Estamos passando pela maior crise dos recursos hídricos já registrada, segundo alguns analistas. Em diversas regiões do Brasil, principalmente em Minas Gerais e São Paulo a situação está caótica com racionamento intensivo. Não vou entrar no mérito das mudanças climáticas pois não podemos julgar os problemas do planeta apenas por um ciclo de alguns meses. O planeta também tem suas alterações climáticas periódicas, mas que, infelizmente, potencializado pela ação do homem. Nos orgulhamos de sermos detentores do maior manancial hídrico superficial do planeta. Muito bom, considerando que 70% desta água está na Amazônia. As Regiões Sudeste e Sul possuem uma pequena parte desta água e, justamente onde se concentra a maior parte da população brasileira. Nestas regiões onde encontramos a população mais rica do país e onde se consome mais água, deveríamos ser produtores de água, ou seja, respeitar e cumprir o mínimo que o código florestal brasileiro exige preservando as APPs (Áreas de Preservação Permanente) e as Reservas Legais. Mas para isto o produtor rural deveria ter uma compensação do governo, afinal, o ar, as matas e as águas são bens comuns segundo a constituição brasileira, ou seja, não pertence ao produtor rural mas a todos os brasileiros. Porque então apenas um deve pagar a conta para o benefício de todos? A nossa caixa d´água em casa está secando porque a caixa d´água do campo está secando.
Devemos ser duros com quem degrada o meio ambiente e acaba com os nossos recursos hídricos. Estado não deve ser apenas punitivo, mas também educativo e investir em parcerias técnico-científicas com universidades, instituições de pesquisa e de assistência técnica e principalmente, dar o suporte técnico e financeiro para que o produtor rural recupere o nosso bem mais precioso e de uso comum: a água. É claro que a seca faz parte do ciclo normal do planeta, mas poderíamos passar por este momento de forma mais tranquila sem o medo de abrir a torneira pela manha e encontrar apenar ar.
Nas cidades os rios já estão com a vazão reduzida e ainda despejamos nossos dejetos, fezes e urina, destruindo de vez o pouco de água que nos resta neste momento obrigando as estações de tratamento a utilizar cada vez mais produtos químicos para purificar a água e torná-la potável. A maioria das cidades brasileiras não possuem tratamento de esgoto, mas nós residentes cumprimos a nossa parte pagando mensalmente as taxas de esgoto cobrado pela maioria das cidades, mas onde está o serviço? E as pessoas que utilizam água potável para lavar calçadas e ruas como se não houvesse amanhã? O amanha vai chegar e a sua torneira vai secar!
Uma mudança de comportamento coletivo torna-se urgente neste momento de crise. O trabalho de recuperação do estrago ambiental que causamos ao longo de décadas não será fácil e deve começar imediatamente.
Os reflexos desta estiagem não serão apagados com o início das próximas chuvas. Os especialistas em recursos hídricos afirmam que, serão necessários alguns anos de chuvas igual ou acima das médias históricas para recuperar os estragos causados por esta estiagem na região Sudeste do Brasil. Com a tendência negativa dos últimos anos será que isto acontecerá? Quem viver verá.
Quem é Alexandre Sylvio Vieira da Costa?
– Nascido na cidade de Niterói, RJ;
– Engenheiro Agrônomo Formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro;
– Mestre em Produção Vegetal pela Embrapa-Agrobiologia/Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro;
– Doutor em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa;
– Pós doutorado em Geociências pela Universidade Federal de Minas Gerais;
– Foi Coordenador Adjunto da Câmara Especializada de Agronomia e Coordenador da
Comissão Técnica de Meio Ambiente do CREA/Minas;
– Foi Presidente da Câmara Técnica de eventos Críticos do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Doce;
– Atualmente, professor Adjunto dos cursos de Engenharia da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Campus Teófilo Otoni;
– Blog: asylvio.blogspot.com.br
– E-mail: alexandre.costa@ufvjm.edu.br