De segunda a sexta-feira, cerca de dez presos saem todas as manhãs do Presídio Alvorada, em Montes Claros, no Norte de Minas, para trabalhar em capina, jardinagem, plantio de mudas e pequenas obras no campus da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e em ruas, avenidas e parques da cidade.
As atividades são realizadas por meio do projeto “Para Além das Prisões” (PAP), elaborado pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Prefeitura de Montes Claros, Ministério Público Estadual, Tribunal de Justiça, Serviço Voluntário de Assistência Social de Minas Gerais (Servas), Polícia Militar, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Conselho da Comunidade na Execução Penal. O PAP tem um diferencial em relação a outras parcerias: o acompanhamento psicossocial feito por servidores da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social.
Para o diretor de atendimento do Presídio Alvorada, Hensley Gomes, a atenção prestada pelos assistentes sociais da prefeitura, inclusive com visita às famílias dos detentos, faz toda a diferença. “Eles se sentem realmente apoiados e incentivados. Nunca me esqueço do dia em que entregamos o primeiro uniforme da prefeitura para um detento do projeto. Ele tinha um expressivo olhar de satisfação e esperança, disse que não queria mais saber da vida no crime”, relata.
De 2017 até hoje, cerca de 50 presos já passaram pelo PAP. O sucesso do projeto e da eficiência da mão de obra fornecida pelo Presídio Alvorada podem ser comprovados pelo número de presos no trabalho externo, cerca de 100, tanto no PAP quanto nas mais diversas instituições públicas e privadas. O diretor-geral da unidade prisional, Eduardo dos Santos Silva, explica que a meta é concluir o processo de classificação de mais 200 presos para o trabalho externo até o final do mês. “Essa é a vocação da unidade prisional. Temos ainda a demanda de aproximadamente 40 presos para atuarem na construção da Apac de Montes Claros”, acrescenta.
No mês de agosto, o campus da Unimontes passou a contar com a força de trabalho de oito presos do Alvorada. A diretora da imprensa universitária, Eliane Ferreira da Silva, que também coordena as atividades dos presos na Unimontes, ressalta os benefícios para ambas as partes. “Eles nos ajudam com a manutenção do campus e são tratados como se fossem servidores. Podem participar de atividades culturais e, ainda, das esportivas. Para isso, estão passando por avaliações médicas”, detalha.
Um dos detentos beneficiados pela parceria firmada com a Unimontes é Leandro Soares de Castro, de 32 anos. Há três semanas ele exerce atividades de limpeza e manutenção no campus. “É uma experiência nova. O convívio tem sido muito bom, dá tempo de conversar com os funcionários e estudantes. Sinto incentivo e apoio”, relata.
Viveiro
Dentro da área urbana de Montes Claros funciona o viveiro de mudas destinadas ao plantio que abastece todo o município. Entre tantas espécies, é possível encontrar ipê roxo e amarelo, manga, jaca, flamboyant, paineira branca ou barriguda. Um dos jardineiros responsáveis por cuidar das futuras árvores é Welton Chaves Ferreira, 30 anos. Ele cumpre pena no Presídio Alvorada e integra o projeto “Para Além das Prisões”. Sua rotina no viveiro consiste em preparar a terra, separar e ensacar as mudas, molhar, ficar atento a possíveis pragas e combatê-las.
Welton aprendeu quase tudo sobre plantas e árvores com um funcionário da prefeitura, mas deve muito do seu conhecimento ao pai, que já foi caseiro em um sítio no município de Taiobeiras, também no Norte de Minas. “Todo dia a gente descobre algo novo na natureza. É uma alegria estar aqui e poder fazer algo tão importante, como oferecer vida e beleza aos moradores de Montes Claros”, afirma, orgulhoso.
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