está sendo usado pelo Saae para acelerar o processo para separar a lama da água. Porém, a prefeitura informa que esse gasto tem sido coberto pela Samarco. De acordo com o secretário, o reajuste não foi levado ao Legislativo por tratar-se apenas da reposição da inflação.
Qualidade questionada Apesar da justificativa, o aumento irritou moradores. Parte da população ainda reluta em usar o água do Rio Doce para beber e, com isso, pelo menos 15 pontos de distribuição de água mineral na cidade ainda estão em funcionamento. Segundo a major Adriana Alfenas, chefe da assessoria de comunicação da 8ª Região de Polícia Militar, há comunidades em que os carregamentos de água precisam de reforço policial para não serem saqueados. O empresário Felipe Almeida Albergaria Kneipp, que é dono de uma fábrica de alimentos na cidade, considera que o aumento na conta de água foi feito sem a devida transparência. “Além disso, é mais aperto em um momento de crise em que nem temos tanta certeza da qualidade dessa água. Acho que seria prudente esperar mais um pouco e discutir essa correção”, afirma.
Ele também destaca a dificuldade de continuar buscando água com boa procedência, já que os clientes sempre perguntam de onde vem o produto que a fábrica está usando. Esse problema também é enfrentado pelo dono de uma loja de sucos e lanches, na Avenida Minas Gerais, Onofre Liberato Júnior. “Nesse momento, a prefeitura deveria dar desconto e não aumentar o preço da água, em virtude de tudo que a gente está passando. Eu mesmo continuo gastando mais, já que a maioria da população só aceita o suco com água mineral. Ninguém quer arriscar, o futuro ainda é muito duvidoso “, completa. A prefeitura mantém a posição de que a água tratada pelo Saae em Valadares é própria para consumo humano, com base em laudos da Copasa e de outras companhias de saneamento do Brasil. A edição de 30 de dezembro do Diário Oficial traz a informação de que a Compesa (Pernambuco), Caesb (Distrito Federal) e Sanepar (Paraná) também testaram a água do Rio Doce, conforme determinação da Justiça Federal.
(Fonte: Estado de Minas / Repórter: Guilherme Paranaiba)