Treinamento, leitura assídua de manuais técnicos e uma boa dose de experiência trazida de fora da muralha. Assim, a oficina mecânica da Penitenciária Dênio Moreira, com oito presos empregados, atingiu o status de referência na recuperação de viaturas do sistema prisional. São cerca de 50 veículos em média por mês, sendo que a oficina tem capacidade para recuperar ônibus, caminhões e até tratores.
Cabe à Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) fornecer materiais e peças, quando for o caso. O mesmo vale para viaturas das Polícias Civil e Militar que, volta e meia, enviam carros para consertos na penitenciária, em Ipaba, no Vale do Aço.
O diretor-geral do estabelecimento prisional, Adão dos Anjos, diz acreditar que o sucesso da oficina está na seleção e treinamento dos presos, todos com experiência anterior no ramo. “Não basta apenas conhecer o negócio, é preciso querer estudar e aprimorar, por meio dos cursos oferecidos na unidade”, reforça.
Exemplo disso são os cursos de pintura automotiva oferecidos dentro da penitenciária por fabricantes como a Tintas Farben e a Wanda. Para o agente penitenciário Cléber Pinho, coordenador do transporte e responsável pela oficina, o investimento das empresas é um sinal de confiança na competência dos presos. “Essas indústrias acreditam na mão de obra e na capacidade de ressocialização dos presos”, destaca Cléber.
Mário da Paz Ferreira, de 45 anos, já tinha experiência com mecânica antes de cumprir pena, mas aprimorou o conhecimento com leitura e cursos no presídio – Foto: Marcelo Sant’Anna/Imprensa MG
Cenário
Nos 100 metros quadrados da oficina, destacam-se um elevador hidráulico, lavadora de alta pressão, lixadeiras, furadeiras e tornos, além de um amplo leque de ferramentas e equipamentos de borracharia.
Já veterano, mas ainda ávido por livros e manuais técnicos, o detento Mário da Paz Ferreira, de 45 anos, tem notória liderança sobre os companheiros de trabalho. Há 12 anos na penitenciária, ele trabalhou anteriormente em concessionárias da Voslkswagen e da Chevrolet e foi proprietário de uma pequena oficina, somando uma experiência de 10 anos, antes de ser condenado a 55 anos de reclusão.
Mário conta ter aperfeiçoado seus conhecimentos dentro da penitenciária, em cursos de mecânica e de pintura. Atualmente, está fazendo um curso técnico de eletrônica. Embora elogie os professores que teve, ele considera “sua maior conquista” o conhecimento adquirido solitariamente na leitura de livros de tornearia mecânica que encontrou na biblioteca da Dênio Moreira.
“Aqui, não perdi tempo! Ganhei tempo! Se a pessoa quiser sair do mundo do crime, esta penitenciária oferece todas as condições”, enfatiza o detento.
Embora ainda tenha uma longa pena a cumprir, Mário não deixa de pensar no futuro fora das grades. Ele sonha em montar novamente uma oficina. Conta que, para isso, está fazendo uma poupança com os três quartos do salário mínimo que recebe de remuneração pelo trabalho na penitenciária. (Agência Minas)
Parabens pela iniciativa, as pessoas se sentem uteis, acabam aprendendo uma profissão e não ficam a toa sem fazer nada.