Na semana passada, a unidade do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência do Norte de Minas (Samu Macro Norte) de Bocaiuva foi acionada para atendimento a um bebê de 2 anos que teria se engasgado enquanto comia biscoitos. Ao chegar ao local, a unidade encontrou a criança já sem vida. Nesta semana, o Samu foi acionado em Montes Claros para atendimento a um menino de 2 anos e 4 meses que também se engasgou, desta vez ao engolir uma moeda. E na última terça-feira, um bebê de 7 dias se engasgou ao tomar gotinhas de remédio e foi orientada por telefone pelo médico regulador até a chegada da unidade de atendimento ao local e, felizmente não houve maiores complicações.
Episódios de engasgo e aspiração são comuns na infância, principalmente com crianças de até 3 anos de idade. Bebês, por exemplo, podem engasgar com o leite durante a amamentação ou ao regurgitar enquanto dormem. Em crianças menores, o risco maior é de aspirar alimentos em grão ou engasgar com balas ou pequenos objetos levados à boca por curiosidade. “Nesses casos, a intervenção precoce é fundamental para que o atendimento seja o mais eficaz possível”, explica o pediatra Iuri Sânzio Souto, que atua na base do Samu em Montes Claros.
Dos 537 atendimentos realizados pelo Samu Macro Norte a crianças menores de 2 anos no primeiro semestre deste ano, 27 foram por esse tipo de acidente. Estatísticas americanas demonstram que 5% dos óbitos por acidentes com menores de 4 anos se devem à aspiração de corpo estranho e esta aparece como a principal causa de morte acidental domiciliar em menores de 6 anos. No Brasil, a aspiração de corpo estranho é a terceira maior causa de acidentes, nesta faixa etária, com morte.
Para saber identificar e socorrer os pequenos nessas situações, Iuri Sânzio explica que o primeiro passo é observar se o bebê está com a pele arroxeada ou pálida, sinais de que ele está engasgado. “Se a criança está tossindo e tentando, assim, eliminar o desconforto, deixe que ela reaja sozinha e naturalmente e não tente provocar vômito ou retirar o objeto com as mãos, a menos que consiga vê-lo ao abrir a boca da criança”, orienta.
O pediatra recomenda que o adulto apoie a criança no antebraço, mantendo-a levemente curvada para baixo. Ainda nessa posição, deixe a criança de lado ou de barriga para baixo e dê tapas firmes em suas costas, mas não com muita força, até que ela consiga expelir o que provocou o engasgo. “Essa técnica pode ser utilizada como uma tentativa de socorro, mas não é um socorro efetivo. Por isso, nessas situações o ideal é que uma pessoa faça a manobra na criança enquanto outra entra em contato com o Samu 192”, recomenda o pediatra.
Iuri Sânzio também orienta aos pais que não sacudam a criança, pois esse movimento pode causar traumatismo ou deslocar o corpo estranho ingerido para locais mais profundos no pulmão.
NA HORA DE AMAMENTAR
Como os bebês costumam engasgar com o leite materno, é importante deixá-los no colo na posição vertical após a amamentação e deitá-los somente depois de alguns minutos. Para evitar que o bebê tenha refluxo durante o sono, a orientação é deixá-lo com a cabeça mais elevada. “O ideal é que deitá-lo do lado direito, com a cabeça elevada, pois o estômago situa-se do lado esquerdo. Dessa forma, evita-se que o bebê pressione o estômago e regurgite”, orienta.
CRIANÇAS ATÉ 2 ANOS DE IDADE
As crianças com até dois anos de idade são mais propensas a engasgarem com objetos pequenos, pois estão na fase oral e podem colocar na boca o que encontram no chão e é importante que os adultos tenham cuidado ao manusear grãos, como milho e feijão, pois podem cair no chão e ficar ao alcance das crianças.
Nesses casos, a criança pode broncoaspirar esses grãos, ou seja, o alimento pode parar no pulmão em vez de cair no estômago. “Quando a criança broncoaspira um alimento ou um objeto ela pode demonstrar tosse, cansaço e palidez, dependendo do corpo estranho que ingeriu. Em casos assim, a chance de a criança chegar ao hospital ou ser socorrida no local em tempo hábil é maior do que quando ocorre um engasgo”, explica o médico. (Jerúsia Arruda)