Após doze anos, motorista que matou casal durante racha em Montes Claros é preso

0

Foi preso e apresentado, nesta segunda-feira (19/12/2016), um dos motoristas que participou do racha que matou os os idosos Milton Librelon e Wanita Librelon, de 70 e 69 anos. A prisão ocorreu há exatos 12 anos do acidente em Montes Claros (MG). Segundo a Polícia Civil, Daniel Luís Cordeiro Leite, hoje com 39 anos, é um dos responsáveis pela morte do casal na Avenida Correia Machado. Com o impacto, Milton e Wanita Librelon foram lançados para fora do carro, e Daniel fugiu do local.

Daniel e Rodrigo Fernando Aguiar, que está foragido, haviam sido condenados a regime fechado em primeira e segunda instância, mas aguardavam julgamento de recurso em liberdade. Em Montes Claros, onde foram a júri popular em 2012 e 2013, Daniel e Rodrigo receberam como pena 14 anos de prisão. Em segunda instância, foram julgados e condenados a nove anos. O processo corre em terceira instância e ainda não foi transitado em julgado.

O mandado de prisão contra a dupla foi expedido na última sexta-feira (16), pelo juiz Geraldo Andersen, da comarca de Montes Claros. De acordo com a PC, o regime muda por conta da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), votada em outubro deste ano, que mantém o entendimento da corte sobre a possibilidade de prisão após condenação por colegiado.

“Com a nova lei promulgada pelo STF, os réus condenados em segunda instância não mais aguardam julgamento dos tribunais superiores em liberdade. Considerando a nova regra, o juiz da comarca de Montes Claros deu mandado de prisão e conseguimos prender o Daniel. O Rodrigo ainda está foragido, mas nossa intenção é prendê-lo o mais rápido possível”, explica o delegado regional Jurandir Rodrigues.

Daniel Luiz Cordeiro foi preso em casa nesta segunda-feira (Foto: Polícia Civil/Divulgação)

Daniel nega autoria

Durante coletiva concedida pela PC nesta segunda, Daniel Cordeiro disse nunca ter se envolvido em acidente com o casal Librelon, mas depois alegou estar a 60 km/h, enquanto Rodrigo, o outro envolvido no racha, estava a 140 km/h.

“Daniel dirigia um carro modelo Passat, customizado e adaptado a corridas. Na hora do acidente, ele disputava um racha com outro condutor. Eles se chocaram contra o carro dos Librelon, no cruzamento das Avenidas João Chaves com José Correia Machado. Depois do acidente, ele tentou fugir e deu ré, quando atropelou o casal de idosos”, afirma o delegado Regional da Polícia Civil, Jurandir Rodrigues.

Ainda de acordo com a Polícia Civil, Daniel e Rodrigo respondem por homicídio doloso pelo fato de estarem disputando corrida automobilística.

“Quando um atropelamento ocasiona a morte de alguém, o condutor é acusado de homicídio culposo, quando não se tem intenção de matar. No caso dos Librelon, os condutores praticavam disputa automobilística, por isso são responsabilizados pelas mortes do casal”, explica o delegado regional Jurandir Rodrigues.

O trauma da família

O dia 19 de dezembro nunca mais foi o mesmo para a família Librelon, desde o acidente em 2004. A perda dos pais e avós para toda a família foi traumática, e o período de espera pela Justiça desgastante. A coincidência de ter a prisão de um dos autores do crime, na mesma data da morte dos pais, foi uma surpresa para a pedagoga Sermiramis Librelon. Antes de saber da notícia, a dor, ao acordar pela manhã e sentir a ausência dos pais, bateu forte.

“Publiquei na minha página das redes sociais uma foto dos meus pais, bem cedinho. Comentei sobre a falta que eles fazem a todos nós. Nem imaginava que o Daniel tivesse sido preso, só mais tarde recebi o telefonema. Nós não esperávamos mais que a prisão dos dois fosse acontecer. Para mim, o que parecia era que meus pais eram dois animais quaisquer que tivessem sido atropelados e iria ficar por aquilo mesmo. A sensação era de impunidade”, comenta a pedagoga.

A data tinha tudo para ser motivo de comemorações. Tanto pela proximidade do Natal, quanto pelo aniversário de uma das filhas do casal, que é dia 15 de dezembro. Walmíria Librelon fazia uma festa no dia do acidente, há poucos metros do local onde ocorreu a colisão. Ela mora em uma rua que dá acesso à Avenida Correia Machado e, ao saber da gravidade do estado de saúde do Milton e Wanita, ela conta que todos correram e assistiram a cena.

“Meu filho ligou para o meu marido e disse ‘o vovô morreu, o vovô morreu!’. Todos nós saímos correndo desesperados. Não dava para acreditar, eles haviam saído há dois minutos da minha casa, e depois estavam caídos no asfalto, machucados, mortos bem na nossa frente. Nunca mais consegui comemorar meu aniversário. Eu e meu irmão entramos em depressão, a dor foi muito grande”, conta Walmíria.

Além do casal Librelon, que ocupava os bancos da frente do carro, estavam no veículo dois netos e a então namorada de um deles. Thaís Figueiredo, Andrey e Frederico Librelon tiveram ferimentos leves e conseguiram se recuperar fisicamente. Thaís, hoje esposa de Andrey, conta que o trauma do acidente foi grande, mas a angústia de assistir os julgamentos talvez tenha sido maior.

“Eu tenho formação jurídica, mas para nós, que estivemos na cena, a hora de ir aos júris foi uma das mais angustiantes. A defesa dos réus tentava fazer parecer o tempo todo que o Fred estava dirigindo e que ele era quem estava em alta velocidade. Era como se tivéssemos criando uma história, como se as vítimas fossem as culpadas. Foi horrível. A nossa vontade era de nem acompanhar mais o caso. Infelizmente, apesar da prisão de um deles, a história não vai ter final feliz para ninguém”, lamenta.

(Fonte: G1 Grande Minas)

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui