É normal ver a mídia classificar Déa Trancoso como uma cantora regional. O rótulo pode parecer até natural, já que ela é uma das mais prestigiadas artistas do Vale do Jequitinhonha, mas ela sabe que sua música vai muito além do que aprendeu em Almenara. “Acho, na boa, que sou uma mistura da Índia, do Oriente Médio, do norte da África, dos índios brasileiros, do Jequitinhonha e da Galícia. Vixe, é metade do mundo! Acho que sou uma serviçal disciplinada do que alguns chamam de ‘música de encantamento’”, afirma.
Déa Trancoso realiza turnê pelo interior com show intimista (Foto: Marcelo Oliveira/Divulgação)
Uma mostra de que a artista está sempre muito mais aberta a misturar do que replicar é o formato pensado para a turnê mineira que ela inicia neste sábado (20), em Diamantina, para celebrar seus 50 anos de idade (a serem completados na quinta-feira).
Serão shows intimistas, acompanhados apenas pelo percussionista Carlinhos Ferreira. “O convidei para experimentar o que o filósofo Gilles Deleuze chama de ‘projetos de fuga’. São um fio de navalha que nos ‘desterritorializa’ e nos dão novos olhos para o ofício e existência. A base desse encontro são os instrumentos monocórdios que abrem vastas possibilidades para a voz viajar no som primordial, na nota-gênese da melodia e da harmonia, fazendo tudo pulsar num só coração”, explica Déa, que vai explorar seus três álbuns e músicas inéditas.
Filha de seresteiros, Déa aprendeu a amar a música de forma orgânica, dentro de casa. Mas encarou o dom como profissão no início da fase adulta, quando se mudou para a capital mineira para estudar jornalismo. “Meu atrevimento, os parceiros que a vida me deu e a estrada foram meus mestres. Belo Horizonte é meu segundo Vale do Jequitinhonha”.
A artista gravou um disco com Paulo Bellinati (“Flor de Jequi”, via Natura Musical), se tornou pupila de Egberto Gismonti e realizou parcerias com dezenas de compositores mineiros. Agora vem sendo descoberta como compositora em outros estados – foi gravada recentemente pela paulista Ná Ozzetti, pela gaúcha Isabel Nogueira e pelo pernambucano Gonzaga Leal.
Também já realizou shows no exterior, onde é recebida com afeto e curiosidade, segundo ela. Mas é nos pequenos palcos do interior que se sente à vontade. “Confesso que os melhores concertos que fiz foram nos lugarejos escondidos do Brasil”.
A turnê de Déa Trancoso começa neste sábado (22) em Diamantina e passa por São Gonçalo do Rio das Pedras (27), Araçuaí (30), Rubim (4/4), Almenara (5/4) e Belo Horizonte (12/4).