A dona de casa Géssica Lorrany Souza Rocha, de 20 anos, deu à luz uma menina, na quarta-feira (22/7/2020), no Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF), da Unimontes. Seria mais um das centenas de partos da unidade, se não fosse o procedimento cirúrgico inédito realizado pela equipe multidisciplinar do HUCF que corrigiu uma má formação congênita da criança, Ayla Emanuely Gomes de Souza.
A recém-nascida recebeu a cirurgia feita com o uso da técnica Simil-Exit, que a “Gastrosquise”, má formação que é caracterizada por defeito na parede abdominal, permitindo que as vísceras, como estômago e intestinos, saiam por uma abertura.
Géssica, que é natural de Janaúba (Norte de Minas), conta que a descoberta do problema congênito se deu durante o pré-natal realizado em sua cidade e teve acompanhamento médico até o momento do nascimento de Ayla, que é sua primeira filha.
“Os médicos de Janaúba me acompanharam direitinho. E a equipe do HUCF me recebeu muito bem. Sempre atenciosos, eles me deixaram tranquila durante a cesárea. Ainda não puder ver minha filha direito, mas, assim que ela sair do CTI (Centro de Tratamento Intensivo), vou colocá-la em meu peito, para que sinta o quanto a amo”, declarou a mãe, sem esconder a emoção logo após o parto.
Equipe dos profissionais responsáveis pela cirurgia (Foto: Wesley Gonçalves/Unimontes)
COMO FOI
A intervenção cirúrgica transcorreu com o bebê recebendo a anestesia através do cordão umbilical enquanto a medicação foi feita por via endovenosa na mãe. O remédio opióide (remifentanil) foi ministrado em doses proporcionais ao peso da mãe, sob sedação superficial, enquanto os médicos realizaram o procedimento cirúrgico (Simil-Exit).
A técnica foi criada pelo médico cirurgião Javier Svetliza, na Argentina. Foram necessários sete profissionais da equipe do Hospital Universitário para a realização da cirurgia: dois cirurgiões pediátricos, dois obstetras, dois pediatras e um anestesista. Participaram ainda uma enfermeira, dois técnicos em enfermagem e um fisioterapeuta.
Um dos responsáveis pelo avançado procedimento, o cirurgião pediátrico Renato Neves Noronha explicou que a nova técnica se diferencia de outros procedimentos pelo fato de ser feita enquanto a criança ainda estar ligada a mãe pelo cordão umbilical.
O especialista ressalta os benefícios da técnica Simil-Exit:. “além do efeito psicológico na mãe ao ver o filho normal, sem má-formação, a técnica permite menor lesão no intestino da criança, com início precoce da dieta, altas mais rápidas do CTI e do hospital, redução na taxa de mortalidade e menor risco de infecção, dentre outros fatores”, disse.
Foto: Divulgação/Unimontes
PRÉ-NATAL ESSENCIAL – Já o médico obstetra Laércio Fonseca Costa explica que é extremamente importante a gestante realizar o acompanhamento do pré-natal e realizar o ultrassom morfológico que indicará má-formação ou não durante a gestação do bebê.
“Esse acompanhamento é necessário para que a gestante possa ser submetida À cirurgia entre a 34ª e 37ª semana de gestação, no momento certo e com uma equipe multidisciplinar qualificada, com a vaga na UTI já reservada para o bebê, mãe e filho terão todo o suporte necessário”, destacou.
Além do cirurgião pediátrico Renato Neves Noronha e do obstetra Laércio Fonseca Costa, participaram da “Simil-Exit” para a correção da Gastrosquise os profissionais Francisco Marcos Barros (cirurgião pediátrico), Ailton Brant (residente em obstetrícia), Priscila Falci Goulart Antunes (anestesista) e os pediatras Maicon Alves Afonso Ruas (Pediatra) e Flávia Paulino Cuatiero, juntamente com a médica Luciane Karola Santana Davi Porto (ultrassonografista) e as técnicas em enfermagem Joelma Dias Santana e Maria Helenice Araújo Miranda.
“É muito gratificante para a nossa equipe multiprofissional que participou desta cirurgia inédita na região poder ajudar a gestante em um momento de grande fragilidade, medos e incertezas. E ainda mais quando a cirurgia é feita para salvar a vida de uma criança”, concluiu o cirurgião pediátrico Renato Noronha.
O QUE É A GASTROSQUISE – A Gastrosquise é uma malformação congênita, que mantém fora da cavidade abdominal do feto uma grande parte dos intestinos, por vezes incluindo até o estômago. É consequência de um problema no fechamento da parede abdominal na fase fetal, persistindo um anel aberto ao lado do cordão umbilical, que mantém as alças intestinais fora da cavidade abdominal. É uma doença que varia em incidência entre um por quatro mil a um para 10 mil recém-nascidos vivos. Acomete mais filhos de mulheres jovens e primíparas (do primeiro parto).
Quer saber as notícias do Aconteceu no Vale em primeira mão? Siga-nos no Facebook @aconteceunovale, Twitter @noticiadosvales e Instagram @aconteceunovale.