Espírito olímpico invade a rota dos diamantes e as veredas de Guimarães Rosa

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O Tour da Tocha se despede do Norte de Minas com a passagem por Bocaiuva na manhã desta terça-feira (10/5). A cidade é um berço de festejos religiosos. Entre eles estão a Folia de Reis de Alto Belo e as festas de São José, São Benedito, do Divino Espírito Santo e do Senhor do Bonfim. A tradição tem origem entre 1710 e 1720, quando foi encontrada uma imagem do Senhor do Bonfim na cidade.

Em direção ao sul, o comboio olímpico chega ao Circuito dos Diamantes. Cidades bucólicas, em um cenário barroco e rural, guardam verdadeiros paraísos naturais e relíquias arquitetônicas. O roteiro turístico também acolhe uma das facetas mais místicas e instigantes de Minas Gerais. Saberes populares, celebrações e tradições culturais são marcas de uma região obstinada a perpetuar a identidade mineira.

Ao pôr-do-sol, o tour chega a Curvelo, um dos pontos de partida de inúmeras expedições de João Guimarães Rosa pelo sertão mineiro. De cunho literário, o Circuito Turístico Guimarães Rosa nasceu de experiências realizadas por amantes da literatura. Curvelo, uma das cidades mais arborizados do país, ganhou fama devido a três grandes festas: a Oitava de São Geraldo, o Forró e a Exposição Agropecuária, que coincidirá com a passagem do tour pela cidade.

Casa da Glória, ponto turístico de Diamantina (Foto: Site da Prefeitura de Diamantina)

Guardião da história mineira

Becos cortam o conjunto arquitetônico de Diamantina, tombado pelo Iphan, e conduzem os visitantes até um de seus símbolos, o Passadiço da Glória. A estrutura liga, no segundo andar, duas casas setecentistas, que hoje sediam o Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O imóvel em que o presidente Juscelino Kubitschek viveu é hoje uma das edificações mais visitadas. Próximo ao museu, a Praça da Unesco exibe um lindo painel de azulejos azuis assinado por Yara Tupinambá, em homenagem Chica da Silva – escrava alforriada que atingiu uma posição de destaque no antigo Arraial do Tijuco.

A Capela Bom Jesus do Matozinhos, em Couto de Magalhães de Minas, possui uma estrutura aparente de pau-a-pique. Uma pintura singela decora o forro do templo tombado. Ainda na localidade, próxima ao Rio Manso, a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição merece destaque pela delicadeza de sua ornamentação.

Os mestres artesãos

Cerâmica, lã, palha, capim dourado, madeira e até mesmo o leite viram matéria prima para arte nas mãos dos mestres artesões do Alto Jequitinhonha. Predominante em todas as localidades, o artesanato e a culinária tradicional, além de garantir autonomia financeira e inclusão social, são bens simbólicos de Minas Gerais.

Ofícios artesãos trazem a identidade local e as influências das culturas portuguesas e afro-indígenas de cada canto da região. Os tapetes arraiolos, bordados em lã na portuguesa tela juta, podem ser encontrados no Mercado Velho de Diamantina. A técnica europeia resulta em exóticos desenhos geométricos e clássicos, mobilizando pelo menos 2 mil artesãos.

Couto de Magalhães de Minas guarda, além das bonecas de palha, a arte da réplica. A madeira é talhada até se formar miniaturas de clássicos automóveis dos séculos XIX e XX.

Cercado por quedas d’água

Com cachoeiras espalhadas por todos os lados, a natureza se faz generosa no Alto Jequitinhonha. O visual exuberante dos parques do Biribiri e do Pico do Itambé e do Rio Preto é acompanhado pela mística das pinturas rupestres, relíquias deixadas pelos pré-históricos.

A Cachoeira da Fábrica, em Couto Magalhães, se destaca entre as várias corredeiras do Rio Manso. O afloramento de água azul é conhecido como Água Santa pela crença de ter poderes curativos.

No coração da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, Diamantina, além de ser um divisor de dois dos principais biomas brasileiros – mata atlântica e o cerrado -, é também um dos maiores centros de endemismo de espécies de animais e plantas da América do Sul. Diamantina ainda integra o Parque Nacional das Sempre-Vivas, local onde são encontradas as pequenas flores típicas da região.

Paisagens de Guimarães Rosa

De cunho literário, o Circuito Turístico Guimarães Rosa nasceu de experiências realizadas por amantes da literatura. É destinado àqueles que querem ver, no cerrado e sertão mineiro, os cenários da obra e vida de João Guimarães Rosa (1908-1967).

Em suas obras, inclusive em sua maior referência literária (Grande Sertão: Veredas), Guimarães Rosa fala sobre os costumes, a fauna e a flora encontrados na região e em tantas outras nos estados de Minas Gerais, Bahia e Goiás. Com riqueza de detalhes, o escritor mineiro descreve tudo o que vê, sobretudo a flora local, na qual sobressai o ipê amarelo no meio do preto das queimadas e os frutos.

Das nove cidades que integram o circuito turístico, uma delas é Curvelo, ponto de partida para várias expedições do escritor e do seu companheiro Manuel Nardi, lendário vaqueiro que conviveu com Guimarães Rosa e inspirou a criação do personagem Manuelzão.

Curvelo em festa

Os eventos festivos também fazem a fama de Curvelo em todo o país, a exemplo do forró. A festividade, que chega à sua 36ª edição em 2016, é realizada no primeiro final de semana do mês de julho e dura quatro dias.

O evento atrai inúmeros turistas de várias regiões do país e recebe shows de artistas de renome nacional, concursos de música e barracas com pratos típicos. O forró também dita o ritmo de festas concorridas nas cidades de Inimutaba e Presidente Juscelino.

A Expô Curvelo é outro evento de destaque. Com foco na agropecuária reúne, todos os anos, milhares de pessoas no parque Antônio Ernesto de Salvo. Além de atrações musicais e outras atividades culturais, as exposições de gado e leilões também são destaques.

Ode a São Geraldo

Dentre os festejos religiosos, destaca-se a Oitava de São Geraldo. No final do mês de agosto e início de setembro, o evento atrai milhares de fiéis para oito dias de celebração na basílica dedicada ao padroeiro das mães e filhos erguida em Curvelo.

A Basílica de São Geraldo teve sua construção iniciada por holandeses no começo do Século XX. As pinturas do santuário são de autoria de pintores italianos. Já os vitrais multicoloridos que retratam a vida dos santos foram fabricados tanto no Brasil quanto na Holanda.

Um fato interessante é que a basílica é a segunda maior do mundo em homenagem a São Geraldo, sendo que a primeira está localizada em Muros, na Itália.

Inaugurada em 1877, a Matriz de Santo Antônio está localizada na região central de Curvelo, na Praça Tiradentes, e é outra construção imponente que atrai a atenção dos visitantes.

História preservada

Quem quiser conhecer um pouco mais da história curvelana pode visitar o Centro Cultural de Curvelo. O espaço está sediado na antiga Estação Ferroviária, reformada para abrigar um museu, áreas multimídia, galeria de arte e biblioteca especializada em literatura infantil.

Outro ícone da cultura curvelana é o grupo de seresta Encontro com a Saudade, formado por idosos que buscam a musicalização artística da melhor idade para proporcionar à comunidade arte, cultura e conhecimento do repertório musical mineiro.

(Agência Minas)

1 COMENTÁRIO

  1. Parabéns, Diamantina!
    __Que a gota de fé que há em nós seja sempre superior ao Oceano de Circunstâncias contrárias que há ao nosso redor.
    Você não é uma gota no Oceano…é um Oceano inteiro numa gota…
    No Vale Jequitinhonha!…

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