Blogueiro que passou últimos dias com jornalista decapitado está apreensivo

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Ex-produtor de TV, que já investigou a exploração sexual infantil no Jequitinhonha, há pelo menos seis anos, afirma que clima de medo já existia.

A morte do jornalista Evany José Metzker, de 67, encontrado decapitado na última segunda-feira (18), em Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, tem gerado apreensão entre os colegas da área que trabalham na região. Provavelmente, o crime teve como motivação, uma investigação que o profissional fazia sobre exploração sexual infantil.

O blogueiro Valseque Bomfim, de 64 anos, conheceu Metzker há cerca de um mês, quando o jornalista se hospedou na cidade para fazer uma reportagem. Ele foi o último profissional da área a ter contato com a vítima e se sente inseguro para continuar realizando denúncias, “preferindo falar pouco” sobre o assassinato do colega.

Segundo ele, Metzker se apresentou como jornalista investigativo e disse que estava na cidade trabalhando em uma reportagem para o seu blog, o “Coruja do Vale”, sem mencionar do que se tratava. O jornalista propôs uma parceria ao blogueiro, que há quatro anos é responsável pela página “Lentes do Vale”, na qual publica notícias sobre a região. Bomfim conta que aceitou o convite e que ele e Metzker se encontraram algumas vezes, mas não chegaram a apurar nenhum assunto juntos. “Às vezes a gente conversava, se esbarrava aqui pela cidade, mas trabalhar junto não”, contou.

Ainda segundo Bomfim, a última vez que ele teve contato com Metzker foi no dia 13 de maio, quando os dois jantaram juntos. Na ocasião, o jornalista disse ao colega que iria viajar. “Ele disse que ia para Brasília, mas não mencionou o que faria lá”, disse Bomfim. O blogueiro conta que após a morte de Metzker, o clima na cidade – que tem aproximadamente 20 mil habitantes – é de apreensão.

Antecedentes

Há cerca de seis anos, o jornalista Gil Sotero esteve na mesma região em que o homicídio de Metzker aconteceu e afirma que também sofreu ameaças quando levantava informações para a produção de um documentário também sobre exploração sexual infantil. Atuando como produtor do programa “Planeta Minas” da Rede Minas, ele e a equipe estiveram por cerca de dez dias rodando várias cidades na tentativa de flagrar os abusos.

“Assim que a gente chegou na primeira cidade, num instante se espalhou a informação, e percebíamos que sempre circulava um carro suspeito próximo à nossa equipe. Teve um dia que a gente tentou dar o flagrante, e nos falaram para sair, que a nossa segurança estava em risco. A região é dominada pelo crime, pelos poderosos que fazem parte deste esquema. Conseguimos fazer a reportagem, porque quando a gente sentia que ficava complicado, a gente ia para outra cidade e nunca divulgávamos o nome do hotel que estávamos”, lembrou.

Ainda de acordo com Sotero, a equipe conseguiu encontrar meninas de 9 anos grávidas, adolescentes soropositivas e o medo constante de moradores. “Eu pude sentir o drama da região. A exploração sexual é institucionalizada lá”. Os jornalistas ouviam por todos os lados que deveriam ir embora, mesmo trabalhando descaracterizados. “Não sabíamos quem eram essas pessoas e não tínhamos como provar (as ameaças) ou identificá-las”, completou.

Ainda, outros dois jornalistas do Vale do Jequitinhonha disseram ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais que já receberam ameaças por causa do trabalho. As intimidações aconteceram antes da morte de Metzker e não têm relação com o caso.

Segundo o presidente da entidade, Kerison Lopes, os dois profissionais, que pediram para não ser identificados, disseram que sempre que faziam matérias relacionadas a crimes recebiam ameaças, o que acontecia frequentemente. “A própria esposa dele (do Metzker) me contou que ele já havia recebido ameaças antes”, afirmou Lopes.

(Fonte: Jornal O Tempo)

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