O prefeito Felisberto Rodrigues Neto (PSB), da cidade de Varzerlândia, no Norte de Minas, é suspeito de tentar matar o líder da Comunidade Quilombola Brejo dos Crioulos, José Carlos de Oliveira Neto, conhecido como “Véio”, na última quinta-feira (09/01). Segundo o presidente da Comissão de Diretos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG), Willian Santos, o crime aconteceu depois que o grupo conseguiu, junto à Presidência da República, o Decreto de Delimitação da Área Quilombola, tornando-se proprietário de uma região que inclui a fazenda do político.
Uma reunião aconteceu na sede OAB na região Centro-Sul da capital, na manhã desta terça-feira (14/01), com a presença do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e da Comissão Pastoral da Terra (CPTMG) para tratar o assunto.
BRIGAS SE ACENTUAM
Em 2011, os quilombolas conseguiram o direto pela terra, mas, de lá para cá, as brigas na região ficaram ainda mais intensas. No ano passado, a fazenda do prefeito foi retomada pelos quilombolas, já que está inserida no território de 17.302 hectares pertencentes a eles e demarcada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Áreas de outros dois municípios também são do grupo.
“No ano passado, por determinação judicial, foi designada força tarefa na região para desarmar e prender jagunços. A ordem foi cumprida e várias armas de diversos calibres e munições foram apreendidas, mas não diminuiu a tensão no local”, informa Santos.
ATENTADO
De acordo com Oliveira, o prefeito e mais quatro pessoas armadas chegaram em um carro e atiraram contra ele. “Corri muito. Só por isso conseguir escapar dos tiros de carabina disparados pelo jagunço do prefeito”, declarou o líder comunitário. Ele estava com o filho de 22 anos na hora do atentado e denuncia que policiais locais ajudam o político na intimidação do grupo. “Ele (o prefeito) fala que a área é dele e que o Estado ainda não resolveu, mas a gente tem que trabalhar”, reclama. Os quilombolas cultivam feijão, milho e mandioca na área.
O MPMG já recebeu a denúncia e analisa o fato. ‘Véio’ está protegido pelo Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, que é nacional. “As coisas estão tão perigosas por lá que até a promotora local pediu reforço, porque teme pela própria vida”, disse o presidente da Comissão de Diretos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil.
O prefeito foi procurado pela reportagem para comentar a denúncia, mas a secretária dele informou que ele estava em viagem de trabalho. Ela forneceu o número particular do político, mas ele também não retornou as diversas ligações.
(Imagem ilustrativa)
(Fonte: Jornal O Tempo)