Pesquisa identifica porque as veredas estão cada vez mais secas

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Os impactos ambientais nas veredas do Norte de Minas, localizadas, sobretudo, na região do Vale do Peruaçu e próximas ao Rio Pandeiros nos municípios de Januária e Bonito de Minas, são alvo de pesquisa desenvolvida pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). A coordenação envolve o Programa de Pós-Graduação em Botânica Aplicada (PPGBOT) e os Departamentos de Biologia Geral e de Geociências, além de pesquisadores de instituições parceiras.

O levantamento é realizado como um sítio do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD), com financiamento do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Dados da pesquisa foram apresentados pela coordenadora do estudo, professora Yule Rocha Ferreira Nunes, na manhã desta sexta-feira (7/2), durante o Fórum do Meio Ambiente, evento organizado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) e que integra a programação da Festa Nacional do Pequi, de Montes Claros.

O PELD Veredas teve início em 2016, com o título “Colapso das Veredas no Sertão Mineiro: Efeitos Antrópicos Locais e Mudanças Climáticas Globais”. Conta com a participação 15 pesquisadores e 50 estudantes de cursos de pós-graduação e graduação. Além da Unimontes, a pesquisa de longa duração envolve professores das Universidades Federais de Minas Gerais (UFMG) e de Lavras (UFLA) e do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do MEC.

A professora Yule Roberta Nunes explica que a pesquisa tem como principal objetivo levantar os efeitos da ação do homem e as mudanças climáticas sobre a conservação das veredas – que estão secando no Norte do estado. “Queremos entender porque ocorre o secamento das veredas e quais efeitos disso sobre a biodiversidade e também seus impactos sociais”, afirmou.

PRIMEIROS RESULTADOS: REDUÇÃO DO LENÇOL FREÁTICO E SECAMENTO DAS NASCENTES

Durante o Fórum, Yule Roberta Nunes informou que a pesquisa sobre as veredas na região de Pandeiros e do Vale do Peruaçu já apresenta alguns resultados. “Um deles é a mudança da flora. A vegetação das áreas das veredas está mudando. Como elas estão secando, as espécies de ambientes úmidos estão deixando de existir, sendo substituídas por espécies do Cerrado”, explicou a coordenadora da pesquisa.

Outro aspecto observado na região do Peruaçu é o rebaixamento do lençol freático, reduzindo numa média de 0,5 metro a cada ano. Outra constatação dos pesquisadores: nos últimos 30 anos, a partir da primeira nascente, o Rio Peruaçu apresenta um quadro de secamento ao longo de 50 quilômetros.

NASA

A professora Yule Roberta chama atenção para outra forma de degradação que atinge duramente as veredas no Norte de Minas: as queimadas. “Uma vereda do Peruaçu ficou queimando durante um ano, o que chamou atenção até da Nasa (Agência Especial Americana) por causa da grande quantidade de carbono lançada na atmosfera”, observou.

Um alerta para salvamento das veredas está na utilização racional dos recursos hídricos. “As veredas estão secando porque o lençol freático está diminuindo. Precisamos entender qual é o tempo de disponibilidade hídrica e saber, ainda, a quantidade de água que podemos usar”, recomenda Yule Nunes.

AS VEREDAS

As veredas ocorrem em ambientes úmidos do Cerrado e apresentam comunidades de plantas com acentuada riqueza de espécies, associada ao Buriti (Mauritia flexuosa L.f. ). No Norte de Minas, elas geralmente estão associadas a outro tipo de palmeira, conhecida como Xiriri (Mauritiela armata (Mart.) Burret). São ambientes que participam do controle do fluxo do nível freático, desempenham um papel fundamental no equilíbrio hidrológico dos cursos d’água do Bioma e possuem grande importância ecológica, permitindo abrigo e alimento/água para a fauna – além do papel social ímpar para os Veredeiros, povos tradicionais vivem neste ambiente.

Pesquisa Ecológica de Longa Duração (PELD) – O Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração (PELD), em funcionamento desde o ano 2000, é executado pelo (CNPq). A iniciativa é caracterizada pela atuação integrada de equipes interdisciplinares que abordam o desenvolvimento de projetos de pesquisa com longas séries de dados e o entendimento de longo prazo dos efeitos de perturbações de origens natural ou antrópica sobre a composição, dinâmica e funcionamento de ecossistemas, ou a compreensão da efetividade de ações de manejo na preservação destes ecossistemas.

Atualmente, a rede PELD conta com 30 sítios de pesquisa distribuídos em diversos ecossistemas. Os sítios PELD são áreas de referência para a Pesquisa Ecológica no Brasil, onde são desenvolvidos estudos de longa duração dos mais diversos no tema da Ecologia e formação de recursos humanos especializados (nível de graduação e pós-graduação), constituindo pólos de nucleação de grupos de pesquisa.

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2 COMENTÁRIOS

  1. A falta de consciência ambiental de todas as classes sociais me assusta. Estamos vivendo época de total escassez, e ainda assim , o ser humano só quer gastar. Lembrando que o que leva anos pra se recuperar é destruído em minutos e não é recuperado totalmente.

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