A rotina de muita gente mudou com a chegada da pandemia do Novo Coronavírus (Covid-19) no Brasil. Não foi diferente para Gabriele Cordeiro, estudante de medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) – Campus Teófilo Otoni (MG).
A jovem retornou à casa dos pais, em Santa Maria do Suaçuí (MG), logo que começou a quarentena. Entre tantas mudanças causadas pelo isolamento na vida da Gabriele, a principal é que esse período aflorou o lado desbravador da estudante e intensificou a relação dela com a vida selvagem, mais especificamente com os insetos.
“Eu sempre gostei de ter o contato com a natureza, porém com a correria do dia a dia isso tinha ficado de lado. Agora na quarentena eu me reaproximei e é algo que traz paz. Acredito que a natureza esteja entre as coisas de maior riqueza para nós”, conta.
Desde março ela acompanha pelas redes sociais perfis que divulgam conteúdos sobre a diversidade de insetos. Bastou uma interação para descobrir a identificação de uma lagarta que fotografou no quintal, para que ela começasse a sair caçando mais insetos para clicar.
“Desde então eu passei a procurar outros insetos em casa para fotografar e observá-los minuciosamente, visto que com uma fotografia é possível enxergar o que normalmente passa despercebido”, acrescenta.
Com o celular, Gabriele começou a registrar uma diversidade de mariposas, lagartas, louva-a-deus e outros invertebrados que aparecem no jardim. Em pouco tempo o acervo se tornou robusto, e para dividir os registros com outras pessoas ela criou o “Vida ao redor”, um perfil no Instagram onde compartilha essas fotos.
Todos os dias a “caçadora de insetos” encontra uma espécie nova. Entre tantas variedades recentemente uma em especial chamou atenção dela, e de outros admiradores da natureza, uma esperança cor-de-rosa.
“Foi algo inédito, nunca tinha visto um inseto com uma cor diferente do habitual. O que mais me encantou, além da enorme beleza, foi já ser uma esperança adulta visto que a cor incomum atrapalha a sua camuflagem e, consequentemente, a sua sobrevivência”, diz.
A cor rosa na esperança é um caso denominado de eritrismo, uma condição genética em que há ausência ou diminuição de pigmentos como verde e preto e o aumento de outro pigmento que seria considerado “anormal” como o vermelho.
Gabriele Cordeiro registrou esperança rara – Foto: Gabriele Cordeiro
De acordo com Pedro Souza Dias, professor do Departamento de Entomologia do Museu Nacional, essa alteração pode ser observada em outros animais e ser manifestada em pele, pelo, pena, ovos e no caso dos insetos no exoesqueleto.
“Essa condição pode ser observada em diferentes espécies de esperanças (Orthoptera, Ensifera e Tettigoniidae), e também em gafanhotos (Orthoptera, Caelifera e Acrididae). O fato de encontrar um indivíduo assim é incomum, por se tratar de uma condição genética manifestada em poucos indivíduos de uma população. Na fase adulta talvez seja ainda mais raro porque significa que o indivíduo passou todo o período juvenil (chamamos de ninfas) com maiores chances de ser predado que os indivíduos normais, e conseguiu chegar à fase adulta.”, aponta.
O especialista afirma ainda que, apesar do inseto rosa chamar mais atenção aos nossos olhos, não existem estudos aprofundados que revelem as consequências da mutação, se o animal fica mais vulnerável ou se a cor representa um sinal de advertência que faz com que os predadores evitem a presa justamente pelo tom mais chamativo.
As fotos tiveram uma repercussão grande no Twitter da Gabriele, que busca cada vez mais compartilhar registros para atrair novos admiradores da vida selvagem.
“Meu objetivo é mostrar para as pessoas o tamanho da biodiversidade que nos cerca. Não é preciso ir longe para encontrá-la. Há uma beleza e uma diversidade extremamente encantadora perto de nós. A intenção é fazer com que as pessoas se encantem pelos animais que público, passem a olhar com mais carinho e observá-los também”, finaliza.
Foto: Gabriele Cordeiro Foto: Gabriele Cordeiro Foto: Gabriele Cordeiro
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