Enquanto multidões comovidas acompanharam os velórios das primeiras vítimas do ataque de Janaúba, no norte de Minas Gerais, na sexta-feira (6/10/2017), o corpo do vigia Damião Soares dos Santos, de 50 anos, foi sepultado em uma cerimônia discreta, sem a presença de parentes, buscando ao máximo evitar a atenção – e a revolta – da cidade que passou a vê-lo como um monstro.
Vizinhos, funcionários da creche e familiares agora se perguntam retrospectivamente quem era Damião, um homem que não chamava atenção, “proseava” com os moradores da vizinhança e vendia picolés, que ele mesmo fazia, para as crianças.
O homem que planejou e levou a cabo o incêndio na creche Gente Inocente, na quinta-feira, era caçula entre os irmãos (sete mulheres e quatro homens) e cresceu em uma família humilde, porém “muito unida, trabalhadora, de coração bom”, diz sua irmã, Maria Alexandrina dos Reis Santos, de 59 anos.
Na manhã de quinta-feira, Damião chegou à creche dizendo que ia entregar um atestado médico. Ao entrar, jogou combustível em si mesmo e em quem mais conseguiu alcançar, entre crianças e funcionários, e ateou fogo. De acordo com o delegado regional Bruno Fernandes, ele chegou a abraçar algumas crianças no meio das chamas.
O ataque matou oito crianças de 4 anos e a professora Heley de Abreu Silva Batista, de 43, deixando a cidade de 72 mil moradores toda de luto. Damião chegou a ser levado para o hospital com queimaduras, mas também morreu, horas depois. Mais de 40 pessoas ficaram feridas, e algumas crianças ainda estão em estado grave devido à extensão das queimaduras. Os casos mais graves foram levados para hospitais em Montes Claros e Belo Horizonte.
Damião era funcionário efetivo da prefeitura desde 2008 e, de acordo com o prefeito Carlos Isaildon Mendes, nunca apresentara qualquer problema. Ele estava afastado da creche desde julho, primeiro de férias, e depois alegando problemas médicos.
Damião Soares dos Santos incendiou creche (Foto: Reprodução/Facebook)
Abalo
Maria foi a única familiar a comparecer à funerária para lidar com o enterro do irmão, mas nem ela nem outros parentes foram ao sepultamento.
“Estamos muito abalados. São duas dores que a gente tá sentindo. Por todas as crianças e famílias que estão sofrendo e pelo irmão. Nem velar ele podemos. Está tudo muito triste, doído”, diz Maria. “Estou com o coração esbagaçado.”
Maria diz que o irmão vinha apresentando problemas “de cabeça” que começaram depois que o pai morreu, há três anos. “Ele falava que a gente estava envenenando as coisas dele. Ele saiu da casa da mamãe, foi morar sozinho. Uma pessoas que fez o que ele fez não está certo da cabeça, não. Um homem que teve a coragem de fazer o que ele fez, tirar a vida dele e de tantas criancinhas”, diz a irmã.
“Ele era uma pessoa boa, bem humilde, bem educado, um servidor honesto. O apelido dele na família era Dão. Agora fez um erro assim…”
Damião foi enterrado no cemitério São Lucas, o mesmo que suas vítimas, mas em um horário que não coincidisse com os demais sepultamentos.
A família ficou com medo de enterrá-lo – “as pessoas estavam falando que iam pegar o corpo dele e jogar no asfalto”, diz Maria – e chegou a perguntar à funerária se seria possível uma cremação, mas não havia documentação de Damião para permitir o procedimento.
“Quero pedir muitas muitas desculpas a todas as famílias. Só peço que as pessoas entendam que a família de Damião não é culpada. Está todo mundo muito abalado. Estamos orando, pedindo paz e harmonia para todas as famílias”, diz.
Nesses últimos três anos, Maria afirma que a família praticamente não teve contato com o Damião. Ele se isolou depois de sair da casa da mãe.
