A luta pela conservação das características históricas da Igreja São José, que seria ampliada para comportar o número de fiéis em Timóteo, no Vale do Aço, fez nascer uma iniciativa inédita no país: a construção de um templo subterrâneo, bem debaixo da capela, de 1947. O projeto está orçado em cerca de R$ 3 milhões, dinheiro que será arrecadado por meio de doações dos fiéis.
Também conhecida como Igrejinha da Praça, a capela fica no centro comercial de Acesita (Norte), e está ligada à história de construção de Timóteo e da Companhia Aços Especiais Itabira (Acesita). Foi o primeiro e ainda é considerado o principal templo religioso da cidade. Por seu valor histórico e cultural, foi incluído no inventário de proteção do acervo cultural do município para ser tombado.
A necessidade de reforma surgiu com o crescimento de fiéis e a falta de acesso para portadores de necessidades especiais. Segundo o padre Pacifal José do Nascimento, a igrejinha comporta cem pessoas sentadas, mas a frequência aos domingos gira em torno de 1.500. Cadeiras são colocadas do lado de fora para que todos possam assistir às missas.
Mas os fiéis que estão do lado de fora forçam a entrada quando chove e ficam espremidos, comprometendo o conforto e a segurança. O mesmo acontece nos dias de calor.
O pároco montou um conselho com representantes de todos os bairros para definir e iniciar um estudo para o projeto de reforma.
A ideia inicial era preservar apenas a fachada ou deixar as características “parecidas”. As laterais e o interior seriam mudados. No entanto, antes mesmo de ser confirmada, a reforma virou polêmica e ganhou as redes sociais. Depois disso, o Ministério Público entrou no caso, e a Justiça proibiu qualquer intervenção que provocasse a descaracterização.
Também mandou a paróquia reparar toda a rede elétrica do imóvel em 30 dias, sob pena de interdição. Um laudo técnico elaborado pela Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais atestou o valor histórico, paisagístico e simbólico do templo religioso, como também a necessidade de reforma da parte elétrica.
Perspectivas do anexo da igreja, que será construído sob a capela – Foto: Divulgação
Obras
A igreja subterrânea de Timóteo terá 1.200 assentos, além de outros espaços. O início da obra depende da aprovação do projeto arquitetônico, apresentado à prefeitura em setembro deste ano.
Segundo o arquiteto Cássio de Lucena, que assina o projeto junto com Vinícius Ávila, uma alternativa avaliada foi construir ao lado, mas a igrejinha ficaria sufocada e a paisagem arquitetônica, alterada.
Lucena explica que um conceito muito forte que veio somar à decisão técnica de ampliação para o subsolo foi o da árvore de raiz invertida. Nele, as raízes representam a origem do ser e a copa a evolução do indivíduo, metáfora que pode ser transposta para a solução adotada para o projeto arquitetônico no qual a memória e a história estariam representadas pela Igrejinha (raiz) e a evolução representada pela ampliação para o subsolo (copa).
Arrecadação
O padre Pacifal José do Nascimento está maravilhado com a construção e revela que espera apenas a aprovação do projeto pela prefeitura para começar a campanha de arrecadação do dinheiro. “A solução é criativa, maravilhosa. Essa não será a primeira grande obra da minha vida. Confio, principalmente, na boa vontade dos fiéis com as doações”.
A expectativa do padre é a de que a obra seja inaugurada em três anos. Segundo o religioso, se existe alguma igreja subterrânea no país, não há registros oficiais.
“A ideia é diferente, ousada. Se fizerem mesmo, vai ser muito bom para a cidade. Mas será que vão conseguir direcionar bem a água da chuva que desce pelas bocas de lobo? Essa cidade tem muitos problemas de infraestrutura”, questiona o comerciante Sebastian Madeira, de 45 anos.
“Vai ser uma mistura do velho com o novo, que ficará escondido no subsolo. Se for seguro, vai resolver o problema da falta de espaço e atrair turistas”, acredita o ajudante Adilson Irias, de 44 anos. Na mesma mesa de jogos que fica na praça em frente à igrejinha, José Cirilo Siqueira, de 69 anos, ouvia desconfiado. “Se ficar pronta, vai ser muito curioso”.
De acordo com informações do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), não existe, no Brasil, igrejas subterrâneas, o que tornará a de Timóteo inédita em Minas Gerais e no país. A prefeitura de Timóteo ainda não se posicionou sobre a aprovação do projeto arquitetônico e tombamento da Igreja São José.
(Fonte: Hoje em Dia)