A promessa feita pela Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) de construir uma ponte sobre o Rio Jequitinhonha, em Itira, distrito de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, tem sido alvo de preocupações, revolta, indignação e reclamações de moradores da região. O caso será decidido agora pela Justiça.
A construção da ponte está incluída nas medidas compensatórias exigidas pelo governo do Estado, para liberar a construção da Hidrelétrica de Irapé, concluída em 2006, entre os municípios de Grão Mogol e Berilo, a montante do distrito de Itira. Com a entrada da hidrelétrica em funcionamento, houve uma baixa das águas, perda das praias e muita lama acumulada no local, onde o rio Jequitinhonha se encontra com o Araçuaí.
Moradores se arriscam em barcos precários (Foto: Elton Franco/Gazeta de Araçuaí)
O promotor Luís Gustavo Bortoncello, da Coordenadoria Regional das Promotorias de Justiça do Meio Ambiente das bacias dos Rios Jequitinhonha e Mucuri, afirmou que vai notificar a Cemig para assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para que a Cemig cumpra a exigência de construir a ponte de 100 metros, cuja obra está orçada em R$ 15 milhões.
Promotor diz que Cemig tem obrigação de construir a ponte (Foto: Gazeta de Araçuaí)
A informação foi repassada pelo promotor, durante reunião realizada na tarde da última quarta-feira (8) no distrito de Itira, com moradores do lugar e lideranças políticas de Araçuaí.
“Se a Cemig não cumprir a promessa, vamos ajuizar uma Ação Civil Pública contra a empresa”, advertiu o promotor.
Para ele, a construção da Barragem de Irapé provocou impactos ambientais, socioculturais e econômicos na região, principalmente nas comunidades ribeirinhas, localizadas abaixo da barragem. “A Cemig está descumprindo a obrigação de construir a ponte”, destacou o promotor.
Ele disse ainda que há uma previsão de iniciar as obras em dezembro de 2017, e que as obras deverão ser concluídas em março de 2019.
Reunião com moradores e lideranças políticas (Foto: Gazeta de Araçuaí)
Cemig dá explicações
Procurada pela reportagem, a assessoria de Imprensa da Cemig, expediu nota esclarecendo que durante a elaboração do projeto de construção da ponte, foram identificadas interferências significativas com a comunidade de Itira referentes à fase da execução das obras e ao tráfego de veículos na comunidade.
Ainda segundo a nota da Cemig, foi estudado e proposto um novo local para a implantação da ponte visando o menor impacto na área urbana e propiciando um traçado rodoviário melhor e mais seguro. “Devido a esse imprevisto, o prazo para a realização do empreendimento foi ampliado”, diz a nota.
A Cemig diz ainda que o processo de licenciamento ambiental e de desapropriação das áreas dos acessos de interligação da ponte com a estrada existente nas duas margens, bem como as demais atividades sócio ambientais necessárias se encontram em andamento.
“Tudo isso já foi feito. Já desapropriaram as áreas”, informou o radialista Elton Franco, filho do lugar.
Ela reclama que a única balsa que transportava veículos, há 10 anos está apodrecendo em uma das margens do rio. “É um descaso muito grande das autoridades com o povo do lugar”, desabafou o radialista.
Radialista Elton Franco e o barqueiro José Aparecido (Foto: Gazeta de Araçuaí)
Novela
O sonho de ver uma ponte construída no local, é uma luta antiga dos moradores de Itira e dos produtores rurais que vivem na outra margem do rio. Depois que a Cemig concluiu a Hidrelétrica de Irapé, surgiu a esperança de que finalmente o problema seria resolvido, mas ele se arrasta há anos.
“Os chefões da Cemig deveriam vir aqui para ver nosso sofrimento. Quando o rio está vazio,já chegamos a atravessar crianças nos braços,porque os bancos de areia não deixam os barcos navegarem. Se atrasamos nossas contas, eles vão lá e cortam.É um desrespeito com a gente”, desabafa o lavrador João Célio Siqueira, de 57 anos, Todos os dias ele atravessa o rio e precisa caminhar mais 8 km para chegar à fazenda onde trabalha.
“Estamos correndo risco. Dia desses fui obrigado a atravessar em um dos barcos, 500 litros de óleo para o trator. Quando o rio enche, temos de buscar outros caminhos, porque a travessia fica perigosa”, destaca o produtor rural Cleber Fonseca, de 29 anos.
Moradores se arriscam em barcos precários (Foto: Gazeta de Araçuaí)
“Roncador”
Na tentativa de minimizar os problemas gerados no lugar, a Cemig fez a obra de um enrocamento em uma das margens – uma espécie de ancoradouro, que os moradores chamam de roncador. Mas o que deveria ser uma solução virou dor de cabeça. “Ficou pior que antes”, denunciam os moradores. “Não serve para nada”, destacam.
De acordo com a Cemig, o enrocamento foi construído com o objetivo de adequar o atracadouro existente. Porém, em dezembro de 2013 houve um evento chuvoso de grandes proporções no rio Araçuaí ocasionando a destruição da estrutura
A obra, construída pela Empresa Almeida Toscano, de Belo Horizonte, deu um prejuízo de R$ 360 mil aos cofres públicos.
Onde fica Itira
Itira, também conhecida como Barra do Pontal, já foi um dos principais portos do Vale do Jequitinhonha Os canoeiros utilizavam os rios como estrada. Os alimentos chegavam por ali vindos da Bahia. Ainda hoje o porto é utilizado pelos moradores e fazendeiros para terem acesso ao lado esquerdo do Jequitinhonha.
Foi ali que Araçuaí nasceu, no encontro dos rios Jequitinhonha e Araçuaí. A sede do futuro município foi transferida para os encontros do rio Araçuaí com o Córrego Calhau, a 18 km dali, em função da expulsão das meretrizes pelo Padre José Moura Murta. Elas subiram o rio em busca de um novo porto seguro. Entretanto, Itira resistiu.
Quem chega ao lugar, logo percebe que o clima de simplicidade predomina, com ruas de terra batida e casas de alvenaria de construção rústica, à esquerda e à direita.
No centro, a secular Igreja de Nosso Senhor da Boa Vida, construída pelos escravos.O clima distante dos barulhos costumeiros das grandes cidades é contagiante. É exatamente esta tranquilidade que encanta os turistas
Itira tem cerca de 1.800 habitantes e pelo menos 800 moradias. O lugar ficou conhecido mundialmente por dar lugar, em 1998, ao cenário do filme Kenoma, dirigido por Eliane Caffé. O filme conta a história de um artesão em um pequeno povoado que tenta construir a sonhada máquina de movimento perpétuo. Entre os atores principais, Jose Dumont, Mariana Lima, Enrique Dias e Jonas Bloch.
Igreja Senhor da Boa Vida, construída pelos escravos (Foto: Gazeta de Araçuaí)
Casarão onde supostamente viveu a fundadora de Araçuaí (Foto: Gazeta de Araçuaí)
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(Fonte: Gazeta de Araçuaí)
´HAHAHA… Só em Araçuaí, a cidade do come quieto, comodismo e ainda sonhando que o Molusco de 09 tentáculos vai voltar ao poder… Araçuaí está 30 anos atrasado no tempo e, pelo que vejo, 100 futuro… Eu? Tó juntando meus panos de bunda e armando barraca em outra cidade que queira crescer… O que não é o caso do #KIAU…