Em 2020, é celebrado o centenário do poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto (in memoriam) – nascido em seis de janeiro de 1920, no Recife (Pernambuco). As comemorações se estenderão ao longo do ano, com novos lançamentos nacionais de sua obra completa.
Em destaque está o feito da pesquisadora Edneia Rodrigues Ribeiro, egressa da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), que descobriu poemas inéditos do poeta a partir de sua tese de doutorado. Eles serão publicados em dois livros pelo Selo Alfaguara, da editora Companhia das Letras. João Cabral fez parte da Academia Brasileira de Letras (ABL) de 1969, como sucessor de Assis Chateaubriand na cadeira 37, até 1999 (ano de sua morte).
Natural de Santana da Serra, distrito de Capitão Enéas (Norte de Minas), Edneia Rodrigues graduou-se em Letras/Português na Unimontes em 2005 e, durante o curso, foi estagiária na Assessoria de Comunicação (Ascom) da instituição. Em 2012, ela concluiu o mestrado em Estudos Literários/Unimontes, onde fez a dissertação sobre a poesia de João Cabral, intitulada “A fissura do duplo em a educação pela pedra: consolidação de uma prática de antilira” – sob orientação do professor Rodrigo Guimarães.
Na sequência, cursou o doutorado em Letras na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), concluído em 2019. Na UFMG, ela defendeu a tese “Um Museu de duas faces: poesia de circunstância em João Cabral de Melo Neto”, que teve como orientador o professor e poeta Sérgio Alcides.
E foi justamente este trabalho associado ao doutorado que resultou na descoberta de 40 textos inéditos do poeta pernambucano, com pesquisa sobre os escritos de João Cabral guardados no arquivo do Museu de Literatura Brasileira, da Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro – entre os anos de 2016 e 2018.
“Como o meu projeto de doutorado consistia em analisar poemas do livro “Museu de Tudo”, nos quais João Cabral focaliza outros escritores brasileiros como tema, sendo muitos deles seus amigos como Manuel Bandeira, Joaquim Cardozo, Marques Rebelo, Willy Lewin, Vinícius de Moraes, Lêdo Ivo e Gilberto Freyre, parte do trabalho envolvia pesquisa em documentos de cunho mais subjetivo, como as correspondências que se encontram no Arquivo do Museu de Literatura Brasileira, da Fundação Casa de Rui Barbosa”, explica.
João Cabral de Melo Neto fez parte da ABL por três décadas (Foto: Christina Bocayuva / Divulgação Unimontes)
Segundo a pesquisadora, seu primeiro contato com as fontes primárias do poeta ocorreu em meados de 2016. “Diante de um material vasto, cujo inventário analítico é constituído por quase 600 páginas, percebi que as cartas tinham um papel secundário naquele acervo. Depois de pesquisá-las, passei a garimpar documentos de outras seções como originais de livros, a prosa de João Cabral e a sua produção intelectual”, explica Edneia, que, atualmente, é professora do Instituto Federal do Norte de Minas (IFNMG), em Montes Claros.
A egressa da Unimontes explica que, entre os arquivos pesquisados, localizou o texto de uma conferência inédita de João Cabral de Melo Neto intitulada “A Poesia Brasileira”, com anotações de próprio punho. “Trata-se de um documento de cerca 30 laudas, que foi fundamental para a minha tese, pois João Cabral de Melo Neto reflete sobre a situação da Literatura Brasileira em meados da década de 1950, apontando o distanciamento da poesia dos leitores comuns, dividindo os poetas em dois grupos – profissionais e de circunstância ou bissextos”, destaca.
Como em sua tese, Edneia estudava os poemas de Cabral para os amigos escritores, a fim de apontar que essas homenagens entre eles podem ser consideradas como poemas de circunstâncias e de crítica poética ao mesmo tempo, foi importantíssimo contar com um texto do própria poeta abordando a questão.
Edneia Rodrigues ressalta que o trabalho da pesquisa continua. “Transcrevi cerca de 40 poemas que não aparecem em versão nenhuma das obras completas do poeta, mas esse número pode mudar. Primeiro porque há um trabalho minucioso para diferenciar os inéditos dos dispersos. Além disso, há outros manuscritos de difícil entendimento e pretendemos retomar o trabalho de transcrição”, anuncia.
LIVROS A SEREM PUBLICADOS
Os textos inéditos de João Cabral de Melo Neto garimpados por Edneia Rodrigues vão fazer parte de dois livros que serão lançados pela Companhia das Letras em 2020, dentro das comemorações do centenário do poeta. Em junho, haverá o lançamento de “Poesia Completa”, organizado pelo ensaísta Antonio Carlos Secchin, membro da Academia Brasileira de Letras e considerado o maior especialista na obra de João Cabral no País.
No segundo semestre, será lançada coletânea “A Prosa”, organizado pelo professor Sérgio Martagão Gesteira, também com a colaboração de Edneia Rodrigues.
GRATIDÃO À LITERATURA
A professora Edneia Rodrigues Ribeiro ressalta a importância do trabalho de pesquisa. “Como adepta de João Cabral, considero a pesquisa um trabalho que demanda esforço e disciplina. Embora tenha pesquisado a obra dele com muito afinco por quase 10 anos, a repercussão dessa descoberta traz uma relevância para o meu trabalho como eu não tinha dimensionado ainda”, destaca.
Ela declara sua gratidão à obra do poeta pernambucano. “Sinto muita gratidão à Literatura, de modo especial, à poesia de João Cabral, pelos desvendamentos e travessias. A minha paixão pela Literatura me levou a lugares inimagináveis. Ter o reconhecimento de uma pesquisa, principalmente nas áreas de Letras e Ciências Humanas – que são menos visíveis para a sociedade –, representa muita realização profissional e pessoal”, conclui a egressa da Universidade Estadual de Montes Claros.
Quer saber as notícias do Aconteceu no Vale em primeira mão? Siga-nos no Facebook @aconteceunovale, Twitter @noticiadosvales e Instagram @aconteceunovale.