Cidade está isolada há mais de 15 dias. Sem a embarcação, veículos não podem atravessar o Rio São Francisco.
Franklin Alves é dono de um restaurante em São Romão (MG), município de 11.370 habitantes, no Norte de Minas Gerais. Em pouco mais de 15 dias ele viu o movimento no comércio cair 80%, depois que a balsa que dá acesso à cidade foi interditada pela Capitania Fluvial do São Francisco, por não oferecer as condições de segurança necessárias.
“Nossos clientes são principalmente os caminhoneiros, como eles não podem passar, estamos funcionando apenas para atender a freguesia da cidade, que corresponde a cerca de cinco marmitas por dias. Estamos com muitas contas para pagar e precisamos buscar explicações para os nossos fornecedores”, fala o empresário.
Franklin trabalha junto com a mãe, além da redução da clientela, também sente dificuldade para fazer compras. “Os produtos estão muito caros, quando ainda acho nas prateleiras do supermercado.”
A balsa de São Romão transporta pedestres e todos os tipos de veículos, apenas os com placa de outros lugares pagam pela travessia. O município faz parte do trajeto de quem segue para Brasília (DF), entre outros locais. Quem segue de Montes Claros, maior cidade do Norte de Minas Gerais, para São Romão percorre 190 quilômetros, agora, por causa da necessidade de um desvio, a distância mais que dobrou, e corresponde a 450 quilômetros.
Carlos Umberto Queiroz mora em Bonito de Minas (MG) e trabalha na cidade. “A balsa é tudo, se a balsa para, tudo para, vamos abastecer a cidade como? Ficamos completamente isolados, atravesso de graça, agora tenho que pagar R$ 6 pela ida e volta, em um barco”.
Balsa está parada na margem para manutenção (Foto: Michelly Oda / G1)
Apesar das reclamações da maioria dos usuários da balsa, a falta deste tipo de transporte tem representado uma oportunidade de renda extra para os barqueiros da região.
“Quando não estão mexendo com o turismo e com a pesca fico parado. Mas com a balsa assim ganho um dinheiro bom”, fala o pescador Anderson dos Santos, que diz transportar 500 pessoas por dia de barco.
Além do transporte de pedestres, os barqueiros também levam as mercadorias que chegam aos comércios da cidade. Luciano Magalhães, gerente de um supermercado, explica que os produtos mais leves estão sendo trazidos desta forma, já os que tem peso maior, como os cereais, caixas de leite e de óleo, não podem ser trazidos de barco. Por enquanto o estabelecimento está conseguindo se manter com o estoque, que também já está ficando vazio e deve durar apenas mais quatro dias.
“Para mim o atendimento ao cliente tem que ser perfeito, muitos deles estão reclamando falta de produto. Além disso, o fornecedor já sabe da dificuldade pra trazer a mercadoria e aumenta preço, se eu continuar com preço anterior não vou cobrir a minha despesa e acabo tendo que repassar”, fala Luciano Magalhães.
O operador de irrigação Alex Caciquinho diz já ter sentido os reflexos do desabastecimento. “Muitos produtos estão em falta, o preço está só aumentando e eu tenho que pagar com o cartão, porque os bancos não têm dinheiro disponível para saque.”
O que diz a Prefeitura?
A manutenção e operação da balsa são de responsabilidade da Prefeitura. Esta é a segunda vez no ano que há interdição pelo mesmo motivo. Valdiney Vieira, é responsável pela embarcação. Ele explica que a Capitania exigiu o cumprimento de 19 itens, entre eles reparos no reboque, no casco, colocação de torres e troca de coletes salva-vidas. A expectativa é de que na segunda-feira (20) a situação seja normalizada.
“Devido o aumento do fluxo de veículos não tínhamos tempo para parar a balsa e fazer os reparos, já que também só temos uma. O comandante da Capitania foi trocado e ele seguiu pelo rio fazendo inspeções em todas as balsas, tanto que várias foram interditadas”, explica.
Valdiney informou que os reparos devem custar R$ 30 mil. Ele também fala que há outra balsa no município, mas a Administração Municipal não consegue os R$ 300 mil necessários para colocá-la em circulação.
(Fonte: Inter TV Grande Minas / G1)