Piloto mineiro de Governador Valadares que morreu em acidente de avião esperava o segundo filho, uma menina, e estava feliz com o trabalho e a com a vida profissional, segundo o irmão
Calmo, correto e realizado. Essa é a definição de Eduardo Barbosa da Cunha, de 50 anos, para o irmão caçula Geraldo Magela Barbosa da Cunha, de 44 anos, o piloto mineiro que morreu no acidente de avião ocorrido nesta quarta-feira (13), no qual também estava o candidato à presidência Eduardo Campos (PSB). Além de Campos e Magela, que atuava como copiloto no voo, também morreram o piloto e quatro funcionários da campanha.
Magela era casado e deixa um filho de 4 anos, além de uma menina, que ainda está por vir. A mulher dele, que estava em Nova Jersey, nos Estados Unidos, quando ficou sabendo da notícia, está grávida de 7 meses e ficou em estado de choque. Ela estava com a passagem de volta para o Brasil marcada para a próxima segunda-feira (18), mas antecipou a volta e deve desembarcar no país nesta sexta-feira (15).
Valadarense morreu no acidente envolvendo o candidato a presidente do Brasil – Foto: Arquivo da Família
A mãe do piloto também está em estado de choque e contou que gostaria de ter ido no lugar dele.
Ao falar do irmão, Eduardo deixa transparecer o orgulho que sentia do caçula da família e até mesmo esboça alguns sorrisos ao se lembrar da convivência com ele. “Ele era o menorzinho. Eu sou o mais velho e o irmão do meio, que mora nos Estados Unidos, também está vindo para cá. O apelido dele era Magelinha, por ser o caçula, mas a gente chamava ele de nenenzinho. Era uma brincadeira nossa, porque a mulher dele o chamava assim, e começamos a chamá-lo assim também, só pra implicar mesmo”, lembrou, aos risos.
Eduardo conta que Magela, nascido em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, foi um dos primeiros valadarenses a migrar para os Estados Unidos, há cerca de 20 anos. “Sabe quando começou essa onda de valadarenses indo pros Estados Unidos pra ´ganhar a vida´? Ele estava lá. Começou a estudar aviação aos 18 anos, ainda aqui em Minas, e aos 20 foi para Atlantic City, investir em conhecimentos sobre o assunto. Mas ele começou trabalhando nos cassinos de lá”, lembra.
Há sete anos morando novamente no Brasil, o piloto vivia com a família em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, e se sentia realizado na profissão. “Era o que ele sempre quis fazer. E ele estava feliz, gostava muito de pilotar, e estava tendo sucesso na vida profissional”, contou o irmão.
Medo de estrada
“Mas o que ele tinha medo mesmo era de dirigir na estrada. Eu sempre tinha que pedir pra ele acelerar quando viajávamos de carro, porque ele ia bem devagar mesmo. Também, né, com a situação da estrada de Santa Luzia para Valadares, não é para menos. Mas de voar, não. Ele gostava muito do que fazia, e dizia que o pior lugar em que já voou foi na Amazônia, por causa da baixa visibilidade ali”, contou Eduardo.
Visibilidade que, inclusive, pode ter prejudicado o piloto também no momento do acidente, segundo relata o irmão. “É claro que ele era pressionado no trabalho, para cumprir horários, pousar em locais pré-determinados. Infelizmente, agenda de campanha é assim, e ele era muito dedicado. Tinha diversos compromissos políticos, estava viajando muito. Aí eu fico pensando, se eles tivessem abortado o pouso naquela hora por causa das péssimas condições climáticas de Santos, e tentassem pousar em outro local com condições mais favoráveis, talvez ele estaria vivo uma hora dessas”, lamenta Eduardo.
O piloto Marcos Martins, outra das sete vítimas do acidente, chegou a postar dias antes da tragédia, em uma rede social, sobre o alto volume de trabalho: “Cansadaço. Voar, voar e voar. E amanhã tem mais”, escreveu Martins.
Metódico
Ainda de acordo com Eduardo Cunha, Magela era extremamente metódico, principalmente, em seu trabalho. “Ele era muito organizado. Quando eu morei nos Estados Unidos, via ele arrumando a mala, e ficava abismado com o método. E ele era assim com tudo, principalmente, dirigindo, sempre com calma. Tipo exército, sabe? Até a roupa que ele ia trabalhar estava sempre impecável. Mas apesar da calma e da organização, ele tinha um temperamento forte e era brincalhão”, contou o irmão.
“A gente fica vendo as notícias, e parece que os pilotos desviaram de um prédio residencial e tentaram passar no vão entre os prédios para evitar que os moradores fossem atingidos. E eu não duvido que tenha sido assim, não, pois o procedimento entre eles é este mesmo: em caso de acidentes, tentar salvar o maior número de vítimas possíveis, mesmo que para isso seja preciso colocar a própria vida em risco”, disse.
A família ainda aguarda o resultado da perícia para determinar as causas do acidente. “Estão falando muitas coisas, inclusive em falha no equipamento. Mas eu duvido muito, o avião era de 2012, novo. Mas é difícil saber. Parece que, por estar em baixa altitude, a morte foi muito rápida, ele nem deve ter visto que estava morrendo. A cabine em que eles estavam foi retirada de dentro da terra em uma profundidade de aproximadamente quatro metros”, contou.
Sepultamento
Os restos mortais de Geraldo Magela Barbosa da Cunha serão sepultados em Governador Valadares, sua terra natal, e também ondem mora grande parte de sua família. Contudo, ainda não é possível saber quando.
“A única certeza é que será aqui, em Valadares, mas não sabemos a hora, nem o dia. Só vamos saber quando o corpo for liberado do Instituto Médico Legal, mas ainda é preciso confirmar oficialmente o que já sabemos: que os restos mortais são dele. A perícia da Polícia Federal em Belo Horizonte nos ligou pedindo o nosso endereço, e dizendo que iriam vir aqui colher o meu material genético e o da minha mãe, para poder comparar com o dele”.
Como última mensagem sobre o irmão, Eduardo acredita que Magela cumpriu sua missão na Terra. “Ele é um guerreiro, lutou e trabalhou muito, cumpriu o compromisso dele na Terra como pai de família, como irmão, como filho, como amigo e como profissional. Todos nós somos falhos, mas eu não tenho nada a dizer da pessoa dele neste sentido. Ele demonstrou o tempo todo profissionalismo e responsabilidade”.
(Fonte: Jornal O Tempo)