Chegada do trem no Norte de Minas completa 90 anos

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A chegada do trem no Norte de Minas contribuiu para o surgimento de cidades como Janaúba, Francisco Sá e Capitão Enéas. Há exatos 90 anos, a ferrovia levava desenvolvimento e progresso para a economia regional. O serviço de transporte de passageiros foi encerrado há 20 anos.

Um dos entroncamentos importantes para a história da ferrovia em Minas Gerais está em Corinto, na região central do estado. Foi em 1904, quando a cidade era conhecida ainda como Curralinho, que foi inaugurada a estação. O local era ponto de partida de linhas para Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, e para Pirapora e Montes Claros, no Norte de Minas.

De acordo a historiadora Simone Lessa, a pretensão da Ferrovia Central do Brasil era chegar até o Rio São Francisco e ali partir até Belém do Pará, no Norte do país. Porém, as obras nunca foram concluídas e a decadência do ciclo da borracha na Amazônia, mudou os planos e os interesses passaram a ligar o Norte de Minas ao estado da Bahia.

A Estrada de Ferro Central do Brasil foi inaugurada em Montes Claros, maior cidade do Norte de Minas, em 1926, quando o município passou a ser ‘ponta de trilho’ e ficou conhecido como boca do Sertão. “Quando uma cidade se tornava ‘ponta de trilho’, abria o mercado de consumo e a imaginação. As pessoas ganhavam mais que mercadoria de fora. Assim as cidades passavam a se desenvolver e se tornavam referência para os locais próximos que ainda não tinham ferrovia” explica Simone Lessa.

As obras da ferrovia ficaram paradas na região por 10 anos em função da Segunda Guerra Mundial e crises políticas. Depois desse período, as obras foram retomadas e outras 13 estações da Ferrovia Central do Brasil foram construídas.

Uma delas recebeu o nome de Burarama e depois Estação Engenheiro Zander, que deu vida a atual cidade de Capitão Enéas. Com a chegada do trem, o comerciante Enéas Mineiro de Souza viu uma oportunidade comercial e instalou algodoeira, açougue, armazém e serraria, empregando duas mil pessoas. Em 1962, a comunidade de Sapé, que pertencia a Francisco Sá, foi emancipada e recebeu o nome de Capitão Enéas.

Janaúba é outra cidade norte-mineira que tem seu surgimento ligado a passagem dos trilhos. “O município de Francisco Sá era muito grande. A nova cidade surgiu do distrito de Gameleiras, já no momento de grande trafego na linha férrea”, afirma a mestre em ciências sociais, Maria Natividade.

Para o historiador José dos Santos, a instalação da estação ferroviária no Norte de Minas foi fundamental para exploração do comércio na região. “Antes, as mercadorias vinham pelos caixeiros. Com o trem passando pela cidade, ficou mais fácil trazer e levar os produtos. Isso fez a diferença para o avanço da economia local”, conta.

Estação Ferroviária em Montes Claros (Foto: Fábio Marçal/Prefeitura de Montes Claros)

Fim do trem de passageiros

Em setembro de 1996, o Trem do Sertão passou pelos trilhos com passageiros pela última vez. Com a privatização e a concessão para uma empresa explorar a ferrovia, somente cargas passam nas locomotivas atualmente.

O fim do trem de passageiros deixou boas lembranças e muita saudade. O aposentado Geronimo Pereira, de 88 anos, mora na zona rural de Porteirinha e lembra com carinho da época que o trem levava e trazia alegrias. “Era tudo muito movimentado. Aqui, quando o trem passava, todos paravam pra ver. E quem estava no vagão, sempre comprava alguma coisa pra comer”, relembra.

Quem também relembra com saudosismo do Trem do Sertão é a dona Aurelina dos Santos. Hoje, ela está com a visão debilitada, mas na memória tem guardadas as imagens de quando a locomotiva passava na porta da sua casa. “Aqui nós vendíamos biscoito para os passageiros. A gente entrava com os tabuleiros cheios de comida e saiam vazios. Dava uma graninha boa vender”, conta.

Um pouco da história da ferrovia no Norte de Minas está guardada na antiga estação que fica em Bocaiuva. Depois que o prédio passou para a administração municipal, ele foi reformado e ganhou por meio de doações da atual concessionária que explora a ferrovia e de ex-funcionários alguns objetos, fotos e documentos. O local foi transformado em um museu, que retrata a importância do espaço para a cidade.

“Muito do crescimento de Bocaiuva se deve pela ferrovia. Estes trilhos tem um valor para muitas pessoas, por isso esse espaço foi criado. Desde 2012, temos aqui um museu e o prédio foi tombado pelo patrimônio histórico da cidade”, conta o secretário de Cultura Anderson Cleiton.

(Fonte: G1 Grande Minas / Reportagem: Henrique Corrêa)

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