O ESGOTO E AS CIDADES

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Sempre que falamos de tratamento de esgoto doméstico, imaginamos a construção de enormes estações de tratamento de esgoto, as chamadas ETEs. Estas ETEs são fundamentais na retirada da matéria orgânica da água, melhorando, e muito a sua qualidade antes de devolvê-la novamente para os rios. O esgoto despejado in natura nos cursos de água causa uma série de problemas ambientais e também para o homem que faz uso direto desta água. Mas será que é preciso juntar todo o esgoto bruto e tratá-lo de uma forma única? Nos modelos de tratamento de esgoto atuais, verifica-se que a descentralização do esgoto e o seu tratamento em miniestações ao longo da rede de coleta é uma alternativa viável para cidades de pequeno e médio porte.

A primeira etapa do processo já existe em praticamente todas as casas, sendo obrigatório nas obras de engenharia: as caixas de gordura. Estas pequenas estruturas separam parte da gordura oriunda da cozinha e que é despejada pelo esgoto. A caixa de gordura tem como o objetivo evitar entupimentos de rede, pois as gorduras se acumulam nos canos. Esta técnica, diretamente também auxilia no processo de decomposição biológica do esgoto. As gorduras possuem grandes cadeias químicas que dificultam a atividade das bactérias e a sua degradação. Sem elas a decomposição do esgoto fica mais fácil.

Para facilitar a degradação do esgoto pelas bactérias em muitos locais poderiam ser construídas as fossas sépticas logo após a passagem do esgoto pela caixa de gordura. Estas fossas reteriam a parte sólida do esgoto, um verdadeiro banquete para as bactérias chamadas anaeróbicas e paralelamente, eliminando as bactérias que causam doenças. Esta atividade reduziria a quantidade de poluentes orgânicos no esgoto. Após este primeiro processo de purificação, o esgoto passaria pelo chamado filtro anaeróbico. Este filtro, ocupado por pedras de construção, as chamadas britas, seriam a casa de outro grupo de bactérias que também utilizariam a matéria orgânica do esgoto para sua alimentação. Ao final deste processo o esgoto estaria cerca de 90% mais limpo ou até mais, dependendo da quantidade de esgoto gerado. Desta forma seria despejado na rede de esgoto uma água pré tratada com a sua purificação final sendo feita nas estações de esgoto. Mas, dependendo de sua quantidade, este esgoto previamente tratado poderá ser também descartado em buracos abertos no solo, as chamadas fossas brancas. Este esgoto, bastante purificado, teria o seu arremate final de tratamento sendo realizado pelas bactérias do solo que também utilizariam o restante de sua matéria orgânica como alimento, chegando as camadas mais profundas do solo uma água quase que totalmente tratada e sem risco de contaminação.

É claro que para implantação deste sistema de tratamento e descarte temos que conhecer uma série de fatores do solo, lençol freático, dentre outros, além é claro, da mudança de hábito da população evitando descartar nas pias e vasos, fios de cabelo, papel higiênico, camisinhas, absorventes, e tudo mais que comprometesse o processo de transformação do esgoto. Para que novos modelos sustentáveis funcionem, dependemos não apenas de novas tecnologias mas também de mudanças de hábitos, ou seja, temos que fazer também a nossa parte.

Quem é Alexandre Sylvio Vieira da Costa?

– Nascido na cidade de Niterói, RJ;
– Engenheiro Agrônomo Formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro;
– Mestre em Produção Vegetal pela Embrapa-Agrobiologia/Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro;
– Doutor em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa;
– Pós doutorado em Geociências pela Universidade Federal de Minas Gerais;
– Foi Coordenador Adjunto da Câmara Especializada de Agronomia e Coordenador da
Comissão Técnica de Meio Ambiente do CREA/Minas;
– Foi Presidente da Câmara Técnica de eventos Críticos do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Doce;
– Atualmente, professor Adjunto dos cursos de Engenharia da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Campus Teófilo Otoni;

– Blog: asylvio.blogspot.com.br
– E-mail: alexandre.costa@ufvjm.edu.br

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