Em sua última reunião de 2018, realizada na quarta-feira (19/12), na sede do Iepha-MG, o Conselho Estadual de Patrimônio Cultural – Conep – aprovou por unanimidade o reconhecimento do Artesanato em barro do Vale do Jequitinhonha: saberes, ofício e expressões artísticas como patrimônio cultural de natureza imaterial de Minas Gerais.
A pesquisa, que durou cerca de um ano, teve como metodologia a realização de um mapeamento, por meio de uma plataforma online disponível no site do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais recebeu 122 cadastros de artesãs e artesãos, de 21 municípios do Jequitinhonha. Além disso, foram realizadas pesquisas de campo nas principais comunidades produtoras, com registro fotográfico e audiovisual, que, por sua vez, contribuiu para a elaboração do dossiê de Registro intitulado “Artesanato em Barro do Vale do Jequitinhonha: saberes, ofício e expressões artísticas em Minas Gerais”.
“Este trabalho foi bastante desafiador. Para viabilizar esse reconhecimento, primeiro tivemos que fazer uma composição de várias mãos. E o segundo desafio foi, em tão pouco tempo, ter que dar conta de tanto conteúdo e saberes, que não se esgotam nesse período de estudo”, diz a presidente do Iepha-MG, Michele Arroyo. “Encerramos aqui uma etapa, que é importante, de reconhecimento, mas a principal conclusão a que chegamos é que o conhecimento deste saber é algo contínuo. A própria ação de salvaguarda vai pressupor a continuidade deste estudo e a discussão de medidas tanto físicas quanto imateriais em relação à proteção do modo de fazer deste fazer cultural”, conclui.
A produção de cerâmica está espalhada por todo o Vale, sendo que os principais polos produtores são os municípios de Turmalina, Minas Novas, Araçuaí, Itinga, Itaobim, Caraí e Ponto dos Volantes.
Peças do Arte em Barro – Foto: Izabel Chumbinho/Divulgação Iepha-MG
A reunião do Conep foi acompanhada por diversos artesãos mineiros. Maria do Carmo Barbosa fez questão de vir de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha, para estar presente neste momento, que ela disse ser “histórico” para os artistas do barro da região. Ela, que é oficineira há oito anos veio representando as 39 mulheres que compõem a Associação dos Artesãos de Coqueiro Campo. “Isso é um marco fundamental para nós e vai ficar na história daqueles que vierem. Vamos deixar um legado para nossos filhos”, comemorou a artesã.
Para o secretário de Estado de Cultura, Angelo Oswaldo, a proteção da arte da cerâmica é vital para a região. “O mais impressionante e significativo é a diversidade da produção autoral. O Jequitinhonha está repleto de mestres, sendo notável exatamente pela originalidade das criações”, ressalta Angelo.
O modo de fazer e as expressões artísticas do artesanato do Vale do Jequitinhonha somente são possíveis diante da existência do ofício de artesã, e que, na região, é predominantemente desempenhado pelas mulheres, cujos conhecimentos e técnicas de produção cerâmica são transmitidos de geração em geração. Esse ofício exige uma série de conhecimentos tradicionais, e todo o processo aprendido é atualizado na medida em que as artesãs experimentam, pesquisam e criam suas próprias estruturas e formas de fazer o artesanato em barro sem, contudo, deixarem de seguir a tradição.
Um dos elementos importante e definidores do artesanato do vale do Jequitinhonha é a existência de várias tonalidades de barro. Esse conjunto de cores está disponível na natureza, mas sua aplicação nas obras é fruto de contínuo aprimoramento e experimentação das artesãs e artesãos, que ao longo do tempo buscaram a criação de distintos pigmentos. A pintura das peças demonstra o profundo conhecimento dos artistas em relação às cores, pois a coloração da peça final somente é adquirida depois que a peça vai ao forno, ou seja, pinta-se de uma cor, sabendo que ela terá outra após a queima.
Agora, o Artesanato em barro do Vale do Jequitinhonha: saberes, ofício e expressões artísticas é o sétimo bem cultural de natureza imaterial junto com o Modo Artesanal de Fazer o Queijo da Região do Serro (2002), à Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Chapada do Norte (2013), à Comunidade dos Arturos (2014), às Folias de Minas (2017), às Violas e ao quilombo Manzo Ngunzo Kaiango (2018).
Artesãs do Jequitinhonha na última reunião do CONEP 2018 – Foto: Acervo/Iepha-MG
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(Fonte: Iepha-MG)