Pesquisadores da UFMG desenvolvem estratégia para detectar precocemente a doença renal crônica

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A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) é parceira, junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), no financiamento de uma pesquisa pioneira, focada na detecção precoce da Doença Renal Crônica (DRC) em idosos. O estudo também conta com o apoio do CNPQ e da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte.

Caracterizada por alterações nas funções renais, a doença provoca a diminuição da capacidade do órgão de filtrar o sangue e de eliminar a urina. Coordenado pela professora Sônia Soares, o projeto envolve uma equipe de pesquisadores da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em síntese, a iniciativa propõe a identificação precoce da lesão renal a partir do processamento de exames laboratoriais (sangue e urina) coletados no domicílio por profissionais habilitados e de forma gratuita.

Todas as etapas da pesquisa acontecem em visitas domicilares. O primeiro contato dos pesquisadores ocorre por meio de uma carta-convite deixado nos domicílios sorteados. Após o aceite, os idosos participantes respondem a um questionário com perguntas socioeconômicas, demográficas e clínicas. Em seguida, passam por aferição a pressão arterial, retirada de medidas antropométricas (peso, altura, índice de massa corporal, etc.) e, por fim, agendam o dia da coleta do material biológico.

O diferencial desta pesquisa, segundo a equipe, está na repetição dos exames laboratoriais após três meses, o que segue os critérios de definição da DRC proposto pelas diretrizes internacionais. “É muito importante a repetição dos exames para confirmação diagnóstica da DRC, principalmente em idosos. Isso porque, com o envelhecimento, há um declínio da função renal. Entretanto, o que se discute na comunidade científica é se essa queda da função renal é fisiológica ou patológica, secundária a doenças que se tornam mais prevalentes com o avanço da idade”, afirma a pesquisadora Patrícia Silva, doutoranda na Escola de Enfermagem da UFMG.

Após liberação dos resultados, os exames são analisados pelo médico nefrologista e integrante do projeto, Joseph Santos. Em seguida, as pesquisadoras retornam às casas dos idosos para entrega de uma cópia impressa dos exames e material educativo com informações sobre prevenção da doença e seus fatores de risco. Os casos positivos são orientados a procurar uma unidade de saúde ou atenção suplementar para que possam ser acompanhados por um especialista.

“A detecção precoce dos estágios iniciais da doença renal crônica evita que o paciente evolua para a forma mais grave, que requer tratamento dialítico”, explica Patrícia. Ainda de acordo com a pesquisadora, a falta de sintomas nos estágios iniciais da doença torna o diagnóstico mais difícil.

“Nesses casos, eles podem ser tratados apenas com modificações no estilo de vida. Por isso, a visita da equipe do projeto é importante, para evitar que o estado de saúde deles se agrave. Algumas das orientações que repassamos para os idosos são o incentivo à hidratação; prática de atividade física regular; evitar uso indiscriminado de antiinflamatórios AINES (os mais comuns ibuprofeno e diclofenaco) somente sob prescrição médica; para aqueles com DRC em estágios mais avançados evitar consumo de carambola, pois essa fruta contem uma substância nefrotóxica que lesa os rins”, reforça.

Resultados

Em 2013, deu-se início à coleta do material biológico nos domicílios e continua em andamento. Dados preliminares envolvendo 208 idosos indicaram elevado número de casos de DRC (35%). No entanto, apenas 12% sabiam que tinham a doença a partir de diagnóstico prévio da Atenção Básica ou suplementar. O percentual de consciência da DRC aumenta com a gravidade da doença, podendo-se inferir, de acordo com os pesquisadores, que é necessário adoecer para que DRC seja detectada pelos provedores do cuidado.

Frente à baixa consciência da DRC, delineou-se um projeto de extensão “De portas abertas para a Srª Saúde entrar”, com a finalidade de impactar nesse indicador. Os pesquisadores elaboraram materiais lúdico-pedagógicos e interativos, com orientações sobre fatores de risco para o desenvolvimento da doença renal crônica, diabetes mellitus e hipertensão arterial. “A pretensão é levar para a comunidade e profissionais de saúde informação de forma interativa e lúdica. Nossa preocupação é que as orientações repassadas sejam compreendidas pelo público”, destaca Patrícia Silva.

Por sorte, a servidora pública, Maria Aparecida da Silva, 62 anos, uma das voluntárias atendidas pelo projeto, não foi diagnosticada com doença renal. Por outro lado, ela recebeu o alerta para a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis. “Graças a Deus está tudo bem com os meus rins. Mesmo assim, fui aconselhada a me comportar preventivamente, evitando alguns medicamentos que alteram o funcionamento dos rins. Também fui orientada a evitar e substituir o sal pelo preparado com ervas”, conta.

Necessidade

O projeto surgiu da própria experiência profissional da pesquisadora na rede pública de saúde. “O número de pacientes que necessitam de tratamento dialítico é muito elevado. Entretanto, a oferta de vagas disponíveis na rede é insuficiente para atender a toda a demanda”, relata Patrícia Silva.

Outro fator de destaque é o pioneirismo do projeto no rastreamento precoce da doença renal crônica em idosos. “Não conhecemos outro estudo semelhante no Brasil. A inserção do profissional da saúde no domicílio abre espaço para possibilitar a intervenção na progressão da doença”, defende a pesquisadora. Por isso, ela vê na Atenção Básica da rede pública um ator importantíssimo para a detecção precoce da DRC.

Uma ação recente, em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Saúde / distrito Sanitário Noroeste, será a realização da Gestão Clínica dos casos positivos, proposta idealizada por representantes do próprio distrito. Dessa forma, será possível elaborar protocolos de identificação e manejo da DRC na rede pública, evitando o aumento de pessoas inseridas em unidades de diálise. A iniciativa também prevê a capacitação dos profissionais de saúde.

Próxima fase

É importante destacar que a etapa que envolve as visitas domiciliares na região Noroeste já está encerrada neste ano. Em 2017, para a próxima etapa, serão abertas novas vagas para os interessados em receber a visita dos pesquisadores.

Os pesquisadores reforçam ainda que, em caso de suspeita de doença renal, o idoso deve procurar a unidade de Saúde mais próxima.

O projeto de extensão “De portas abertas para a Srª Saúde entrar” orienta os participantes sobre os fatores de risco para o desenvolvimento da doença (Divulgação/Agência Minas)

(Fonte: Agência Minas)

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