Quatro gerações da família Rocha já desfilaram na cidade. Matriarca, de 103 anos, diz ter saudades de quando dançava na avenida.
O amor da família Rocha pelo Carnaval de Guanhães (MG) já ultrapassa quatro gerações. Pioneiros na região, eles criaram uma escola de samba. Na família tem passistas, e há quem arrisque nas batidas do tamborim. Mas o coração de todos bate no mesmo ritmo; o carnavalesco.
O mestre sala e a porta bandeira da família Rocha desfilaram pela escola de samba ‘Vai quem qué’ (Foto: Patrícia Belo / Inter TV dos Vales / Portal G1)
Maria Clara Rocha, de 103 anos, é o nome que dá início a esse amor da família pelo carnaval. A aposentada lembra com carinho da primeira vez que saiu na avenida de Guanhães, na ala das baianas, na então escola de Samba Unidos do Guarani. A agremiação foi extinta há alguns anos e deu origem a duas outras atuais escolas do município, a ‘Alô Guanhães’ e ‘Vai quem qué’.
“Passei a vida na roça, sempre trabalhando, e na década de 80, a minha família e algumas outras pessoas tiveram a ideia de desfilar na avenida, e organizar uma festa de carnaval em Guanhães. A partir daí surgiram três escolas de samba na cidade, e, já no primeiro ano, a minha escola foi a campeã. Daí para frente toda família tomou gostou pela festa, e a tradição até hoje é mantida pelos meus netos, bisnetos e sobrinhos”, recorda a aposentada.
O costume de manter viva a tradição pelo carnaval foi a herança que Maria Clara deixou para família. Primogênita de uma casa com sete irmãos, a aposentada fez da residência onde morava um verdadeiro reduto de apaixonados pela festa.
O amor da família Rocha pelo Carnaval de Guanhães já ultrapassa quatro gerações. Maria Clara Rocha, de 103 anos, é a matriarca (Foto: Patrícia Belo / Inter TV dos Vales / Portal G1)
Tanto que uma de suas irmãs, a também aposentada Júlia Rocha, de 100 anos, seguiu os passos da pioneira Maria Clara e também tornou-se passista; e relembrou que já sambou com muita alegria, pelas ruas de Guanhães.
“Me lembro como se fosse hoje, o som do primeiro enredo da escola Unidos do Guarani, no qual participei. As memórias são tão fortes que ainda posso ouvir os batuques dos tambores pela avenida. Na ala das baianas, que era o carro chefe da família, desfilei por mais de horas, com uma roupa branca, rendada, feita por amigos e parentes. Isso foi há uns 30 anos, mas ainda hoje fecho os olhos e consigo sentir a alegria do carnaval”, reviveu Júlia Rocha.
Atualmente, as irmãs estão impossibilitadas de desfilar na avenida, mas as boas lembranças do evento motivam os demais familiares, e especialmente dois netos de Júlia Rocha, a manter viva a tradição de tantos anos.
Silvane Francisca do Santos Silva, de 40 anos, e Anildo Jesus dos Santos, de 43, são a continuidade da família Rocha na avenida de Guanhães. Mestre Sala e Porta Bandeira da Escola de Samba ‘Vai quem qué ’, os dois irmãos mostram que a geração ainda mantém o samba no pé.
“Nossa família tem uma história linda com o carnaval de Guanhães, e desde pequenos nossa mãe nos trouxe para avenida para desfilar, e conhecer um pouco da trajetória da nossa vó Júlia e da minha tia avó Maria Clara. Não foi difícil tomar gosto pela avenida, e há 20 anos mantemos viva a tradição de desfilarmos pela escola ‘Vai quem qué’ ”, contou Anildo.
Mas nem tudo é só alegria na vida da família Rocha. Em novembro do ano passado, Silvane e Anildo perderam a mãe, Geralda Francisca do Santos, que por muitos anos também foi passista de carnaval na cidade. Os irmãos relatam que a dor da perda até os fizeram pensar em não sair na avenida no carnaval de 2015.
“Perdemos um tesouro, que é a nossa mãe, e nos apresentarmos no carnaval é reviver uma lembrança muito forte, já que ela gostava muito de desfilar, e de preparar as fantasias. O carnaval é um evento que sempre nós trará boas recordações”, contou Silvane.
A porta bandeira conta que foi difícil a decisão de retornar para avenida. “Estávamos decididos a não desfilar este ano, mas quando foi no meio de janeiro, uma amiga nos convenceu de que a nossa apresentação na avenida seria uma homenagem a nossa mãe. Por isso decidimos encarar o desfile e representar a memória dela, pelas ruas de Guanhães”, acrescentou.
Aconchego antes da folia
Em busca de inspiração, Silvane e Anildo foram até a casa da avó Júlia e da tia avó Maria Clara, na tarde de domingo (15), antes de caírem na avenida do samba.
O mestre-sala e a porta bandeira acreditam que reviver um pouco da história da família, por meio de relato da tia e das avós, é um motivo a mais para fazer bonito na hora da apresentação.
“É aqui, o começo de tudo. Hoje, na avenida, eu e meu irmão somos um pedaço da família, mas teremos ao longo da avenida, em outras alas, meus filhos, sobrinhos, primos, afilhados, todos de uma geração da família Rocha. Visitar essas duas, que por causa da velhice estão impossibilitadas de participar ativamente do carnaval, me traz força, somado à memória da minha mãe, para fazer ainda melhor na noite da apresentação”, finalizou.
(Fonte: Portal G1)