Um incêndio iniciado no último dia 21 de outubro e controlado uma semana depois, no local conhecido como Fazenda Brejão, na divisa dos municípios de Coronel Murta e Itinga, no Vale do Jequitinhonha já está sendo considerado um dos maiores desastres ambientais da região.
De acordo com o Corpo de Bombeiros de Teófilo Otoni, o fogo consumiu cerca de 2.500 hectares de mata, o equivalente a 23 km, que inclui biomas do Cerrado e Mata Atlântica. A área pertence a particulares e não é reconhecida como reserva ambiental.
“Fomos acionados três dias depois que o fogo começou, por um fazendeiro da região, temeroso que o incêndio atingisse suas plantações de eucalipto”, informou o Sargento Leal, do Corpo de Bombeiros.
De acordo com o Sargento Leal, o pessoal enviado para o local – três bombeiros e 8 voluntários – não foi suficiente para controlar o fogo que se alastrou pela mata, provocando uma degradação ambiental sem precedentes.
“Eram quatro focos. Conseguimos controlar dois. O restante somente com uso de aeronave e força tarefa, já que a área é de difícil acesso. Não obtivemos apoio”, disse ele.
“No local, existem espécies da fauna em extinção, além de madeiras de lei, a exemplo de perobas, angicos, vinháticos, candeias, aroeiras. Pelas imagens de satélite podemos afirmar que foi o maior desastre ambiental aqui da nossa região, devido à extensão da área e os mananciais atingidos”, acredita Vital Moutinho, técnico em gestão ambiental e chefe do Departamento Municipal do Meio Ambiente de Coronel Murta.
A região possui várias nascentes que abastecem comunidades rurais e córregos dos municípios de Itinga e Coronel Murta. O incêndio foi controlado após uma chuva que caiu na região.
Bombeiros só foram acionados, após 3 dias de incêndio (Foto: Gazeta de Araçuaí)
Causas ainda não foram esclarecidas
O produtor rural Joaquim Roberto de Sá, da Fazenda Santa Quitéria, em Itinga, disse ao Corpo de Bombeiros, acreditar que o fogo tenha sido provocado por caçadores, mas moradores das comunidades vizinhas desconfiam. Para eles, o incêndio pode ter sido criminoso e provocado por fazendeiros interessados em limpar a mata para plantio de capim e eucalipto.
O Instituto Estadual de Florestas (IEF) informou através de sua Assessoria de Imprensa que não recebeu solicitação de aeronave para combater o fogo na região, e que o órgão prioriza incêndios em áreas de conservação ambiental do Estado. “Isso não quer dizer que não possamos deslocar uma aeronave para áreas que não sejam de conservação. Depende da relevância do caso. O Estado é muito grande. Nos períodos de março a outubro, formamos uma força tarefa para ajudar no combate a incêndios, principalmente nos parques florestais”, disse Emerson Gomes, do IEF.
O órgão informou que não possui programas específicos para recuperação de áreas degradadas por incêndios. “Dependendo do tamanho da área o proprietário pode solicitar ajuda de especialistas ou deixar que a própria natureza faça a recomposição”, informou o IEF.
Fogo atingiu área delimitada pela linha amarela (Foto: Divulgação)
Mata Atlântica no Vale do Jequitinhonha está ameaçada
Os dados atualizados e o histórico das cidades abrangidas pela Lei da Mata Atlântica podem ser acessados no hotsite ‘Aqui Tem Mata’, que foi lançado em novembro do ano passado e apresenta de forma simples e interativa as áreas remanescentes de Mata Atlântica no país.
Com opções de busca por localidade, mapas interativos e gráficos, a ferramenta está disponível para web, tablets e celulares, permitindo que os dados estejam acessíveis a qualquer usuário e podem ser reutilizados com finalidades de educação e defesa da proteção da floresta.
Municípios que mais desmatam
De acordo com os dados mais recentes do Atlas, cinco dos 10 municípios que mais desmataram a Mata Atlântica no Brasil no período 2013-2014 ficam em Minas Gerais – Estado que liderou o ranking do desmatamento por 5 anos consecutivos e que agora passa a primeira posição para o Piauí, conforme divulgado em maio pela SOS Mata Atlântica e pelo INPE.
Os municípios são Araçuaí, Jequitinhonha e Ponto dos Volantes, no Vale do Jequitinhonha e Jaíba e Águas Vermelhas, no Norte de Minas.
Área vizinha onde ocorreu o incêndio já teve cerca de 12 km desmatados para dar lugar ao plantio de eucalipto – área delimitada pela linha amarela (Foto: Divulgação)
(Fonte: Gazeta de Araçuaí/Sérgio Vasconcelos)