Pesquisa do Instituto Federal fortalece a produção de Cachaça de Alambique em Salinas

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Um projeto de pesquisa financiado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) é uma das principais apostas do curso superior de Tecnologia em Produção de Cachaça do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG)-Câmpus Salinas para voltar em grande estilo. Depois de passar por uma reestruturação, com a matriz curricular reformulada, o curso retoma a oferta anual de vagas. No primeiro semestre de 2015, haverá ingresso de 30 alunos, selecionados por meio do Vestibular, que está com inscrições abertas, ou do Sisu (Sistema de Seleção Unificada).

Esses alunos vão encontrar o curso e o próprio Câmpus aquecidos com a possibilidade de se tornarem referência, um centro de desenvolvimento tecnológico para apoiar as necessidades do Arranjo Produtivo Local (APL) da Cachaça de Alambique em Salinas. É exatamente essa a proposta da pesquisa que está sendo desenvolvida desde o início deste ano, como o próprio nome indica: “Fortalecimento do Arranjo Produtivo Local (APL) da Cachaça de Alambique em Salinas, Minas Gerais”.

Pesquisa dá força à produção de cachaça em Salinas (Foto: Álvaro Diego Mota)

À frente do projeto está o coordenador do curso, professor Oscar William Barbosa Fernandes. Mas a pesquisa também conta com a participação de outros 13 docentes e dois servidores técnico-administrativos do IFNMG-Câmpus Salinas, um professor da Universidade Federal de Ouro Preto, além da parceria da Associação de Produtores Artesanais de Cachaça de Salinas (APACS).

A proposta prevê ações em duas frentes: a implantação de projetos piloto de irrigação de canaviais cultivados com mudas de qualidade para aumento de produtividade agrícola, bem como o monitoramento sistemático de safras produtivas por meio de análises laboratoriais (físico-químicas e sensoriais) realizadas no Câmpus Salinas.

Piloto

A primeira unidade piloto de irrigação foi montada na propriedade de Aldeir Xavier de Oliveira, um dos associados da APACS. Mas, antes do plantio, a equipe do projeto avaliou a produção do canavial remanescente na propriedade, recolheu amostras de matéria-prima e cachaça produzida na safra anterior para análises e comparações futuras, como conta o professor Oscar. O primeiro plantio experimental da cana-de-açúcar foi finalizado no último mês de agosto. “A irrigação com água do poço artesiano está acontecendo de acordo com cálculos que determinaram volume da lâmina de água a ser aplicada semanalmente em função da necessidade hídrica da cana-de-açúcar e das precipitações pluviométricas”, explicar Oscar William. A colheita está prevista para agosto de 2015.

Segundo dados levantados para elaboração do projeto, a implementação de canaviais irrigados em pequenas áreas possui uma relação de custo benefício favorável, propiciando renda aos agricultores familiares devido à maior produtividade e qualidade da cana-de-açúcar. A irrigação permitirá manter canaviais existentes e instalar novas áreas com essa cultura, que se presta a diversos usos, como produção de cachaça, rapadura, açúcar mascavo e alimentação de animais. Assim, será possível favorecer a permanência do homem no campo, diminuindo impactos sociais tanto no campo quanto na cidade.

“Estamos numa região muito seca. A irrigação para nós é indispensável”, avalia o presidente da APACS, Eilton Santiago Soares. Ele aposta que, quando o projeto piloto tiver os primeiros resultados, monstrando que é possível ter maior produção em áreas menores, “esse projeto vai ganhar todos os produtores”.

Vocação regional

A preocupação em fixar os produtores no campo e dar a eles alternativas para ganhar em produtividade e qualidade fica ainda mais premente quando se recorda a importância econômica e tradição cultural da produção de cachaça em Salinas e região – no município, conhecido como o mais importante centro de produção de cachaça de alambique em Minas Gerais, esse setor produtivo responde por 1/3 da arrecadação do ICMS.

Porém, na opinião dos pesquisadores envolvidos com o projeto, apesar da importância econômica e cultural, a produção não é tecnologicamente homogênea. Um dos problemas enfrentados pelos produtores locais é a dificuldade para fazer o monitoramento da qualidade da bebida segundo o padrão de análises exigido pelo Ministério da Agricultura. Na região não existem laboratórios que realizem análises físico-químicas e/ou sensoriais de modo a satisfazer, com rapidez e custo acessível, as necessidades do produtores, obrigando-os a enviar amostras para grandes centros com custos elevados.

“Temos que mandar as amostras para Belo Horizonte”, confirma o Eilton Soares. Segundo ele, isso impacta a produção tanto do ponto de vista dos custos quanto da logística.

Segundo o professor Oscar, com a disponibilização dos laboratórios do IFNMG-Câmpus Salinas para a realização dessas análises, os produtores terão a oportunidade de monitorar continuamente o processo de produção, visando a melhoria da qualidade de seu produto e com maior aceitação no mercado. “Esse acesso dos produtores aos laboratórios possibilitará, também, a geração de informações e dados técnico-científicos importantes para o desenvolvimento da cadeia produtiva”, afirma Oscar.

O laboratório de Análise Sensorial já está, inclusive, apto a realizar as análises; o de Físico-química tem o funcionamento previsto para iniciar até março de 2015, quando a nova turma do curso superior de Tecnologia em Produção de Cachaça ingressar no IFNMG.

“Os resultados obtidos em nossas pesquisas serão enviados para revistas científicas com objetivo final de criar condições para efetivamente fazer do IFNMG-Câmpus Salinas um centro de referência nos estudos dessa cadeia produtiva, não somente importante para a Salinas, mas também para Minas Gerais e o Brasil”, aposta Oscar William. “O IFNMG vai nos dar suporte e, aí, nós vamos virar um polo”, comemora Eilton Soares.

Para informações sobre o Vestibular do IFNMG: www.ifnmg.edu.br.

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