Uma grande discussão entre a agência reguladora dos recursos hídricos nacional, a ANA e o Governo do Estado de São Paulo teve início há algumas semanas atrás por conta do uso do segundo volume morto. Vamos analisar a situação.
Muitas das represas para abastecimento de água da população Brasileira existem há décadas, ou seja, foram concebidas há muito tempo. Nestas represas, as águas apresentam uma reduzida movimentação diferentemente das águas nos rios. Esta redução do movimento da água nas represas, permite que várias partículas presentes nestas águas sofram o processo de decantação, ou seja, se depositam lentamente no fundo destes lagos e represas formando uma espécie de lodo. Considerando que os rios que abastecem as represas apresentam ao longo de seu percurso diversas cidades que descartam lixo e esgoto nas suas águas, podemos afirmar que estes reservatórios recebem parte desta carga de poluição, que por decantação se acumulam no fundo do seu leito. Este material acumulado é rico em matéria orgânica e nutrientes minerais que estimulam a atividade de microrganismos no interior das represas. Como estamos falando da parte mais profunda, onde a quantidade de oxigênio é quase inexistente, tem-se inicio a atividade de um grupo seleto de microrganismos que não precisam de oxigênio para respirar, os chamados anaeróbicos. Estes indivíduos consomem lentamente este lodo que está no fundo das represas. Quanto mais quieto este lodo estiver mais lentamente será a ação destes seres microscópicos. Mas, se você mexer neste lodo, os problemas começam. Estes microrganismos acelerarão as suas atividades de consumo deste lodo e o que eles geram ao final disto não é nada agradável. São gerados muitos gases, principalmente gás metano, gás sulfídrico que é identificado pelo cheiro de esgoto ou de ovo podre, o gás amônio que também é tóxico e irritante para o ser humano dentre diversas outras substâncias químicas prejudiciais ao homem e ao meio ambiente.
Esta água do volume morto misturada com lama de esgoto decomposto e substâncias químicas tóxicas exigirá um trabalho mais apurado das empresas de tratamento de água. Será utilizado uma maior quantidade de substâncias químicas e processos de filtração e purificação da água para que ela possa ser consumida e gerando também uma maior quantidade de resíduos do tratamento.
O uso do volume morto dos reservatórios por conta da crise hídrica que vivemos não pode ter como vilão apenas os fatores climáticos mas também os nossos gestores. As populações dos centros urbanos estão crescendo assustadoramente assim como o seu consumo de água. Na contramão desta nova realidade estamos desmatando cada vez mais, reduzindo as áreas de recarga no campo, comprometendo as vazões dos rios no período seco e o abastecimento das pessoas. Esta tragédia hídrica não começou agora, mas já está sendo anunciada a muito tempo.
Temos que aprender com os nossos erros agora para evitar que a situação se agrave ao longo dos próximos anos. Devemos ter em mente que o inicio das chuvas nada mais é do que um alento temporário, que a recuperação das represas levará anos e que se nada for feito a tendência é a situação piorar ao longo dos próximos períodos secos. Não podemos ter memória curta. Mais informações no blog: asylvio.blogspot.com
Quem é Alexandre Sylvio Vieira da Costa?
– Nascido na cidade de Niterói, RJ;
– Engenheiro Agrônomo Formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro;
– Mestre em Produção Vegetal pela Embrapa-Agrobiologia/Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro;
– Doutor em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa;
– Pós doutorado em Geociências pela Universidade Federal de Minas Gerais;
– Foi Coordenador Adjunto da Câmara Especializada de Agronomia e Coordenador da
Comissão Técnica de Meio Ambiente do CREA/Minas;
– Foi Presidente da Câmara Técnica de eventos Críticos do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Doce;
– Atualmente, professor Adjunto dos cursos de Engenharia da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Campus Teófilo Otoni;
– Blog: asylvio.blogspot.com.br
– E-mail: alexandre.costa@ufvjm.edu.br