Tilápias criadas em um reservatório de 12 mil litros, instalado no Presídio de Janaúba, no Norte de Minas, representam a chance de presos garantirem uma profissão e também a de enriquecer a alimentação de crianças e idosos. O projeto de piscicultura da unidade prisional começou em janeiro, com parceria da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) e da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
O tanque de alvenaria onde as tilápias estão crescendo – já que foram colocadas ainda na forma de alevinos (filhotes) – foi construído por quatro detentos, com orientação da Emater-MG e verba pecuniária liberada pelo Tribunal de Justiça. O recurso, no valor de R$ 2 mil, também incluiu a compra dos primeiros 150 alevinos, e foi administrado pelo Conselho da Comunidade da Comarca de Janaúba.
A capacitação dos presos e o fornecimento de ração são de responsabilidade da Codevasf, que contratou um zootecnista para dar as orientações básicas. O profissional irá a cada 15 dias ao Presídio de Janaúba para verificar as condições de saúde dos peixes e ensinar sobre piscicultura.
O gerente de produção do presídio, Romildes Mendes, responsável por acompanhar e fiscalizar as atividades de trabalho dos presos, destaca o interesse e dedicação dos quatro detentos que construíram o reservatório e continuam no projeto. “Estão muito empenhados, mesmo sem terem nenhuma experiência anterior na criação de peixes. Esta oportunidade dá possibilidades concretas a eles de conquistar uma vaga de emprego ou de abrir um negócio com a família”, avalia.
Sustentabilidade
Dentro de seis meses, as tilápias estarão prontas para o abate e vão enriquecer o cardápio de quatro instituições de Janaúba: o Asilo São Vicente de Paulo, o Projeto Dom José Mauro, a Creche Gente Inocente e a Casa de Apoio de Janaúba. Essas entidades já são beneficiadas com as hortaliças produzidas na horta do presídio, que passou a ser irrigada com a água do reservatório dos peixes.
“É uma água rica em nitrogênio, importante nutriente para o crescimento das hortaliças”, explica o engenheiro de pesca Maurício Gros, chefe do Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Gorutuba, centro vinculado à Superintendência da Codevasf de Montes Claros. O engenheiro coordena também o Programa Piracema do São Francisco, no qual está inserido o projeto de criação de tilápias do Presídio de Janaúba. A Codevasf é uma empresa pública vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional.
Gros relata que na região de Janaúba e Nova Porteirinha são criadas diversas espécies de peixes como tambaqui, pirarucu e tilápia. Não faltam também espécies da bacia do Rio São Francisco, como piau verdadeiro, curimatã e surubim. “A piscicultura é realmente uma atividade rentável”, garante.
Horta e piscicultura já começaram a trazer ânimo e esperança para os detentos do projeto. Manoelino da Silva, de 48 anos, um dos integrantes da equipe, conta nunca ter tido qualquer contato com a criação de peixes. “É a primeira vez e gostaria de continuar trabalhando com eles quando terminar minha pena”, diz.
De acordo com dados da Codevasf, na região de Janaúba e Nova Porteirinha há 130 famílias que se dedicam à piscicultura e produzem cerca de 20 toneladas por ano. Os peixes são vendidos no Norte de Minas.
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