Durante o evento, o arcebispo do município, dom José Alberto Moura, fez críticas veladas ao Executivo Municipal que, segundo ele, não está fazendo o repasse de recursos do SUS (Serviço Único de Saúde) para hospitais
Mulheres saíram da Matriz de Nossa Senhora e São José, levando, à frente imagem de Nossa Senhor das Dores – Foto: Luiz Ribeiro/EM
Centenas de pessoas participaram, na manhã desta sexta-feira, da Procissão do Encontro, principal celebração da Semana Santa em Montes Claros, Região Norte de Minas. Mantendo a tradição, as mulheres saíram da Matriz de Nossa Senhora e São José com a imagem de Nossa Senhora das Dores, enquanto os homens partiram da Catedral de Nossa Senhora Aparecida levando a imagem de Nosso Senhor dos Passos. O “encontro” aconteceu na Praça Flamaryon Wanderley, no Bairro São José, onde, ao fazer a pregação, o arcebispo do município, dom José Alberto Moura, fez críticas veladas ao Executivo Municipal que, segundo ele, não está fazendo o repasse de recursos do SUS (Serviço Único de Saúde) para hospitais. A informação foi rebatida pelo prefeito Ruy Muniz (PRB).
O arcebispo dom José Alberto Moura abordou o combate ao tráfico e exploração de pessoas – tema da Campanha da Fraternidade 2014 : “nós temos que lutar para diminuir a exploração de uns para os outros”. Na sequência, falou sobre a importância do voto consciente. “O nosso voto é fundamental para transformar….para não eleger quem não presta e não tem condição moral e ética”, destacou.
O líder religioso criticou a falta da aplicação do dinheiro arrecadado com os impostos em setores básicos. Reclamou que, sem os investimentos necessários, “a saúde, simplesmente, está ao Deus dará”. Sem citar nominalmente o prefeito Ruy Muniz, ele afirmou: “a saúde é um dever do estado e um direito dos cidadãos. Quando se fala estado quer dizer a União, o Governo do Estado e o Município. E neste município não é feito o repasse de dinheiro para os hospitais”. “Acredito que o senhor arcebispo não está informado adequadamente. Neste ano, já foi feito todo o repasse do dinheiro destinado aos hospitais da cidade”, respondeu Ruy Muniz, ouvido na tarde desta sexta-feira.
Durante o ano de 2013, poucos meses depois de tomar posse, o chefe do executivo anunciou que não iria mais repassar verbas para os hospitais conveniados pelo SUS da forma como o repasse vinha sendo feito. Ele alegou que estava sendo feito o repasse de um total de recursos todo mês, sem avaliar a qualidade do atendimento. Assim, suspendeu a transferência de verbas e determinou que os recursos só seriam repassados com base na quantidade de procedimentos realizados, após as unidades de saúde apresentarem relatórios dos serviços prestados. Os hospitais não aceitaram a medida e houve muita polêmica. Uma das reações contrárias foi do próprio arcebispo dom José Alberto Moura, pelo fato de a Arquidiocese de Montes Claros ser responsável pela Santa Casa de Misericórdia, maior hospital da cidade.
Homens saíram da Catedral, levando cruzes e, à frente, a imagem de Nosso Senhor dos Passos. – Foto: Luiz Ribeiro/EM
Após muita polêmica, no final de 2013, o prefeito Ruy Muniz recuou e voltou a fazer o repasse dos recursos para as unidades hospitalares conveniadas pelo SUS.
Em entrevista, nesta sexta-feira à tarde, o prefeito disseque a Prefeitura está repassando cerca de R$ 15 milhões mensais para hospitais e outros serviços de saúde do município, visando o pagamento de internações, consultas, exames, cirurgias, próteses e outros atendimentos ofrecidos a pacientes do SUS. “Dos R$ 15 milhões, aproximadamente R$ 9 milhões são destinados à Santa Casa”, afirmou o prefeito. Segundo ele, por intermédio de ação judicial, aSanta Casa reclama do Município o pagamento de recursos da ordem de R$ 2,2 milhões, referente a uma “ajuda” para a manutenção do pronto socorro do hospital, cujo repasse foi interrompido na gestão anterior. “Mas, é uma dívida que está sendo cobrada na Justiça e refere-se à gestão passada. Não é da nossa administração’, argumenta o prefeito.
Demonstração de Fé
Neste ano, a Procissão do Encontro teve uma inovação: os homens, que saíram da Catedral carregando a imagem de Nosso Senhor dos Passos, também levaram cruzes de madeira, providenciadas pela própria paróquia. Após a procissão, o padre Waldomiro Machado, o frei Waldo, pároco da Catedral, permitiu que os participantes da celebração pudessem levar as cruzes para suas casas. “Cada um deve levar a cruz para a sua casa e guardá-la em um local, onde sempre possa rezar e lembrar de Jesus”, afirmou frei Waldo, surpreendendo alguns fieis, que já tinham devolvido as cruzes, colocadas no chão, ao lado do altar da igreja.
O lavrador aposentado José Cardoso de Freitas, de 84 anos, deu uma grande demonstração de fé durante a procissão. Ele foi um dos homens que carregou o andor de Nosso Senhor dos Passos debaixo do sol forte. “Faço isso desde quando era menino”, disse o aposentado, que tem seis filhos e 18 netos.
José Cardoso contou que há um mês esteve internado por causa de um problema de coração e uma pneumonia. “Fiz um pedido a Jesus para que eu pudesse participar da procissão de novo. Foi um pouco difícil, mas estou aqui de novo”, relatou o devoto. Ele disse que há décadas, anualmente, viaja para visitar o Santuário de Bom Jesus da Lapa (BA) e outras cidades religosas como Aparecida (SP) e Trindade (GO). “Antes, eu levava meus filhos. Agora, são eles que me levam”, acrescentou. (Estado de Minas)