Porém, reapareceu dias antes do ataque. Reaproximou-se da família, conheceu um sobrinho de 3 anos que nunca tinha visto e dormiu as duas últimas noites na casa da mãe. Reclamou que vinha vomitando muito e vomitou muito de manhã, conta a irmã. A família conversou com um psicólogo que veio atender outro parente e quis levá-lo para conhecer o Damião – mas isso já foi na manhã do ataque.
‘Premeditado’
Damião escolheu o aniversário de três anos de morte do pai para o incêndio na creche. De acordo com o delegado regional Bruno Fernandes, há outras evidências de que o ataque tenha sido “arquitetado, premeditado”: a polícia encontrou galões de combustível na casa de Damião, e dois dias antes do incêndio ele falou à família que iria morrer e que iria dar aquele “presente” aos parentes.
Para o delegado, isso esvazia a teoria de que ele poderia ter tido um surto psiquiátrico.
“Não foi um surto. Ele fez por perversidade”, acredita Fernandes. “Por covardia, resolveu se autoisolar e levar junto quem tinha pela frente. E foi tudo premeditado, até a data escolhida. Foi uma forma que ele achou de chamar atenção.”
Mas o delegado diz não ter dúvidas de que Damião tinha um transtorno psiquiátrico. “Ele tinha uma síndrome de perseguição. Achava que as pessoas estavam perseguindo-o para matá-lo envenenado”, diz.
Em 2014, Damião procurou o Ministério Público Estadual, que o encaminhou para o Centro de Atenção Psicossocial de Janaúba (Caps). “Ele busca ajuda e a ajuda é oferecida, mas ele não quer. Ele resolve por si só se tornar um homem sozinho, solitário.”
De acordo com sua irmã, Damião nunca casou nem teve filhos. A casa de dois cômodos onde morou nos últimos anos era “totalmente insalubre e inóspita”, diz o delegado. “Estava muito suja, parecia que ninguém morava lá havia muito tempo.”
Combustível em galão de sorvete
Nas buscas realizadas em sua casa, os agentes da Polícia Civil encontraram anotações de Damião com textos confusos e pouco concatenados contendo referências ao Estatuto da Criança e do Adolescente.
Uma nota da Polícia Civil chegou a falar que o vigia era “obcecado por crianças”.
“Ele gostava muito de crianças. Fabricava picolé e vendia ou às vezes até dava para as crianças na rua”, diz.
O delegado acredita que foi num galão de sorvete, “desses grandes de 10 litros”, que Damião levou a combustível na mochila para dentro da creche. O recipiente não está entre as provas coletadas pela polícia: derreteu após o fogo iniciado por Damião, que atingiu quatro salas adjacentes.
A BBC Brasil obteve acesso às salas de aula e constatou a dimensão do estrago: brinquedos e livros carbonizados no chão, parede e pisos tingidos de negro pela fumaça, e o teto praticamente todo derretido, as tiras de PVC que antes formavam o forro caídas ou penduradas, retorcidas. Alguns chinelos e sapatinhos das crianças ainda se encontram espalhados pelo chão.
A creche fica no bairro Rio Novo, na periferia de Janaúba, em uma rua de piso de chão. Após as cenas de caos e desespero durante o incêndio, a rua estava quieta no dia seguinte ao ataque. A maioria dos vizinhos conhecia Damião.
“Era um homem normal, quieto, tinha amizade com todo mundo”, relata uma moça que se identifica apenas como Juliana. “Todas as mães aqui da rua estão em choque, porque ele ficava aqui sentado na calçada e as crianças ficavam falando com ele. Nossos filhos conviviam com ele.”
Jucimar Pereira Franco, que mora em frente à creche, diz que Damião chegava mais cedo para começar o turno de vigia noturno e ficava conversando com os vizinhos.
Na quinta-feira, ele foi um dos muitos que ajudaram no socorro. Entrou na creche no meio daquele “fumação preto” e conseguiu tirar duas crianças.
“Quando peguei a segunda, parecia que não tinha mais nada segurando a pele dela”, conta Jucimar, ainda em choque. “O que levou ele (Damião) a fazer isso? É uma coisa que a gente quebra a cabeça pra tentar entender.”
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(Fonte: BBC Brasil, via G1 Grande Minas)
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