Reviver o nascimento de Cristo e, de quebra, fomentar o turismo religioso. Esse é o principal objetivo dos presépios do Norte de Minas, que em dezembro conseguem atrair mais de 15 mil pessoas somente para as cidades de Grão Mogol e Montes Claros.
No primeiro município, o “Mãos de Deus” mostra a exuberância da natureza na simplicidade das pedras. Construído há dois anos pelo sociólogo e economista Lúcio Bemquerer, de 75 anos, a obra, que ocupa uma área de 3.600 m2, retrata a chegada de Jesus com a ajuda de 17 personagens mantidos a céu aberto.
Feito há 2 anos, o “Mãos de Deus” tem 17 personagens que contam a história bíblica a céu aberto
“Tive o sonho de ajudar a minha cidade de alguma forma, e veio a ideia de criar o presépio”, diz Lúcio.
Mais de 40 mil pessoas visitaram o espaço, que fica aberto todos os dias do ano. Diante de anjos, reis magos e animais com até 2,5 metros de altura e muitos detalhes, o visitante se impressiona.
“Queria construir algo que atraísse os olhos para a cidade e conseguisse incrementar o turismo”, diz Lúcio. Conforme a Câmara Municipal de Grão Mogol, o empreendimento proporciona mais de mil empregos diretos e indiretos no município.
Santos Reis
Um bairro criado em meio à simbologia dos presépios e que atrai turistas para festejos religiosos. Assim nasceu a comunidade Santos Reis, em Montes Claros.
Nascida no século 19, ela cresceu ao redor de uma gruta construída para abrigar o presépio permanente da cidade. O cenário atrai, por ano, mais de 16 mil pessoas, conforme a Arquidiocese de Montes Claros.
Neta do fundador do bairro, Maria Jane Mendonça conta que a ideia de fazer o presépio veio depois de o avô ter conseguido a cura para uma doença.
“Ele (Pedro Mendonça) sonhou com três aves brancas e prometeu construir uma gruta para homenagear os Reis Magos”, diz.
Após a criação do bairro, todos os anos turistas e moradores da região realizam a “Festa dos Santos Reis”. Pastorinhas, foliões e a tradicional puxada de mastro celebram o nascimento de Cristo.
“Na porta da casa do meu avô, mantemos a tradição de montar o presépio maior em 6 de janeiro, dia de Reis”, acrescenta.
Para o pároco da igreja Santos Reis, padre Reginaldo Cordeiro de Lima, o presépio mantém viva a fé dos católicos.
Com as bênçãos do papa
Em outubro deste ano, o presépio “Mãos de Deus” recebeu a bênção apostólica do Papa Francisco. A carta foi encaminhada em comemoração aos dois anos da obra. No catolicismo, é tradicional a Bênção Apostólica. Como sucessor de Pedro e Vigário de Cristo, o papa tem essa premissa.
Fechado, Pipiripau aguarda restauração
Em Belo Horizonte, o tradicional presépio do Pipiripau, que atrai turistas de todo o Brasil, ficará sem visitação por mais um ano. Fechada para restauração no ano passado, a obra tombada pelo patrimônio nacional deverá ser recuperada a partir de fevereiro.
A promessa era a de que o presépio seria aberto ao público em dezembro deste ano. Porém, os responsáveis pela elaboração do mapeamento da obra artística constataram a necessidade de uma recuperação minuciosa no maquinário que dá movimento às figuras que compõem o presépio.
Instalado no Museu de História Natural e Jardim Botânico da Universidade Federal de Minas Gerais, no bairro Horto, em Belo Horizonte, o Pipiripau retrata a vida de Jesus, a morte e a ressurreição em um cenário de 20 m²e recebe mais de 60 mil visitantes por ano.
“São pessoas de Minas e de todo o país que se impressionam com a riqueza de detalhes da obra, que mistura arte e religião de forma harmoniosa”, explica o coordenador do projeto de restauração artística e arquitetônica do Pipiripau, Fabrício Fernandino.
De acordo com ele, o restauro das 586 figuras móveis distribuídas em 45 cenas ficará a cargo do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Cecor), da Escola de Belas-Artes da UFMG, um investimento de R$ 1,5 milhão custeado pela universidade e iniciativa privada.
“Além disso, temos a construção de um novo prédio para abrigar o presépio de forma segura, principalmente para os visitantes”, diz. A licitação para a construção está prevista para março de 2014.
Exposições estimulam a tradição religiosa
Estimular a tradição cultural religiosa. É o que pretendem duas exposições que movimentam Ouro Preto e Caeté, na região Central do Estado.
Na antiga Vila Rica, a Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop) valoriza o artesanato para narrar o nascimento de Cristo. Com um público estimado de 4 mil visitantes apenas em dezembro, o local tem um acervo que destaca várias técnicas de artesanato, do giz de cera ao tricô.
“O objetivo do projeto é destacar, além da religiosidade, o que cada região do país tem de melhor”, explica o diretor de promoção e extensão cultural da Faop, Celmar Ataides Júnior.
Os turistas também participam da votação do melhor presépio. A exposição pode ser visitada até 6 de janeiro.
Mais do que retratar uma história bíblica, o presépio mantém viva a tradição cultural de um povo de acordo com historiadores. “A religião é destacada por meio do simbolismo existente na comunidade. Seja pelo tipo de material utilizado para contar a história ou até mesmo o simbolismo que cada item possui para os fieis”, afirma o historiador do Departamento de História da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Jânio Marques Dias.
No Santuário de Nossa Senhora da Piedade, em Caeté, as características regionais são valorizadas, mas também há presépios originários de vários países.
A exposição, que fica aberta ao público até 2 de fevereiro, atrai mais de 4 mil turistas por fim de semana.
Fonte: Hoje em Dia