Ao que parece o homem nunca está satisfeito. Grande parte do Brasil passou por um grande aperto nos últimos meses por conta da falta de chuvas e, consequentemente, a falta de água nas torneiras, principalmente das grandes cidades onde o número de pessoas e o consumo são maiores. Finalmente chegamos ao período das águas, das chuvas, mas agora, muitas pessoas estão clamando aos céus para parar de chover. Diversos fatores levam as pessoas a estas ações aparentemente contraditórias. Em primeiro lugar podemos citar a regularidade das chuvas. Em grande parte do território brasileiro existe uma divisão muito clara entre período chuvoso e período seco. Um outro problema é a intensidade das chuvas. Algumas chuvas duram pouco tempo mas são extremamente fortes e intensas capazes de fazer grandes estragos. Bom seria se as chuvas fossem bem distribuídas ao longo do ano e de intensidade média e constante, mas a natureza não funciona com a nossa lógica e sim com a lógica do planeta.
Estudamos durante décadas e até mesmo séculos sobre o clima, o seu comportamento, temos equipamentos de ultima geração, satélites espalhados pela estratosfera indicando o movimento das massas de ar, mas ainda não aprendemos a nos ajustar e a evitar seus impactos. Conhecemos o que acontece com as águas das chuvas quando penetram nos solos formando os lençóis freáticos e artesianos, nascentes, rios, lagos, mas mesmo assim permitem que se construa em áreas totalmente inapropriadas e de altíssimo risco. As bacias hidrográficas são casos específicos de ocupação dos espaços de forma desordenada.
Uma bacia hidrográfica ou microbacia são áreas onde as águas convergem para um ponto em comum, geralmente rios e riachos. Dependendo do tamanho da área da bacia e do seu tipo de solo esta conversão será mais rápida ou mais lenta. Em bacias com grandes áreas de vegetação e reflorestamento os solos se tornam grandes reservatórios reduzindo os riscos das enchentes. Quando o homem ocupa esta bacia de forma desordenada impermeabilizando o solo com construções, calçadas e asfaltos, todas as águas passam a fluir superficialmente aumentando seu volume e as enxurradas. As redes pluviais não resolvem o problema apenas transferem para outro local, geralmente para quem está nas partes mais baixas da bacia, próximo aos rios. Em muitos casos as cidades crescem de forma muito rápida e desordenada a ponto de até mesmo as redes pluviais não resolverem o problema, com as enchentes acontecendo; vide o caso da cidade de São Paulo.
Em muitas regiões, infelizmente as ocupações desordenadas já ocorreram de forma intensa, restando apenas reavaliar a capacidade das redes pluviais considerando que as redes geralmente são antigas, criando dentro do planejamento de expansão das cidades, o famoso plano diretor, uma proposta de troca do sistema de drenagem visando uma maior captação das águas e redução dos riscos para a maioria da população. Infelizmente, para pessoas que moram próximo ou até mesmo nas margens dos rios não resta outra alternativa a não ser estudar a sua realocação para áreas mais seguras.
Devemos ter em mente que o planejamento de ocupação de uma bacia hidrográfica é item fundamental para qualquer projeto de expansão residencial ou industrial nas grandes e médias cidades e centros urbanos que atraem cada vez mais pessoas.
Quem é Alexandre Sylvio Vieira da Costa?
– Nascido na cidade de Niterói, RJ;
– Engenheiro Agrônomo Formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro;
– Mestre em Produção Vegetal pela Embrapa-Agrobiologia/Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro;
– Doutor em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa;
– Pós doutorado em Geociências pela Universidade Federal de Minas Gerais;
– Foi Coordenador Adjunto da Câmara Especializada de Agronomia e Coordenador da
Comissão Técnica de Meio Ambiente do CREA/Minas;
– Foi Presidente da Câmara Técnica de eventos Críticos do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Doce;
– Atualmente, professor Adjunto dos cursos de Engenharia da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Campus Teófilo Otoni;
– Blog: asylvio.blogspot.com.br
– E-mail: alexandre.costa@ufvjm.edu.br
