O assassinato de um dos líderes do Movimento Sem-teto de Inhapim, o MSTI, pode ter sido ‘encomendado’. Rondineli Marcelino Dias tinha 33 anos. Ele foi morto a tiro durante a tarde deste último domingo (06/07). O crime aconteceu nas terras do Patronato. Área invadida pelos sem-teto em setembro do ano passado. O local fica no Córrego Boa Fé, zona rural de Inhapim, perto da BR-116.
Uma mulher, que preferiu não se identificar, contou que Rondineli foi ameaçado de morte um dia antes do homicídio.
(Vítima recebeu ameaças de morte no dia anterior ao crime – Foto: Divulgação)
“Eu vou te matar! Eu ouvi pelo telefone. Aí o Rondineli ficou ‘branco’ e falei assim: o que é isso Rondineli? E ele disse que era brincadeira, mas a pessoa continuou ligando e ele olhava o telefone e colocava no bolso. Eu avisei para ele ainda. ‘Evita meu filho, eu sei que você está sendo ameaçado’. Se ele conheceu, não falou nada comigo. Mas ele recebeu ameaça, eu ouvi pelo telefone dele. A pessoa disse: ‘Rondineli, eu vou te matar’. Isso foi sábado à tarde”, relatou a testemunha.
Rondineli foi assassinado à queima roupa na frente da mulher, Isabela Soares, de 24 anos, e do filho, de apenas 4 anos de idade. Os tiros acertaram a cabeça da vítima. A família estava no carro de Rondineli, um veículo Celta, e saia do assentamento, quando foi abordada pelo assassino. O autor, ao que tudo indica, já havia premeditado todo o crime. O criminoso se aproximou de Rondineli sob o argumento de que tinha interesse em ganhar um lote do MSTI.
“Meu marido tão inocente, sabe, falou com ele (autor) assim: ‘está precisando de alguma coisa’? Aí ele falou: ‘estou querendo um lote, tem um lote para me dar’? Daí o Rondineli disse: ‘tenho um lote para te dar, mas é mais lá em cima’. Então, ele (autor) disse que estava bom e pediu que Rondineli o levasse até lá. E entrou no carro. Meu marido desceu e eu fiquei dentro do carro com meu menino. Na hora que ele foi andando e falou; ‘o lote é este aqui’, o homem já disparou nele. Aí saí de dentro do carro gritando e pedindo a ele pelo amor de Deus, que não fizesse aquilo. Ele colocou a arma à minha frente e do meu filho e ficou balançando. Depois, o homem saiu correndo pelo meio do mato”, relatou Isabela.
Por enquanto, ainda não há muitas explicações para o que motivou o assassinato da vítima. O corpo de Rondineli foi velado em uma igreja do bairro Santo Antônio, em Inhapim, e sepultado no início da tarde desta segunda-feira (07/07). Segundo informações, o homem que assassinou Rondineli nunca foi visto na região de Inhapim.
“Ele estava com um boné preto, uma jaqueta preta, uma blusa vermelha por baixo, uma bermuda listrada, de sapato ou de tênis, e parecia que tinha uns 34 anos. Ele era moreno, mas não um moreno escuro, era um moreno mais claro. O Rondineli perguntou: ‘de onde você é’? Aí ele disse assim: ‘de Caratinga, mas eu tenho uns parentes aqui que falaram que você dá lote’. Falou assim com ele (Rondineli)”, ressaltou a viúva da vítima.
Rastreamento e investigação
“Nós fizemos o rastreamento imediato. Cercamos a região e fizemos contato com Governador Valadares, Caratinga e Ipatinga, na tentativa de localizar esse sujeito. Naquele momento não conseguimos localizar o cidadão. Mas foi repassada a ocorrência para a Polícia Civil, que está encarregada das investigações posteriores, que pode ter haver com a ocorrência da invasão”, disse o tenente Garcia.
“O inquérito policial já foi instaurado e a Polícia Civil vai seguir com as investigações. Temos algumas linhas de investigação, principalmente, como se deu o crime, porque a vítima foi procurada pelo autor para adquirir um terreno. E também recebemos informações de que haveria ameaça, e, o Rondineli já tinha alguns boletins de ocorrência registrados aqui nesta delegacia contra ele e o Movimento Sem-teto também. Todas essas linhas serão analisadas e vamos começar as oitivas e toda a investigação”, destacou a delegada Tatiana Neves.
Afonso Cláudio Vieira, presidente do MSTI, lamentou a morte de Rondineli e disse que todas as famílias do assentamento estão em luto. Tanto a Polícia Militar quanto a Polícia Civil também acredita que a morte de Rondineli possa ter sido ‘encomendada’ por alguém. “Tudo o que eu quero é justiça. Meu filho, de 4 anos, gritando: ‘o pai está cheio de sangue, ele matou meu pai’. Tudo o que eu queria nesse mundo é justiça, o homem não teve nem dó e nem piedade da criança, de 4 anos, vendo o pai dele morrer. Uma pessoa assim não tem coração”, desabafou a viúva de Rondineli.
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(Fonte: TV Super Canal)