Os corpos foram enterrados na tarde desta sexta-feira no cemitério de São Sebastião do Maranhão, na Região do Vale do Rio Doce
O clima de comoção e tristeza tomou conta de São Sebastião do Maranhão, na Região do Vale do Rio Doce. Os corpos de seis das setes vítimas do acidente entre uma carreta e uma van na BR-381 na madrugada de quinta-feira, 5 de março, em Oliveira, na Região Centro-Oeste, foram enterradas na tarde desta sexta-feira (6). Um padre e um pastor levaram conforto as famílias das vítimas durante o sepultamento.
Vítimas foram enterradas nessa sexta-feira (6) – Foto: Wakhysmam Pinheiro
Os corpos chegaram na cidade de aproximadamente 10 mil habitantes por volta das 13h30. Eles foram velados na Igreja Matriz de São Sebastião e no Sindicato Rural. Milhares de pessoas lotaram os locais para se despedirem dos parentes. Os caixões ficaram fechados por causa do estado dos corpos, o que causou mais angústia e dor aos parentes. “Foram muitos gritos e choros. Algumas pessoas chegaram a desmaiar. Foi uma situação horrível. Por não poder ver os corpos por causa do caixão fechado, parentes ficaram com a sensação desespero”, afirma Wakhysmam Soares Pinheiro, secretária do prefeito da cidade.
O velório durou apenas uma hora a pedido do Instituto Médico Legal (IML) por causa do estado dos corpos. Em seguida, as vítimas foram levadas para o cemitério da cidade. “O sepultamento também foi rápido. Um padre e um pastor falaram e rezaram para dar conforto as famílias”, conta Wakhysmam Soares. O prefeito do município decretou luto por três dias.
Acidente na BR-381
Acidente aconteceu na BR-381, em Oliveira – Foto: PRF/Divulgação
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a carreta que transportava cimento seguia de Belo Horizonte para São Paulo quando atravessou a mureta de divisão de pistas, entrou na contramão e atingiu a lateral da van que viajava de Jundiaí para São Sebastião do Maranhão. Morreram o motorista da carreta, Dejair Coelho de Souza, morador de Santa Gertrudes (SP), um dos motoristas da van e dono do veículo, Ivanildo Alves Shimith, e as passageiras Ana Rodrigues Carneiro, de 75, Aparecida Carneiro Morais Costa, de 32, Ana Guedes Gomes dos Santos, Maria Aparecida Fonseca Pires e Rita Ferreira de Souza Alves.
O segundo motorista, que estava ao volante da van, Adriano José da Silva, sobreviveu e deu entrada com trauma de crânio na Unidade Regional de Pronto-Atendimento de Lavras, no Sul de Minas. Consciente, ele precisou ser transferido para a Santa Casa de Misericórdia da cidade e, segundo funcionários, está no Centro de Terapia Intensiva (CTI).
Cidade se une no luto
A lembrança da tragédia antecedeu a chegada dos corpos e uniu em luto a cidade. Vários moradores estenderam faixas pretas nas janelas e varandas em solidariedade. O comércio baixou as portas e os lojistas pregaram avisos de condolências nas paredes dos estabelecimentos. Uma moto com equipamento de som circulou pelas ruas de calçamento de paralelepípedos emitindo avisos de luto e informando sobre o velório.
Moradores estenderam faixas pretas em solidariedade – Foto: Edésio Ferreira / Estado de Minas
Entre a multidão que tomou a praça central e a igreja para prestar suas homenagens estavam familiares de vítimas ainda atordoados. Muitos choraram a morte de mais de um ente, como a auxiliar de produção Marcielle Teixeira dos Santos Shimith, de 21, que perdeu o marido, Ivanildo, e a irmã, Rita. “Ainda estamos sem ação. Sem saber o que fazer ao certo. É como se tivessem arrancado um pedaço do meu coração”, disse.
A filha do casal, Yasmim Vitória de Souza Shimith, de 5, ainda não entendia bem o que ocorreu. Triste, repetia ter saudades do pai, chorava, e se via perdida entre a multidão consternada na porta da igreja, sem saber com quem conversar e até se corria com as outras crianças pequenas que brincavam de pique entre as árvores.
O irmão de Ivanildo, José Alves dos Santos, de 35, lembra que o caçula comentou ter muitos planos antes de viajar. “Ele queria ampliar a empresa de transportes, porque estava atendendo muita gente que precisa ir a São Paulo para trabalhar ou visitar parentes”, conta. A viúva, Marcielle, lembra de ter comentado sobre os perigos da estrada. “O movimento de carretas é pesado demais (na Fernão Dias). Mas o Ivanildo dizia estar sempre com Deus ao seu lado. Era um homem guerreiro, um ótimo pai e marido”, afirma.
Outra irmã de Rita, Maria da Penha Teixeira dos Santos, de 39, conta que a passageira da van estava fazendo tratamento de saúde em São Paulo. “Ela estava com problemas nos rins e na coluna. A morte dela deixou todo mundo atordoado, porque era uma pessoa que ajudava muito as pessoas. Acompanhava os doentes, alegrava quem estava triste e aconselhava quem tinha problemas”, afirma.
Prefeito decretou luto de 3 dias – Foto: Edésio Ferreira / Estado de Minas
Vidas marcadas
Cada uma das vítimas era membro ativo de uma comunidade pequena e unida onde praticamente todos se conheciam. Entre eles estavam, por exemplo, uma professora, a funcionária do único restaurante, a cunhada de um vereador e o dono de uma transportadora. “As pessoas estão muito solidárias e tristes também. Nunca tínhamos enfrentado uma tragédia como essa por aqui e isso vai nos deixar marcados”, disse a secretária municipal de Saúde, Renessa Alves Damasceno. Segundo ela, muitos parentes das vítimas precisaram ser medicados no posto de saúde por problemas de pressão e emocionais desencadeados pela perda.
Auxiliando nos preparativos e também no conforto dos parentes, o padre Amarildo Dias da Silva, que está na cidade há apenas 10 meses, também disse ter sentido o desafio. “Nossa formação como sacerdote nos prepara para muitas situações e para ajudar a comunidade, mas qualquer pessoa que vê o desespero de uma filha em saber que a mãe que estava voltando de viagem não vai mais chegar é muito triste e marca nossa vida”, disse.
Vítimas foram enterradas nessa sexta-feira (6) – Foto: Wakhysmam Pinheiro
Vítimas foram enterradas nessa sexta-feira (6) – Foto: Wakhysmam Pinheiro
Vítimas foram enterradas nessa sexta-feira (6) – Foto: Wakhysmam Pinheiro
(Fonte: Jornal Estado de Minas)