A distribuição de água mineral para ajudar a população a enfrentar o desabastecimento provocado pela lama da Samarco fez surgir um novo problema ambiental em Governador Valadares: o descarte irregular de garrafas plásticas. Problema que ainda contribui para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor de três doenças.
A maioria das garrafas chega à cidade por meio da empresa, que foi obrigada pela Justiça a distribuir mais de 550 mil litros de água mineral por dia, e também por meio de doações enviadas de todo o país. São milhões de garrafas, boa parte descartada em ruas e praças, poluindo a cidade, o rio Doce e seus afluentes.
Estima-se que uma garrafa PET leve ao menos 400 anos para se deteriorar naturalmente. Segundo o engenheiro agrônomo Alexandre Sylvio, professor na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), embora o material, inerte, não cause contaminação química ao ambiente, provoca danos físicos.
Nos rios, por exemplo, as garrafas em grande quantidade podem causar represamento. Como flutuam, impedem a passagem da luz solar, comprometendo o ecossistema aquático.
Nas hidrelétricas, prejudicam o funcionamento das turbinas geradoras de energia, aumentando o custo de manutenção. Nas cidades, as PETs entopem bocas de lobo e atrapalham a drenagem da água da chuva.
A catadora Ivanilde Pereira Ribeiro, de 41 anos, projeta um rendimento maior neste mês em função do aumento do volume de garrafas – Foto: Leonardo Morais / Hoje em Dia
Epidemias
Ao ar livre, as garrafas ainda se transformam em berçário do mosquito transmissor da dengue, chikungunya e zika. Para o pesquisador Alexandre Sylvio, a coleta seletiva é o passo inicial para reduzir o descarte inadequado. A prefeitura informou, por meio da assessoria de imprensa, que ajuda a reduzir os impactos ambientais com a coleta seletiva. No entanto, não ampliou os dias de recolhimento de recicláveis nem a quantidade de bairros atendidos. Atualmente, 45 estão na rota dos cinco caminhões empenhados na coleta, o que corresponde a 70% da cidade. Até outubro, a cidade gerou pouco mais de mil toneladas, mas apenas 60% foram reaproveitados e comercializados. O restante foi parar no aterro sanitário.
A Samarco estabeleceu dez pontos de distribuição de água mineral em Governador Valadares; de acordo com a empresa, até 7 de dezembro, a população havia recebido um volume de 10,7 milhões de litros, obrigando o município a dar uma destinação correta a montanhas de garrafas plásticas
Volume coletado triplica em duas semanas e aumenta rendimento dos catadores
Mesmo com o descarte irregular de PET, os 49 cooperados da Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis estão rindo a toa e já planejam um Natal mais farto. Os caminhões da coleta seletiva chegam ao galpão abarrotados de garrafas plásticas.
Para Maria Graci Camilo, de 44 anos, o volume triplicou em duas semanas. “Espero que aconteça o mesmo com o meu salário. Quero um Natal gordo para meus filhos e netos”, disse, contando que a sua intenção é encher as latas de mantimentos e a geladeira de “coisas gostosas”.
A catadora Ivanilde Pereira Ribeiro, de 41 anos, que também trabalha no setor administrativo da associação, conta que a garrafa transparente tem mais valor. Também é a que mais tem chegado desde o início da crise hídrica. A expectativa dela é que esse volume cresça ainda mais nos próximos dias.
“Esse foi um presente de Natal. Vamos ganhar pelo menos o dobro neste mês”, comemora. Apesar disso, lembra Ivanilde, a quantidade recolhida nas ruas poderia ser ainda maior não fossem os catadores autônomos e o fato de algumas pessoas não obedecerem o dia da coleta seletiva.
(Fonte: Hoje em Dia / Repórter: Ana Lúcia Gonçalves)