O Centro de Reintegração Social (CRS) da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) de Caratinga entrou no quinto ano de funcionamento com bons números: 20% de reincidência criminal de egressos, contra uma média de 80% no sistema prisional brasileiro. Isso a um custo mensal de R$ 930 por preso.
Com capacidade para atender a 124 recuperandos, como são chamados os condenados no Método Apac, o CRS de Caratinga aplica os 12 fundamentos da metodologia difundida pela Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (Fbac).
De acordo com o presidente da Apac Caratinga, Elan Tebas, engenheiro civil e presidente do CRS desde a inauguração, o segredo da rápida consolidação é o envolvimento da sociedade local, que pode ser medido pelo número de voluntários. Segundo Tebas, eles chegam a somar 80 em eventos maiores. “A Apac aqui de Caratinga é sinônimo de boa notícia. Os voluntários fazem várias ações semanalmente no centro. São empresários, funcionários públicos, pessoas da comunidade e líderes religiosos”, diz.
Um tipo especial de voluntariado, o casal padrinho, previsto no Método Apac, também floresceu na Apac Caratinga. Marido e mulher se dedicam a um preso, visitando-o como se fossem parentes, ouvindo, dando orientações e conselhos para auxiliá-lo no processo de reintegração ao convívio social. Em Caratinga, por exemplo, um casal de idosos ‘adotou’ um recuperando que havia sido totalmente rejeitado pela família.
Na fábrica de blocos, utilizados no calçamento de vias públicas, trabalham seis recuperandos – Foto: Marcelo Sant’Anna / Imprensa Oficial de Minas Gerais
Fábrica própria
A assistência social e psicológica é reforçada pela valorização do trabalho e da educação. Na produção de bloquetes e tijolos de cimento do CRS de Caratinga estão engajados 12 presos. O centro também possui uma linha de fabricação de vassouras de piaçava, horta e unidade de processamento de alho.
A produção gera renda para os presos e um excedente que ajuda no custeio do CRS e na compra de equipamentos. Mesmo estando localizada a 10 quilômetros do Centro de Caratinga, a planta de artefatos de cimento tem uma carteira de clientes fieis que valorizam não só o preço e a qualidade, mas o objetivo nobre da atividade, que obtém um faturamento líquido mensal de aproximadamente R$ 7 mil.
Ailton Albino dos Santos, de 39 anos de idade, está no regime semiaberto e cumpre pena no CRS há dois anos e cinco meses. Ele é o encarregado da fábrica de blocos e garante que a empresa não dá conta da alta demanda. Os seis recuperandos produzem cerca de mil blocos por dia. “Temos uma cartela de clientes fixos, que são as casas de materiais de construção da cidade e também atendemos sob encomenda. É preciso comprar outra máquina para conseguir atender todas as solicitações que chegam até a fábrica”, diz Ailton.
Na fábrica de bloquetes, utilizados no calçamento de vias públicas, também trabalham seis recuperandos. Entre eles Bruno Olavo, de 30 anos. A média de produção diária é de 800 bloquetes e Bruno assegura que a oportunidade de trabalho associada à prática religiosa é fundamental para a recuperação do indivíduo. “Aqui é possível esquecer a criminalidade e as drogas. A religião não fazia parte da minha rotina e agora faz. A primeira coisa que temos que procurar é Deus”, diz Bruno, que planeja trabalhar na loja de produtos eletrônicos da família quando ganhar a liberdade.
Atualmente, 20 recuperandos do regime fechado estudam no CRS de Caratinga, no ensino fundamental e no ensino médio. Na vertente da qualificação profissional, a Apac Caratinga já formou, em parceria com o Senai, turmas de elétrica predial, panificação, operação de empilhadeiras, cultivo de hortifrutigranjeiros e culinária.
O Centro de Reintegração Social de Caratinga também possui uma unidade de processamento de alho – Foto: Marcelo Sant’Anna / Imprensa Oficial de Minas Gerais
(Agência Minas)