Polícia diz que morte de bebê em Pirapora foi uma fatalidade

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Fernanda Emanuelly estava na porta de casa neste domingo (26/6) em Pirapora, cidade da região Norte de Minas, quando brincou pela última vez com o velotrol rosa. A menina, de apenas 10 meses, morava com a mãe, que minutos antes havia voltado do presídio, lugar onde o marido, que não viu a filha nascer, está detido por tráfico de drogas. Para a polícia, a bala que atingiu a testa da bebê tinha outra pessoa como alvo; o caso é tratado como fatalidade.

Ela foi mais uma vítima da rivalidade histórica entre moradores dos Bairros Cidade Jardim e São João, o conflito já resultou na morte de mais de 50 pessoas. Um homem de 54 anos também foi atingido. “A rixa histórica entre os bairros tem perdurado há vários anos. Em razão desse confronto, que ocorre pela disputa do tráfico de drogas, o pessoal de um bairro vai ao outro para simplesmente atirar”, explica o delegado Jeferson Leal, que investiga o caso. Pirapora tem 24 bairros, os dois onde há a rivalidade são responsáveis por 75% dos homicídios.

“A família está desolada, o casal só tinha ela de filha. Quando você mata um filho, você arranca o coração de uma mãe e de um pai. Ele conheceu a Fernanda na cadeia durante as visitas, ontem esteve no hospital, já com ela morta, e estava em choque. A mãe também teve que tomar calmante; a única coisa que ela faz é chorar”, fala um parente que prefere não se identificar.

Adolescentes detidos

Dois adolescentes, de 16 e 17 anos, foram apreendidos logo após o crime. Um deles confessou que atirou, sem a intenção de atingir as duas vítimas. A criança foi socorrida por terceiros e chegou desacordada ao hospital, já o homem foi atendido e liberado.

“Foram registrados três outros homicídios ligados à facção do Bairro Cidade Jardim. Algumas pessoas estavam aglomeradas e os autores passaram [de carro], na tentativa de atingir os supostos autores dos assassinatos ocorridos anteriormente, efetuaram os disparos e, infelizmente, acertaram a criança e o homem”, explica o tenente coronel José Rocha Araújo, da Polícia Militar.

Segundo a polícia, o suposto alvo dos criminosos estava de bicicleta, ao perceber que o grupo estava armado e iria atirar, ele saiu correndo e foi perseguido. Cerca de 20 tiros foram disparados.

O comandante do Batalhão da PM em Pirapora destaca que logo após o crime os militares tiveram dificuldades para levantar informações sobre a autoria dos disparos. “Sabíamos que as testemunhas estavam retendo informações a respeito do crime com a finalidade de revidar a agressão imposta por uma facção rival do Bairro São João”, fala.

“O adolescente que confessou foi taxativo em dizer que não executou a criança, que tem rixa com o pessoal do Cidade Jardim, inclusive há quatro meses foi alvo de uma tentativa de homicídio, provavelmente cometida pelo pessoal do Cidade Jardim e que ontem resolveu se vingar”, diz o delegado Jeferson Leal.

Apesar de ter assumido que atirou, o menor não quis entregar os comparsas e nem deu informações sobre o carro usado no crime. As armas também não foram encontradas.

Reunião para discutir rixa histórica

Por causa dos índices de criminalidade registrados nos dois bairros, está prevista uma reunião entre as polícias Civil e Militar, Poder Judiciário e Ministério Público.

“O encontro será realizado com a finalidade de colocarmos o Poder Judiciário e o Ministério Público a par das duas facções que têm estado constantemente em evidência nos Bairros São João e Cidade Jardim, mostrar quem está coordenando essas facções e ao mesmo tempo verificar a possibilidade de que sejam expedidas prisões para que possamos dar respostas aos integrantes dessas organizações criminosas e retornar com a tranquilidade desses locais”.

O menor que confessou o crime já foi apreendido por tráfico de drogas, lesão corporal, receptação, roubo e porte de arma. Já o outro adolescente, já foi detido por roubo, tráfico de drogas e lesão corporal. Ambos são investigados por envolvimento em homicídios e tentativas de homicídios.

Para o delegado, o envolvimento dos jovens com a criminalidade está ligado à falta de políticas públicas. “Nós prendemos os chefes das facções, temos desempenhado nosso papel, assim como a Polícia Militar também, mas sempre há quem os substituam. É preciso criar políticas públicas para que estes jovens tenham outra alternativa e não se envolvam com o crime”, destaca o delegado.

Criança tinha apenas dez meses (Foto: Reprodução / WhatsApp)

(Fonte: G1 Grande Minas / Repórter: Michelly Oda)

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