Três anos após o rompimento da Barragem Fundão em Mariana, considerado o maior desastre ambiental da história do Brasil, os impactos da tragédia ainda são sentidos pelas cidades e regiões cortadas pelo Rio Doce.
Com quase 280 mil habitantes, as consequências são sentidas em segmentos diferentes da cidade de Governador Valadares. Um exemplo é a Colônia de Pescadores do Leste de Minas, com cerca de 400 profissionais que têm dificuldade de exercer sua antiga profissão por conta da tragédia.
“Hoje não dá pra viver da pescaria. O peixe não tem condição de comércio. As poucas unidades de peixe que tem no Rio Doce, alguns a gente não pode nem pescar, como o Cascudo Laje e o Piau Vermelho, que tem pouquíssimas unidades. O que a gente consegue, que é tilápia, o valor do mercado, sabendo que é do Rio Doce, é muito baixo”, declarou o presidente da Colônia, Rodolfo Zulsk.
Segundo Zulsk, os pescadores sobrevivem hoje de um acordo feito para o cartão de auxílio oferecido pela mineradora Samarco. Os pescadores devidamente registrados têm direito a um salário mínimo, cesta básica e uma ajuda proporcional ao número de dependentes. Apesar disso, eles ainda encontram uma dificuldade no que diz respeito a lucros cessantes.
“O pescador não tem mais a profissão e não consegue manter o mesmo padrão que possuía antes. Existe ainda uma questão que precisa ser melhor acordada que é o valor dos lucros cessantes, precificar melhor o que os pescadores estão deixando de arrecadar por ano por não poderem comercializar peixes do rio mais”.
Quanto às questões financeiras, Zulsk afirma que pouco a pouco os pescadores tem voltado às águas do Rio Doce. “Pouco mais de um ano depois do que aconteceu, algumas tilápias começaram a chegar por afluentes e córregos e se reproduziram no Rio Doce. Então, os pescadores estão voltando às ilhas, com seus barcos, para poder pescar de novo. Muita gente ficou com problema psicológico, com depressão, porque a gente sempre pescou por amor, por gostar do que faz”.
Rio Doce em Governador Valadares — Foto: Gabriel Lordêllo/Mosaico Imagem
Acúmulo do judiciário
Em Governador Valadares, o número de processos envolvendo a tragédia abarrota o judiciário. Nessa segunda-feira começou a semana da conciliação promovida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A expectativa é que cerca de 7 mil audiências sejam feitas em mutirão durante a semana, e estima-se que mais de 70% delas sejam em busca de indenizações devido às consequências do rompimento da barragem e os danos causados ao Rio Doce.
“Esse desastre da Samarco vem trazendo demandas e mais demandas, nós temos tentado na base da conciliação resolver o maior número possível desses conflitos”, declarou o juiz Roberto Apolinário, responsável pela semana da conciliação em Governador Valadares.
No último dia 26, um termo de compromisso foi assinado para evitar a prescrição de direitos e pretensões das vítimas da tragédia. Os ministérios públicos e defensorias de Minas Gerais e Espírito Santo, o Ministério Público Federal, a Defensoria Pública da União, a Samarco, a Vale, a BHP Billiton e a Fundação Renova participaram do acordo.
Relatório aponta melhorias a serem realizadas
No final de setembro, um relatório da União Internacional para Conservação da Natureza (UICN) apontou sete pontos a serem melhorados na recuperação do Rio Doce e em questões envolvendo a vida dos impactados pelo desastre ambiental.
A análise da UICN foi conduzida pelo Painel Independente do Rio Doce e resultou em sete recomendações. Sugere-se que a Renova assuma uma abordagem de gestão adaptativa, além de desenvolver e implementar um plano de compartilhamento de dados e informações. Além disso, o relatório recomenda por mais engajamento de governos, sociedade civil e setor privado para solucionar problemas já amplamente reconhecidos, como tratamento de esgoto e desmatamento.
A Fundação Renova informou por meio de nota na ocasião que o relatório entregue foi recebido como importante instrumento para avaliar a eficiência das soluções desenvolvidas até então. “As recomendações encomendadas acolhem todas as questões chave de uma forma abrangente e colaboram para que os programas sejam robustos e efetivos”.
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(Fonte: G1 Vales/Caio Mourão)