Na sua entrevista ao Jornal Nacional no dia 11 deste mês, o candidato Aécio Neves foi questionado sobre o Índice de Desenvolvimento Humano de Minas Gerais, que apesar de toda a riqueza do estado, é o menor IDH do sudeste e apenas o 9º do país.
Em resposta, Aécio justificou: “… Minas tem no nosso território, encostado no nosso território, o Vale do Jequitinhonha, o Norte Mineiro, o Mucuri, que é uma região que historicamente tem o IDH menor do que a média do Nordeste…”.
No dia 20, o secretário de Governo de Minas e coordenador da campanha tucana no estado, Danilo de Castro, para explicar as prioridades de agenda dos candidatos Pimenta da Veiga e Aécio Neves, foi de uma sinceridade ímpar: “Uberlândia tem mais votos do que todo o Vale do Jequitinhonha”.
Declarações mais do que infelizes, são desrespeitosas com a população destas regiões, chegando ao cúmulo de citar, como fez Aécio Neves, que a região do semiárido está encostada no território de Minas Gerais. Por sua vez, Danilo de Castro tratou a população do Vale do Jequitinhonha como uma simples questão aritmética: poucos eleitores = menor atenção.
Mas quando se trata, por exemplo, de privilegiar grandes grupos mineradores e os seus interesses econômicos, esta região de Minas Gerais é a ‘menina dos olhos’ dos tucanos.
Durante os 12 anos no poder à frente do Governo do Estado, de forma ininterrupta, o PSDB transformou Minas Gerais no paraíso dos minerodutos.
A empresa Sul Americana de Metais – SAM está implantando o Projeto Vale do Rio Pardo, um mineroduto que passará pelos municípios de Grão Mogol, Padre Carvalho, Fruta de Leite, Novorizonte, Salinas, Taiobeiras, Curral de Dentro, Berizal, no Vale do Jequitinhonha e Águas Vermelhas no Norte de Minas. Depois, adentra na Bahia e encerra o seu percurso na região sul do estado.
Para implantação deste projeto, o ex-governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia, assinou, em 22 de janeiro deste ano, um Decreto que desapropriou terras nos municípios do Norte de Minas e colocou-as à disposição da SAM. A empresa possui ainda autorização para captar 6.200 m³ de água por hora em uma região que tradicionalmente sofre com secas, inclusive com dificuldades para manter até o abastecimento regular à população.
A atuação das mineradoras em Minas Gerais é marcada por degradações ambientais e sociais, além das ligações escusas com o projeto neoliberal do governo mineiro: são outorgas ilícitas para utilização de água, desapropriações que violam os Direitos Humanos e utilização de trabalho escravo. Assim, a economia mineira fica cada vez mais dependente da mineração e intensifica o seu perfil de exportadora de produtos primários, ou seja, matéria prima para ser industrializada em outros países.
Curiosamente, esta é uma das críticas de Aécio Neves ao Governo Federal. Ele acusa o atual governo de incentivar exportações de produtos primários ao invés de incentivar as de produtos industrializados, sendo estes com maior valor agregado e que colaboram para o superávit da balança comercial brasileira.
Perceptível que entre o discurso de Aécio e a sua prática, existe um abismo colossal.
No Norte Mineiro e nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri ainda existem outras práticas que causam estranhamento.
Do aeroporto de Montezuma, esta a mais recente descoberta, à grilagem de terras por parte das grandes empresas siderúrgicas, utilizando-as para o plantio da monocultura do eucalipto, são vários exemplos do descaso de sempre com esta região do estado de Minas Gerais que possui potencial gigantesco de desenvolvimento econômico e social.
Infelizmente, continuamos a ver as atitudes de sempre, desta vez, cristalizadas em declarações de candidatos que são contraditórias, pois discursam sobre a ética, a transparência e o desenvolvimento econômico com combate à desigualdade social.
Mais uma vez, o Vale do Jequitinhonha, o Norte Mineiro e o Mucuri são um ‘estorvo’ para os projetos pessoais de políticos ambiciosos.
Mas desta vez, além de abandonarem o Vale do Jequitinhonha, nem desejam visitá-lo, afinal de contas, Uberlândia tem mais votos.
Forte abraço!
Quem é Paulo Henrique Silva?
Paulistano de nascimento e mineiro de coração, Paulo Henrique Silva é Administrador, Gestor de Projetos e Instrutor na área de Gestão, Comercialização e Marketing. Após experiência adquirida com atuações na iniciativa privada e no setor público federal, atualmente dedica-se a ministrar palestras e instrutorias de treinamentos e cursos em instituições comprometidas com o desenvolvimento pessoal e profissional de seu capital humano, focadas no processo educativo e na troca de saberes.
A partir de agora integrando a equipe do Portal Aconteceu no VALE, semanalmente trará assuntos ligados ao termo Política, mas com a abordagem na sua essência original e considerando que seu significado é muito abrangente e está, em geral, relacionado com aquilo que diz respeito ao espaço público e aos temas de interesse da sociedade, comunidade ou coletividade; com seus reflexos no cotidiano e despertando o debate e a busca do entendimento sobre os assuntos que influenciam as pessoas, enquanto seres humanos inseridos no coletivo.
Paulo Henrique Silva
Diretor da CHS Consultoria, Franquias e Representações – São Paulo
Palestrante e Instrutor na Marli Andrade Gestão Intra e Interpessoal – Minas Gerais