BRs 367 e 251 pedem socorro

0

Assim que foi eleito governador de Minas Gerais, em 1951, Juscelino Kubitschek (1902-1976) idealizou uma rodovia ligando o Sul da Bahia à região do Vale do Jequitinhonha, onde nasceu. Afinal de contas, era necessário honrar o slogan “Binômio: Energia e Transporte” que havia embalado sua campanha. Conhecida atualmente como BR–367, a estrada – que era sonho e vontade de integração – de fato começou a ser feita durante a gestão de JK, mas até hoje não foi concluída.

Ao contrário do que foi idealizada, a via tem funcionado como uma barreira que impede o desenvolvimento chegar ao Vale do Jequitinhonha. Ao mesmo tempo, ela mantém a região, uma das mais carentes do país, isolada. Diversos trechos ainda são de terra, sem asfalto, e as pontes da rodovia são estreitas, de madeira.

Para piorar, depois que o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) devolveu a gestão da rodovia para o governo federal, há cerca de dois anos, a manutenção não estaria sendo feita regularmente. A consequência são buracos e crateras que dificultam o tráfego, causam prejuízos ao comércio e, muitas vezes, acidentes fatais.

Na BR–367, entre Almenara e Jacinto, veículos leves e pesados se arriscam sobre pontes de madeira estreitas e sem proteção lateral (Foto: Omar Freire / Divulgação)

Fragmentação

O problema é similar na BR–251. Projetada para ligar o Nordeste a Goiás, passando pelo Vale do Jequitinhonha, a rodovia também nunca foi concluída. Hoje, ela é fragmentada e não existe como uma via linear. Em Minas Gerais, é composta de quatro trechos distintos, que alternam pavimentação e terra. Obras para completar as ligações entre os trajetos já existentes nunca saíram do papel.

O resultado é uma dificuldade imensa para quem circula por lá. “A estrada está terrível, praticamente não tem como andar. É comum chegar gente aqui, achando que a via tem asfalto, e dar de cara com essa poeira toda. Não tem jeito, é um acidente atrás do outro”, relata o comerciante João Carlos Rodrigues, 72, de Almenara.

Acidentes

Segundo a Polícia Rodoviária Federal, em 2015 a BR–251 teve 370 acidentes, com 36 mortos. Já na BR–367, próximo a Araçuaí, foram 76 batidas graves e 12 óbitos, conforme a Seds.

Problema piorou, dizem moradores

Proprietário de duas pousadas em Araçuaí e Itaobim, ambas no Vale do Jequitinhonha, o turismólogo Pedro Lages, 29, encara pelo menos três vezes por semana os 70 km da BR–367 entre as duas cidades e garante: nunca viu a rodovia tão ruim como agora. “Nos últimos seis meses, ela está abandonada. Já teve momentos ruins, mas, como agora, eu nunca vi, está intransitável”, diz.

Para a pedagoga Juliana Amaral, 32, moradora de Pedra Azul, é injustificável que a BR–251, entre sua cidade e Almenara, no Norte de Minas, não seja asfaltada. “Quando não chove, é uma poeira só. Se chove, vira um lamaçal. Ou seja, é intransitável em qualquer época”, critica.

O empresário Paulo César de Assis, 48, morador de Virgem da Lapa, diz que o problema é político. “A impressão que eu tenho é que os governantes preferem investir em outra região”, avalia.

Respostas

BR–251: em nota, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) afirmou que a maior parte da BR–251 está coberta por contratos de conservação. Ainda de acordo com o Dnit, o único trecho não contemplado até agora está entre Salinas, no Norte de Minas, e o entroncamento com a via MG–307 (Grão Mongol), de 122 km. Porém, ele já possui licitação em andamento.

Licitação: Para o trecho entre Grão Mongol e Montes Claros, também no Norte do Estado, segundo o Dnit, “há previsão de licitação de manutenção com ações mais robustas”. O órgão informou que já existe um projeto executivo de restauração e duplicação do segmento entre Montes Claros e o entroncamento com a MG–122.

Abrangência: Segundo o Dnit, a BR–367 “também encontra-se contemplada com contratos de manutenção em quase sua totalidade. Os trechos ainda não cobertos encontram-se aptos a serem licitados”. O departamento, porém, não informou quais são esses trechos nem quando a concorrência ocorrerá.

Falta de pavimentação causam prejuízos imensuráveis (Foto: Omar Freire / Divulgação)

(Fonte: O Tempo/João Renato Faria)

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui