Acabaram as eleições. Votamos em deputados, senadores, governadores e presidente e um novo quadro político foi desenhado (ou não) no país. Mas, um problema ainda me preocupa e acredito que não será resolvido tão cedo: os interesses políticos acima dos interesses técnicos.
Quando comentamos sobre as chuvas, sua redução e irregularidade não falamos apenas sobre o que vemos, mas sobre estudos técnico científicos. Estudos que analisam informações de décadas atrás até os dias atuais para elaboração de um padrão de comportamento das águas. A partir das análises de milhares de dados, determinação de modelos matemáticos e outros estudos aprofundados os pesquisadores passam a ter ideia do comportamento futuro das chuvas e de todo o regime hidrológico das regiões. Com estas informações climáticas associadas às informações sociais como crescimento populacional, renda familiar, consumo de água tratada, os técnicos conseguem estimar quanto de água estará disponível para a população, qual será o seu balanço entre geração e consumo e, se houver déficit ou saldo negativo, quanto tempo a água dos reservatórios irá durar.
Com estes dados e as estimativas futuras em mãos a respeito de uma possível crise hidrológica, estes profissionais partem para as reuniões com os gestores políticos, sejam eles municipais, estaduais ou federal, apresentando as análises técnicas obtidas em seus estudos e, a partir deste ponto, geralmente, tem início uma série de problemas. Infelizmente os nossos políticos ao se depararem com um problema desta magnitude pensam em primeiro lugar: qual será o impacto deste evento na minha gestão em relação a opinião pública e será que irá comprometer a minha próxima candidatura? Outro ponto a ser pensado pelo político: vou gastar milhões em recursos para um problema que ainda não existe? Seria melhor investir em praças, asfalto, iluminação pública, investimentos que trazem muito mais dividendos políticos e, votos!
Na prática, o pensamento é o seguinte: se resolver investir em uma obra de captação e armazenamento de água em um período em que não falta água, a população não reconhecerá o esforço e isto não trará votos, mas se investir milhões em um sistema de captação de água em um período de escassez, será considerado um herói! Com este raciocínio o político se volta para a sua equipe técnica e fala: “Vamos desengavetar este projeto quando ele for realmente necessário!”
Infelizmente em nosso país a população nunca foi tratada como prioridade. Até mesmo as ações sociais dos governos são manchadas de segundas intenções político-partidárias. E a grande maioria do povo brasileiro se acostumou a ficar com as migalhas ecoando uma das mais vergonhosas frases que representam a nossa política: “ele rouba, mas ele faz!” ou “ele rouba, mas ele me ajuda!”.
Enquanto a politica partidária for prioridade neste país continuaremos a ver pessoas morrendo nos hospitais pela falta de atendimento e nas ruas por balas perdidas e os nossos “poderes superiores” remanejando seus próprios salários e banalizando a corrupção institucionalizada.
Quem é Alexandre Sylvio Vieira da Costa?
– Nascido na cidade de Niterói, RJ;
– Engenheiro Agrônomo Formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro;
– Mestre em Produção Vegetal pela Embrapa-Agrobiologia/Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro;
– Doutor em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa;
– Pós doutorado em Geociências pela Universidade Federal de Minas Gerais;
– Foi Coordenador Adjunto da Câmara Especializada de Agronomia e Coordenador da
Comissão Técnica de Meio Ambiente do CREA/Minas;
– Foi Presidente da Câmara Técnica de eventos Críticos do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Doce;
– Atualmente, professor Adjunto dos cursos de Engenharia da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Campus Teófilo Otoni;
– Blog: asylvio.blogspot.com.br
– E-mail: alexandre.costa@ufvjm.edu.br